Entrevista a Rita Rocha: A Miúda do 319
Passou do anonimato para ouvir as suas canções passarem na rádio, inscreveu-se num programa de música na televisão, sem nunca ter cantado à frente de alguém, o seu segundo concerto foi no MEO Marés Vivas, sem conhecer este festival, e coleciona êxitos e colaborações com nomes incontornáveis no mundo da música portuguesa. Esta é a Rita Rocha.
Uma rapariga com 17 anos, que tem uma sede de fazer mais, melhor e diferente, contagiando e inspirando todos os que estão à sua volta. A Mais Superior esteve à conversa com a Rita para levantar o véu sobre as novidades que tem preparadas para 2024.
Num dia és uma rapariga de 14 anos que canta maravilhosamente e concorre a um programa de TV e no outro ouves o “Mais ou Menos Isto” passar na rádio… Como é que foi ouvir uma criação tua a passar na rádio e a ser cantada por toda a gente?
O primeiro impacto foi surreal! Eu chorei, a minha mãe e o meu pai choraram…, Mas a realidade é que, hoje em dia, se ouvir uma música minha na rádio, penso: “Yeah, está a dar na rádio!!!”. Apesar de eu sempre ter adorado música e ter adorado cantar, tinha muita vergonha de fazê-lo em público. A primeira vez que os meus pais me ouviram cantar foi no The Voice e aí já era demasiado tarde para me dizerem para eu não ir (risos), mas, até esse momento, nem eles sabiam como é que eu cantava. O The Voice foi o primeiro contacto que eu tive com a música, por isso, ouvir agora as minhas canções passarem na rádio é uma sensação única. Nem consigo explicar. (…)
Falas demais e ao mesmo tempo és muito tímida em entrevistas, brincas com letras e dás a volta aos números e apesar de toda esta ginástica, se há coisa que não combina contigo é o desporto… És mesmo o 8 e o 80?
Sou mesmo o 8 e o 80… E em todos os parâmetros da minha vida! No desporto sou mesmo uma nulidade, não é para rimar, é mesmo a realidade. Na minha vida geral, eu sou realmente o 8 e o 80 e isso está espelhado nas minhas canções, aliás, foi o que eu tentei transmitir no meu primeiro EP: “A Miúda do 319” e, é o que eu vou tentar continuar a fazer com as próximas canções que vou lançar.
Gostava muito que todos os adolescentes se identificassem com as minhas canções, porque a adolescência traz mesmo estes picos de emoção repentinos. Na realidade, tento fazer com que as minhas canções sejam transversais a todos/as os/as que são o 8 e o 80, seja em que idade for.
No fundo, eu também sou uma adolescente a viver todas as questões típicas da minha idade, com o acréscimo de tudo o que advém desta vida profissional.
Estes dois aspetos da minha vida trazem muito stress e com a dificuldade acrescida de, muitas vezes, não saber como lidar com todas estas emoções, o que resulta em picos de emoção constantes… É, de facto, um caminho atribulado entre o 8 e o 80.
Escreves sobre o amor e é ele quem te inspira, mas sem histórias de amor conhecidas, onde é que vais buscar a tua inspiração?
90% das minhas músicas são autobiográficas e se prestarmos muita atenção ao que eu digo, ouve-se, por exemplo: “O que não começa, não acaba”, ou seja, nunca nada começou. De facto, falo sobre a minha vida, mas em que nunca nada aconteceu, sou apenas eu a pensar sobre o que poderia ter acontecido. Entretanto, desde o “Mais ou Menos Isto”, já aconteceu uma coisa ou outra e vêm aí músicas que podem “destruir” pessoas, se calhar… (risos).
Dos palcos do The Voice, saltaste para palcos de renome nacional como o MEO Marés Vivas. Quando te surgiu este convite, o que é que te passou pela cabeça?
Vou ser honesta: Nunca tinha ido ao MEO Marés Vivas, nem fazia ideia o que era. Eu era mesmo uma croma, não tinha noção da dimensão até chegar ao dia. Este foi o meu segundo concerto com banda! Só me apercebi da dimensão e do número de pessoas a assistir, no preciso momento em que entrei no palco.
Acho que até parei, por um bocadinho, de cantar… Mesmo no ensaio, olhei para o espaço e pensei: “Ok, isto tem muito espaço, mas pode estar meio vazio…” Por isso, quando entrei em palco e vi tanta gente, fiquei em choque e um bocadinho (bastante) nervosa. Foi uma realidade muito diferente daquela a que eu estava habituada. (…) Este, para além de ter sido um dos meus primeiros concertos, foi o primeiro momento em que eu vi tanta gente a cantar o “Mais ou Menos Isto” – que tinha sido lançado recentemente – e foi, sem dúvida, um dos momentos mais especiais da minha vida. Chorei imensas vezes neste concerto, nem estava a acreditar que aquilo estava de facto a acontecer.
Falando no teu EP, porque é que este se chama “A Miúda do 319”?
Eu sou a miúda do 319! O número da minha porta é o 319 e a primeira ideia genial da Bárbara Tinoco surgiu assim: “Ó Rita, tu moras em que porta? 319. Então, o teu EP vai ter de se chamar ‘A Miúda do 319’” – e, assim ficou – aliás, a Tinoco tem sempre uma ideia genial atrás de outra ideia genial, por isso ficou decidido. Foi o nome perfeito para começar a minha jornada no mundo da música. Eu sou, de facto, a miúda do 319 e cada canção é uma parte de mim.
Depois de um EP repleto de colaborações especiais, chega-nos o tema “Amigos com Benefícios”. O que é que nos podes dizer sobre esta canção? Fala-nos de um amor diferente?
Estou muito orgulhosa desta canção! Esta é a primeira canção que faz a transição entre as músicas do meu EP e as novas que eu vou lançar a seguir. Sinto que as pessoas gostaram muito do “Mais ou Menos Isto” e do “Outros Planos” e eu fico mesmo feliz por isso, mas agora o meu objetivo é fazer uma coisa diferente que as pessoas também gostem. Não vou jogar pelo seguro e fazer coisas iguais. Estou constantemente a desafiar-me.
O “Amigos com Benefícios” é uma passagem entre “O que não começa, não acaba” – a versão apaixonada da Rita Rocha -, e uma etapa um pouco mais adulta, talvez mais profunda e menos conto de fadas. O próprio título da canção refere que vou falar de amigos com benefícios e não sobre como é tão bom estar apaixonada. Achei que esta canção era a melhor forma de eu voltar e demarcar-me da ideia romântica sobre o amor.
Estou muito ansiosa por mostrar tudo o que tenho feito este ano e espero que o público goste da mesma forma que gostou do meu EP. Esta é a primeira vez que eu me mostro como compositora, para além do “Judo” e estou muito ansiosa por colocar cá fora, tudo o que tenho guardado há tanto tempo.
O que é que podemos esperar para 2024?
Podem esperar muitas surpresas!
Sinto que não conseguimos nada sem desafios e, por isso, estou constantemente a desafiar-me em todos os aspetos da minha vida. O que vai chegar em 2024, acho que ninguém vai estar à espera, mas, apesar disso, desejo que seja uma boa surpresa e não uma desilusão (risos). Tenho trabalhado mesmo muito, decidi fazer 50 canções nestes últimos 4 meses e, na realidade, fiz 54, para selecionar apenas 13 para um álbum, e, ainda assim, estou constantemente a criar mais e a fazer alterações e substituições.
Com isto, para além de me desafiar pessoalmente, quero também desafiar as pessoas que me ouvem. Posso ter muitos defeitos, mas sou muito trabalhadora e gosto de arriscar. Acho que quando se tem estas duas características, a probabilidade de correr bem é muito maior do que quando não se faz nada. Para mim, as coisas não caem do céu e se não for eu a fazer por elas, mais ninguém faz por mim. Acho que as próximas canções refletem muito isto, refletem partes da minha vida, partes da minha pessoa e das minhas amigas – como não podia deixar de ser.
Acima de tudo, estou muito orgulhosa, porque tenho dado o meu máximo e as coisas têm estado a correr muito bem.