É necessário reinventar a educação. É urgente reformular o ensino. O que propõe a UNESCO?
Em 2021, 373.109 crianças ingressaram no 1.º ciclo do ensino básico português, de acordo com os dados da Pordata. Se terminarem a escolaridade obrigatória em 2033, essas crianças passarão a maior parte da sua vida profissional na segunda metade do século XXI.
O ritmo das mudanças trazidas pelos desafios planetários colocados pelo aumento da desigualdade, das alterações climáticas, das tecnologias digitais ou do declínio da governação democrática, mostra-nos, por um lado, que a educação ainda não está a cumprir a sua promessa de desenhar um futuro pacífico, justo e sustentável; e, por outro, que há a possibilidade de estas crianças, que entraram em 2021 na escolaridade obrigatória, viverem e trabalharem num mundo radicalmente diferente do atual.
É possível imaginar um futuro com um planeta depauperado, com menos espaço para habitação humana e em que a educação de qualidade seja um privilégio das elites.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), nas palavras de Audrey Azoulay (Diretora-geral), sublinha a necessidade de tomar medidas urgentes e apresenta, como contributo para o processo de reinvenção da educação, o lançamento do relatório global Reimagining Our Futures Together: A New Social Contract for Education.
Baseado nos princípios amplos que sustentam os Direitos Humanos (inclusão e equidade, cooperação e solidariedade, responsabilidade coletiva e interconexão) o relatório propõe um novo contrato social para a educação, que visa reconstruir as nossas relações uns com os outros, com o planeta e com a tecnologia. Especificamente, as propostas de renovação da educação plasmadas no relatório passam:
(i) Pela pedagogia, que deverá ser organizada com base nos princípios de cooperação, colaboração e solidariedade;
(ii) Pelos currículos, que devem enfatizar a aprendizagem ecológica, intercultural e interdisciplinar, que apoie os estudantes no acesso e na produção de conhecimento, bem como no desenvolvimento da capacidade de criticar e aplicar esse conhecimento;
(iii) Pelo ensino, que deve ser profissionalizado, ainda mais como um esforço colaborativo, com os professores a ser reconhecidos pelo seu trabalho como produtores de conhecimento e figuras fundamentais na transformação educacional e social;
(iv) Pelas escolas, que devem ser espaços educacionais protegidos, uma vez que apoiam a inclusão, a equidade e o bem-estar individual e coletivo;
(v) Pelas oportunidades educacionais que surgem ao longo da vida e nos diferentes espaços culturais e sociais, abrangendo o direito à informação, à cultura, à ciência e à conectividade.
Sem estas mudanças, é pouco provável assegurar que as gerações futuras prosperem.
É, por isso, premente reinventar a educação. É urgente reformular o ensino. E é necessário pensarmos e agirmos juntos na construção dos futuros da educação.
Liliana Faria
Professora Auxiliar
Universidade Europeia