Para assinalar o Dia Nacional do Estudante , a Mais Superior entrevistou Ana Gabriela Cabilhas- Presidente da Federação académica do Porto para nos falar sobre temas que fazem parte da ordem do dia na vida dos estudantes.
1. Com todas as restrições impostas atualmente como é que a FAP pretende assinalar este Dia nacional do Estudante?
Num estudo feito pela FAP sobre o impacto do confinamento no último ano, verificou-se que cerca de 80% dos estudantes da Academia do Porto aumentaram o seu estado de ansiedade ou depressão. Nesse sentido, para assinalar o Dia Nacional do Estudante, a FAP terá 80 vasos com plantas por semear, que representam a percentagem de alunos que viram a sua saúde mental afetada, numa ação de simbólica na Avenida nos Aliados. Precisamos que cuidem dos estudantes, como quem cuida de uma planta para que cresça forte e saudável. O mote é “Plantar hoje para colher amanhã”, pois dedicar tempo a cultivar, regar e cuidar é a melhor forma de investir no futuro do país: a Educação.
No dia 24 vamos também receber no Pólo Zero o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, juntamente com as Associações e Federações Académicas a nível nacional. Em conjunto com estás, será ainda lançado um inquérito para estudar o verdadeiro impacto da COVID-19 nos estudantes a nível nacional.
2. Esta data foi promulgada pela Assembleia da República Portuguesa em 1987 para homenagear oficialmente a comunidade estudantil que lutou pela liberdade e direito à educação. Sente que atualmente os estudantes já têm uma voz mais ativa e são mais facilmente ouvidos?
Sim, o trabalho acumulado ao longo dos anos pelos muitos dirigentes associativos permite-nos hoje ser mais facilmente ouvidos e reconhecidos. Ainda assim, a nossa postura é determinante. Na FAP temos procurado ter uma voz ativa, séria e uma postura colaborativa e dialogante. Somos independes, firmes nas nossas convicções, e temos coragem para enfrentar o que nos inquieta, mesmo quando não partilham da nossa visão. Os estudantes estão sempre no centro das nossas tomadas de decisão.
3. O que simboliza para a comunidade académica ter um dia dedicado ao estudante?
O Dia Nacional do Estudante simboliza as conquistas por nós alcançadas ao longo do tempo, com destaque para a liberdade de expressão, e é esta liberdade que nos leva, a cada dia, a lutar pelo tanto que ainda temos por fazer, em particular neste momento difícil para muitos estudantes.
4. Como encara o papel dos estudantes na sociedade?
Os estudantes são motores de transformação da sociedade, verdadeiros agentes de mudança e progresso a todos os níveis da sociedade. O Ensino Superior não é apenas o local onde conseguimos um grau académico, é também lugar onde experienciamos a independência, a liberdade, a responsabilidade e a criatividade, com um propósito de construir diariamente algo positivo, que se espelhe na sociedade da qual fazemos parte.
5. Mas afinal o que é ser estudante?
Ser estudante é ter vontade de encontrar a sua paixão, o seu propósito e a forma como vai poder dar o seu contributo à sociedade. É ter o mundo nas mãos e ambicionar um lugar onde pode viver melhor. É passar por um conjunto de fases e de experiências, umas mais fáceis do que outras, mas que, sem exceção, todas ensinarão algo importante e nos deixarão memórias eternas, numa das fases mais bonitas da nossa vida.
6. Qual a importância do prosseguimento dos estudos aquando término da escolaridade obrigatória?
Não tenhamos a mínima dúvida sobre a importância da educação, desde o Pré-Escolar ao Superior. A Educação é a chave-mestra para uma sociedade melhor, com cidadãos mais ativos, capazes e esclarecidos. É esta a verdadeira obra-prima da Academia e a missão final do Ensino Superior: a formação de massa crítica que estimule o progresso social. É por isso que a FAP tem mantido o seu lema ao longo dos anos “Por uma Prioridade na Educação”.
7. Como é que o ensino pode ajudar na formação do nosso caráter e desenvolvimento interpessoal?
A entrada no Ensino Superior é a última etapa da nossa vida antes de nos tornarmos profissionais ativos. Mas é uma última etapa muito estimulante, na qual encontramos um espaço e um tempo para desenvolvemos o nosso potencial de forma integral e nos formamos pessoas completas, com convicções, valores e visão crística sobre a sociedade da qual fazemos parte. Tal pode acontecer tanto dentro como fora da sala de aula, quando abraçamos a causa do associativismo estudantil ou integramos um grupo académico, um grupo de investigação, ou uma júnior empresa.
8. Quais são as principais causas de abandono escolar e o que deveria ser feito para colmatar estas lacunas?
Antes de falar concretamente das causas, importa dizer que temos alertado a tutela para a falta de dados concretos. Sem disponibilização de dados, é muito mais difícil tratar o problema de raiz. Não tenho dúvidas de que a pandemia aumentou o risco de abandono escolar precoce pelas dificuldades económicas que assolam muitos agregados familiares e que colocam os estudantes em situações de vulnerabilidade. O insucesso escolar também poderá ser outra das causas, devido ao aumento da dificuldade em gerir a carga horária e as instabilidades do ensino online e dos processos de avaliação.
Por este motivo, precisamos de um plano nacional de combate ao abandono escolar, bem como um maior e melhor acompanhamento aos estudantes, com uma aposta na proximidade.
9. O que é fundamental para que os alunos se sintam motivados no contexto académico?
Com a pandemia de COVID-19, a saúde mental dos estudantes ficou bastante afetada, traduzida num aumento do stress, ansiedade e depressão, e ainda falta de motivação. Neste momento, precisamos que os serviços de apoio psicológico sejam reforçados, de forma a que os estudantes tenham acompanhamento psicológico para superar as dificuldades que estão a sentir. Adicionalmente, com mais inovação pedagógica, isto é, métodos de ensino-aprendizagem inovadores, podemos estimular os estudantes. Não podemos ter estudantes com desilusão a nível académico. É por isso que a FAP assumiu o compromisso de iniciar um processo de reflexão sobre um verdadeiro modelo de inovação pedagógica que responda às exigências de um estudante do século XXI. E depois, as estruturas representantes dos estudantes têm de continuar a estimular o sentimento de pertença à Academia, um dos nossos maiores desafios. No Porto, mesmo à distância temos procurado estar próximos dos nossos estudantes. Hoje, mais do nunca, continuamos a ser Academia.
10. De que forma a saúde mental dos jovens estudantes dos dias de hoje pode ficar comprometida e que tipo de apoios são ativados?
No inquérito realizado pela FAP no primeiro confinamento, 80% dos estudantes revelaram um aumento do estado de ansiedade ou depressão por causa da pandemia. Destes 80%, apenas 36% revelaram que tiveram acesso a soluções em tempo útil e acessíveis.
Nos dias de hoje, estamos a ser expostos de forma ininterrupta a fatores de stress que condicionam o estado de saúde mental, desde questões económicas, à permanência de mais do que uma pessoa na habitação, à qualidade do ensino online e instabilidade dos processos de avaliação. Para além disso, há um rótulo COVID-19 que assusta os estudantes que estão à entrada para o mercado de trabalho e um conjunto de estudantes que está privado da experiência social do ensino superior.
Têm sido disponibilizados os serviços de apoio psicológico pelos Serviços de Ação Social. Ainda assim, precisamos do reforço excecional dos serviços ou a celebração de protocolos entre as instituições de ensino superior do setor privado, de modo que seja aumentada a capacidade de resposta a pedidos de apoio.
Também precisamos de apoios públicos ao desenvolvimento de projetos na área da saúde mental com novas estratégias de intervenção, acompanhamento e monitorização do apoio psicológico aos estudantes.
11. Que dicas pode deixar aos estudantes atualmente?
A melhor dica que tenho para deixar aos estudantes é para não desistirem do Ensino Superior, porque estudar vale mesmo a pena! Na Academia do Porto, a FAP garante que vai estar sempre ao lado dos estudantes, para ajudar a superar qualquer dificuldade.