Bruno Fonseca tem 33 anos, é natural da Covilhã e começou a desenvolver a sua startup aos 27 anos, enquanto tirava o mestrado em Design de Comunicação na Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco. A Agroop é a startup desenvolvida por Bruno, criada para desenvolver uma agricultura mais sustentável, ajudando a garantir que, nas próximas décadas, Portugal continue a ter culturas saudáveis.
A Mais Superior falou com o Bruno para perceber que tipo de mudanças traz este projeto inovador.
Como surgiu a Agroop?
Durante a conclusão do meu mestrado em Design de Comunicação na Escola Superior de Artes Aplicadas do Instituto Politécnico de Castelo Branco, fui trabalhando enquanto freelancer em vários projetos paralelos, sendo que um deles se prendia com o rebranding da marca de uma empresa agrícola situada perto de Castelo Branco, mais concretamente em Idanha-a-Nova.
Grande parte do meu trabalho de rebranding passou por conhecer com mais detalhe o dia-a-dia de uma exploração agrícola, nesse sentido fui criando uma relação de grande confiança com o Ricardo, o dono da exploração agrícola. Foi o Ricardo quem me falou pela primeira vez na relevância e no valor que a tecnologia poderia aportar ao seu trabalho. Fiquei, desde então, bastante interessado em aprofundar esta temática da chamada “Agricultura de Precisão”.
Fazendo alguma pesquisa de mercado percebi que as maiores empresas no mercado apresentavam ainda modelos de negócio conservadores, tecnologia bastante antiquada e interfaces muito pouco centradas no utilizador. Além disso, sempre considerei que o setor agrícola é dos poucos setores que não nos podemos dar ao luxo de negligenciar, uma vez que a procura alimentar só terá tendência a aumentar em correlação direta com o aumento da população Mundial. A agricultura terá forçosamente de se adaptar às condicionantes externas e acredito firmemente que a única forma de o fazer é através do uso eficiente das novas tecnologias.
O que te motivou a criares a startup?
Segundo a FAO (Food and Agricuture Organization of the United Nations) em 2050, a população Mundial atingirá as 9 mil milhões de pessoas e, portanto, é expectável um aumento das necessidades alimentares em cerca de 70% nas próximas três décadas.
O que me motivou e motiva é o facto de saber que estamos a trabalhar para ajudar a garantir a sustentabilidade alimentar do nosso planeta, contribuindo não só para uma agricultura mais eficiente e produtiva, mas também para uma poupança efetiva de recursos como água e energia. Estamos a ajudar os nossos agricultores a produzir mais e melhor, com menos.
Aqui está um testemunho concreto.
A Agroop foi criada com a ajuda de outros elementos ou criou a startup sozinho?
Penso que ninguém pode dizer que criou uma startup sozinho. Se tivéssemos no plano das ideias, talvez, mas não quando temos de materializar e colocar mãos-à-obra. Se não fosse pelo trabalho árduo de toda a nossa equipa, o apoio incessante dos nossos investidores e o conhecimento e experiência dos nossos brilhantes advisors e stakeholders, não tenho a mínima dúvida que a Agroop não existiria de todo.
O meu único trabalho é garantir que todas estas frentes estão alinhadas e motivadas. Garantir que o barco continua a navegar rumo a um destino traçado, independentemente das tempestades, seres mitológicos e ventos desfavoráveis, que muitas vezes nos obrigam a desvios e adaptações de última hora.
Que passos foram dados para a criação da Agroop?
O primeiro passo, foi o de escolher os cofundadores, ou neste caso, o fantástico cofundador da Agroop, o Bruno Rodrigues – uma pessoa com uma ética de trabalho, responsabilidade e honestidade enormes.
Depois de constituirmos esta equipa inicial, candidatámo-nos ao programa “Passaporte para o Empreendedorismo” que nos permitiu financiar o projeto durante o primeiro ano de existência. Findo este primeiro período, procurámos encontrar os primeiros investidores e com o apoio de familiares abrimos empresa.
Já com a empresa criada, procurámos mais investimento para construirmos, numa primeira fase, uma equipa com pendor mais técnico (desenvolvimento de produto) e posteriormente uma equipa com um pendor mais comercial (vendas, suporte e marketing).
Neste momento, estamos na chamada fase de product market fit onde já foi validada a tração do nosso produto e consequentes propostas de valor. Agora vamos entrar na fase scale-up onde a prioridade passa por encontrar os melhores canais de venda para escalar e internacionalizar o negócio.
Quais foram as maiores dificuldades que tiveste nesta criação? Que barreiras tiveste de quebrar?
A maior dificuldade tem sido a obtenção de investimento para alicerçar uma estratégia de longo prazo que nos permita manter o foco no desenvolvimento de um produto e processo inovadores. É natural que os investidores queiram obter retorno do seu investimento o mais rapidamente possível e, portanto, há sempre uma grande pressão para gerar retorno a curto prazo. Como as empresas precisam de cash-flow para sobrevivem, há uma grande pressão para responderem aos imensos desafios que os potenciais clientes procuram ver resolvidos e, portanto, há uma grande tendência para desenvolver um ou vários produtos que resolvam muitos problemas em simultâneo. Isto cria, no nosso entender, uma grande entropia não só ao próprio desenvolvimento do produto, como uma enorme barreira à escalabilidade do mesmo. É como tentar fazer mudanças de casa tendo uma casa com muito mais mobiliário. É um processo muito mais lento, penoso e custoso.
Temos tido a sorte de conseguirmos até ao momento manter o foco num produto simples e com grande potencial de escalabilidade e isso deve-se ao facto de termos conseguido obter investimento significativo até ao momento, contudo é sempre um processo complicado, que exige muito tempo e disponibilidade, principalmente da minha parte.
Quais as ajudas que tiveste?
Até ao momento temos contado com um enorme apoio, principalmente, por parte dos nossos investidores e/ou advisors; contudo a participação em alguns prémios de empreendedorismo e programas de aceleração, assim como a projeção que a Agroop tem tido por parte dos meios de comunicação social têm desempenhado um papel bastante relevante no aumento do brand awareness.
Precisaste de pedir algum tipo de financiamento para o projeto? Por que meio de financiamento optaste?
Até ao momento a Agroop obteve mais de 1 Milhão de euros de investimento, sendo que a grande maioria foi proveniente de 4 campanhas de equity crowdfunding na plataforma luso-britânica Seedrs. A Agroop foi a primeira startup portuguesa a explorar este novo canal de financiamento ainda em 2015 e até ao momento é a recordista nacional de campanhas bem-sucedidas, tendo tido o apoio de mais de 600 investidores de mais de 35 nacionalidades distintas.
A Agroop foi criada com que finalidade?
A Agroop foi criada com o intuito de contribuir para uma agricultura mais sustentável, ajudando a garantir que nas próximas décadas continuaremos a ter culturas saudáveis a crescer nos nossos campos e comida saborosa sobre as nossas mesas.
Onde podemos encontrar e aceder a esta startup?
Todos os interessados podem entrar em contacto connosco através do site da Agroop, aqui.
[Fotos: Cedidas pelo entrevistado]