Tocam rock sem baixo, e dão vontade de abanar o corpo. Com um álbum chamado Bamboleio, os Pista têm uma mensagem muito clara para ti: se gostas de sair à noite para dançar, então este é mesmo o teu género de banda.
Hoje em dia, não há música que se lance que não se dance. É isto que as pessoas pedem? Música alegre e feita para curtir?
Eu acho que continuam a aparecer todo o tipo de projetos e de estilos de música. O que talvez aconteça é as pessoas tomarem mais facilmente contacto com coisas mais dançáveis, mais alegres, por ser de facto isso que mais procuram.
É como quando vamos sair à noite: podemos escolher um sítio mais descontraído para beber um copo, ou ir dançar, e se calhar há muita gente a preferir dançar. Com isso, talvez optem também por ouvir bandas mais animadas, e vê-las (e dançá-las) ao vivo.
Cada vez mais os géneros musicais se fundem uns nos outros, o que cria estilos e linguagens híbridos e associações que muitas vezes nos surpreendem. Concordas com esta afirmação? Achas que o panorama musical está mais rico por causa disso?
Penso que a fusão de estilos e a dificuldade em catalogar esta ou aquela banda é algo que acontece há vários anos, e daí também a criação de sub-estilos e de nomes que designam várias coisas ao mesmo tempo. No caso dos Pista, tenho dificuldade em dizer que somos uma banda só de rock: somos três pessoas, cada um de nós cresceu a ouvir coisas diferentes, e é natural que ideias diferentes acabem por surgir de forma natural.
De resto, às vezes consciente, às vezes inconscientemente, tentamos tornar a nossa música mais dançável. A primeira versão da Puxa era rock puro, mas bastou um arranjinho e ao fim de quinze minutos deixou de ser.
Porque queriam que fosse mais dançável?
Sim, acho que queríamos. Os primeiros temas que compus com o Bruno (quando ainda éramos só os dois) eram claramente rock, como a Pista ou a Primeira, mas entretanto já andávamos a fazer outras coisas e a curtir imenso a cena musical meio dança, meio africana. Vimos que era possível fazer da Puxa algo dentro desse género, e houve ali um click de alguém que estava a gostar realmente do que estava a criar.
“Bamboleio é a nossa interpretação de uma festa, é divertirmo-nos a fazer isto e divertir quem nos ouve.”
E a Pista e o Bamboleio remetem-nos imediatamente para isso e para o que este projeto pretende ser? Rock para abanar o corpo?
Meio meio (risos). Na altura era inspirado em bicicletas e em ritmo, e claro, também na associação com as pistas de dança, por isso sim, de certa forma já tínhamos a dança debaixo de mira, mas simplesmente ainda não o tínhamos assumido. Na altura era também muito complicado tornar isso realidade, com apenas uma guitarra e uma bateria, e com o Ernesto é que começámos a separar melhor as coisas.
Bamboleio é festa (risos). É a nossa interpretação daquilo que será uma festa, é divertirmo-nos a fazer isto e divertir quem nos ouve.
E como é fazer rock sem um baixo? O que muda na composição e na sonoridade das músicas?
De um ponto de vista técnico, muda o registo. A banda de frequências está desocupada, mudam as marcações do bombo na bateria… Mas o facto de não termos baixo deve-se simplesmente ao facto de não termos tocado com um baixista, e quando o Ernesto chegou decidimos acrescentar uma segunda guitarra e testar se sentíamos falta ou não de um baixo. E a verdade é que isso até agora não aconteceu.
Contudo, não está fora de hipótese usarmos baixo, e na Queráute (último tema do disco) usámo-lo porque sabíamos exatamente o que queríamos fazer com ele.
Os Pista investiram, para além do seu tempo e esforço, o seu dinheiro para que este primeiro álbum fosse uma realidade. Isto deita um pouco por terra aquela ideia de que, hoje em dia, é relativamente simples encontrar uma forma de editar um disco?
Eu acho que é cada vez mais fácil fazermos as coisas pelas nossas próprias mãos, se assim nos apetecer. É mais fácil fazer, registar, gravar música. Ter um computador ou um sintetizador à mão facilita a experimentação de coisas que, de outra forma, dificilmente conseguiria.
Em relação a editar um disco, temos de definir melhor o que isso é… É alojar a música no Bandcamp? Mandar produzir alguns CD’s? Podemos fazer tudo por nós próprios – o registo, a produção, a distribuição, a promoção… – mas vamos pagar do nosso bolso e vamos estar a criar pequenas ilhas no meio de um oceano gigantesco. É sempre melhor pertencermos a algo maior, uma editora com um circuito próprio e perfeitamente estabelecido. E escolher o timing certo também é importante.
É agora em 2016 que vão atacar em força a estrada e os concertos? O que têm planeado?
Sim, no final do ano passado fizemos algumas ações de promoção do disco, mas o que queremos para 2016 é mesmo tocar, tocar, tocar. Levar o nosso trabalho de norte a sul do país, e para fora dele, quem sabe!
Os festivais vão ser também uma aposta, porque faz sentido. Há cada vez mais festivais, com cada vez mais público, e muita gente chega até nós pelos concertos.
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: Vera Marmelo]