The Black Mamba faz uma mistura única de blues e rock, com uma pitada de soul e muito funk. Num encontro casual entre os ritmos experientes do baixista Ciro Cruz, das batidas únicas do baterista Miguel Cascais e da criatividade vocal de Pedro Tatanka que se faz acompanhar pela alternância de tons únicos da sua guitarra, chega-nos uma banda com uma energia frenética, que chama qualquer tipo de público para dentro do concerto, ao envolver os amantes de música numa festa que só esta banda consegue organizar.
The Mamba King foi o terceiro e último álbum lançado pela banda. A Mais Superior falou com Miguel Casais e Pedro Tatanka que nos revelaram futuras novidades.
Os The Black Mamba têm um grande mediatismo no soul, funk e blues. Sentem que, de alguma forma, trazem uma nova onda musical a Portugal, algo que dá destaque também a esses estilos musicais em concreto?
Miguel Casais (MC): Fazemos uma fusão genuína de vários estilos musicais.
Pedro Tatanka (PT): Vivemos numa era de muita música eletrónica, processada, reproduzida, afinada, editada. E há muito público a querer ouvir as guitarras, as baterias com as imperfeições que têm, as vozes não afinadas com as imperfeições que têm e isso contagia as pessoas.
Sentem que esses estilos musicais estão negligenciados em Portugal?
MC: Portugal está saturado do mainstream.
PT: Não sinto que negligenciado seja o termo. As bandas continuam a atuar e criar bem sem qualquer tipo de negligência. Às vezes é o holofote que está apontado para outro lado. Mas não há mal nenhum. É o que é, as modas mudam, os gostos mudam.
Como se descrevem como The Black Mamba? Se tivessem de se apresentar, como o fariam?
PT: Somos os The Black Mamba e trazemos muito soul, vibe e muita garra para as pessoas que nos vêm ver ao vivo.
Quem não conhece bem o nosso trabalho avalia e identifica-nos mais pelos nossos singles mais pop, depois quando chegam aos nossos concertos têm uma surpresa. Temos muita vontade de agradar e contagiar as pessoas quando atuamos ao vivo. É isso que nos caracteriza. Desde o primeiro minuto que chamamos o público para cantar, bater palmas e interagir connosco para fazer um show entre todos, não só um show de quem está a cantar e a tocar. Se não for o público nós também não fazemos nada, mantemo-nos no estudiozinho, em casa, para a mãe e a avó gostarem.
Como costumam ser os vossos momentos de inspiração e criação?
MC: Geralmente, o Pedro é que já traz a canção e todos juntos limamos as arestas e damos o toque de The Black Mamba.
Pedro, de onde vem a tua inspiração?
PT: Há muitas fontes. Uma é darmo-nos muito bem, termos uma química musical interessante que têm vindo a ser desenvolvida nos últimos tempos.
Fizemos uma tour no final do ano de 2018 por Londres, Cambridge, Amesterdão… E lá não há regalias, mordomias, vais lá como começaste a tocar aqui (Portugal), nos botecos, sem colunas de jeito, sem amplificadores, bons instrumentos… Fazes quinhentos metros com caixas às costas para montar o espetáculo… E isso fortalece muito a química. Pelo menos em Londres e Cambridge correu tudo muito bem, tínhamos o material todo, mas em Amesterdão já tínhamos algo muito primata (risos). Íamos do show com uma vibe de entrosamento tão grande que foi algo incrível.
É como uma relação amorosa ou de amizade que se vai construindo, ganhando elos de ligação, conhecendo-se cada vez melhor e criando esta química que transparece para as pessoas que vêm ver. O mais importante é a honestidade, a genuinidade.
“Temos muita vontade de agradar e contagiar as pessoas quando atuamos ao vivo”
O público no estrangeiro é diferente do português?
MC: Cada público reage de forma diferente. Em Londres as baladas e músicas mais intimistas não resultam tão bem, a malta quer é dançar, quer músicas mais mexidas, mais funk, mais animação. Cambridge e Amesterdão também. Foi a loucura.
PT: É um desafio. Eu relembro esses dias como as primeiras vezes que tocámos. Ninguém nos conhece, ninguém vai para os concertos a pensar: “Eih! Gosto mesmo destes gajos, vai ser mesmo fixe!”. Isso não existe, não conhecem a nossa estória e tens de conquistar todos os dias de raiz. É tudo uma questão de perspetiva: aqui (Portugal) já todos te conhecem, já vão com a perspetiva que vão gostar. Lá conquistares as pessoas já é mais difícil, tens mesmo de te aplicar para chamares as pessoas para dentro do concerto. É bom aprender outra vez a andar.
Gostam mais desse desafio?
PT: É diferente. Teres uma plateia assim a cantar contigo é incrível.
Mas lá aprendes outra vez a cantar, que é fixe. É bom para percebermos que nada está tomado como garantido, nada é garantia de nada. Daqui a dez anos podem não gostar dos The Black Mamba e estamos outra vez no Bairro Alto a tocar uns covers.
E sentem diferenças de público entre regiões de Portugal?
MC: A região Norte é calorosa, reage logo, é incrível. Mas temos sido sempre bem recebidos, temos tido uma ótima aceitação do público. Mas no Norte reagem mais. Não é que nos outros sítios não estejam a gostar… Por exemplo, na zona oeste o público é um pouquinho mais tímido. São engraçadas estas diferenças.
Em cada álbum deram uma essência diferente. Sentiram necessidade de não ter uma linha fixa de criação?
PT: As primeiras músicas que fizemos foram muito inconscientes, muito propositadas, às vezes um bocado incoerentes em termos de estilos musicais conjugados num mesmo disco. À medida que cresces e amadureces começas a conseguir estabelecer o que queres para ti e para as pessoas. Fazes coisas com vinte anos que depois não fazes com trinta. Fazes menos asneiras.
Fiquei com uma ideia na cabeça em Amesterdão. Estivemos na Red Light District em Amesterdão durante seis dias e a tocar para aí cinco dias seguidos e só encontrámos cromos, só personagens! (Risos) Uma pessoa vê coisas que nunca viu na vida e tudo me deu inspiração. A minha ideia para o próximo disco é irmos para Amesterdão e escrever uma estória da Red Light District. É uma zona muito boémia e tens sempre uma nova inspiração a cada dia, podes contar as estórias das outras pessoas. Os nossos trabalhos têm sido muito autobiográficos e ficámos com a ideia de que a vibe foi tão fixe lá que tínhamos de fazer algo com aquilo. Provavelmente o próximo disco será uma estória na Red Light District.
“Uma pessoa vê coisas que nunca viu na vida e tudo me deu inspiração”
Já estão a trabalhar nesse disco?
PT: Em Amesterdão já começámos a fazer umas improvisações fixes que já foram um bom mote para o álbum.
Durante todos estes anos, o que é que vos mantém juntos?
MC: Uma grande amizade, uma empatia musical, o amor pela música e não só. Divertimo-nos muito juntos e há uma grande química musical. É como se fosse um casamento, quando encontras parceiros e há química é continuar.
PT: Mesmo quando uma pessoa está cansada e recebe esta energia, recarrega as energias todas e já está todo cheio de “pica”. É uma realimentação que acontece. Se o público se mostrasse desinteressado ficávamos desmotivados, assim já queremos fazer um disco e tudo, é algo circular.
Que mais projetos nos traz os The Black Mamba num futuro próximo?
MC: Vamos estar nos Coliseus, nos dias 5 e 11 de outubro. Depois vamos fazer uma mini tour em trio como regresso às origens. Começamos em trio com baixo, guitarra e bateria.
Vamos também durante alguns meses andar por salas pequenas e auditórios num regresso às origens.
[Foto: Tiago Leite]