Mudam-se os tempos, mudam-se os caloiros, muda também a sociedade. A receção dos novos alunos na vida universitária é um tema cada vez mais debatido, e doutores e veteranos tentam encontrar formas de adaptar as tradições académicas a esta nova realidade. A Mais Superior foi descobrir como, uma viagem por Aveiro, Coimbra, Porto e Lisboa!
Entrar para a universidade é começar uma aventura no desconhecido. O sistema de ensino, a escola e muitas vezes até a cidade são inteiramente novos, e junta-se a isso o nervoso miudinho de enfrentar a receção ao caloiro, numa altura em que a praxe é um assunto cada vez mais delicado.
Tudo isto contribui para que seja, cada vez mais, um desafio integrar os novos universitários no seio destas comunidades. O que andam a fazer as Associações de Estudantes e as Comissões de Receção para manter viva a tradição académica? Foi isso que a Mais Superior foi tentar descobrir, num périplo por quatro dos principais centros académicos do país!
Universidade de Aveiro
Prof. Gonçalo Paiva Dias, Vice-Reitor para a área académica
“O nosso programa de acolhimento segue a linha dos últimos anos, e é feito em colaboração com a Associação Académica. Este ano, o programa é composto por duas fases: a primeira corresponde às matrículas e à disponibilização de informação sobre a vida académica, e a segunda a integração propriamente dita, com um programa que inclui, no primeiro dia, uma sessão de acolhimento, um percurso pelo campus sob o tema da sustentabilidade, e um conjunto de atividades promovidas pelos vários núcleos académicos da Universidade.
No segundo dia, os alunos visitam o seu Departamento e conhecem as pessoas do seu Núcleo de Estudantes, e são depois recebidos na Associação Académica. Por fim, o terceiro dia reserva-lhes uma visita pela cidade de Aveiro, para que se possam integrar da melhor forma na cidade.
A juntar às atividades de receção, os alunos poderão participar em várias iniciativas de integração ao longo do ano letivo.”
João Pais, Mestre do Salgado
“A nossa receção ao caloiro tem tudo a ver com a tradição e a cultura de Aveiro”
“Durante a semana das matrículas, fazemos brincadeiras rápidas e jogos de palavras para que os caloiros, apesar do receio, se possam soltar mais rapidamente. Mas é a partir da semana seguinte que a receção ao caloiro acontece verdadeiramente, sobretudo às quartas-feiras à tarde, onde não há aulas.
De resto, a Salgadíssima Trindade (os três membros do Conselho do Salgado, responsáveis por monitorizar a praxe) procura munir os alunos de alguns mecanismos de defesa, relativamente a uma praxe que, aqui em Aveiro, é muito mais leve do que, por exemplo, em Coimbra. Tudo o que fazemos na UA está de acordo com a cultura e a tradição da nossa cidade, incluindo os dois grandes momentos da nossa receção ao caloiro, onde praxamos toda a gente: o Grande Aluvião no 1º semestre, e a Roncada no 2º semestre. No primeiro caso, paralelamente à praxe, envolvemos toda a comunidade académica e fazemos uma recolha de alimentos que reverte para uma IPSS da cidade; no segundo, coordenamo-nos com o Gabinete Pedagógico para encontrar uma pessoa que precise de ajuda, e fazemos uma recolha de tampas.
Não praxamos com álcool, e quem estiver alcoolizado não pode praxar. Também não há praxe física exagerada, porque sempre defendemos uma praxe não violenta e não abusiva, que não atente contra os valores da integridade física e moral. Por fim, a praxe é facultativa, e só vai quem quer.”
Henrique Cruz, Presidente da Associação Académica
As atividades da AE
“Programámos um mês inteiro de atividades para o acolhimento e integração dos novos alunos. Começamos logo na semana de matrículas, com a apresentação da UA na sala da Associação Académica, e com a promoção do cartão de sócio da nossa associação e a plataforma de pontos que vamos lançar, que dá descontos através de vários parceiros e também nos passes gerais para a Receção ao Caloiro e para o Enterro do Ano.
Na semana seguinte, procuramos que os novos alunos percebam que este é um campus único, multidisciplinar e com várias miniculturas de curso, onde se criam interações fascinantes de se ver e difíceis de encontrar noutra universidade. Nesta fase conhecem também o seu Departamento, o seu Diretor de Recurso e o seu Núcleo de Estudantes, e desenvolvem com eles algumas atividades, antes de tomarem contacto com a Casa do Estudante, que é a sede da Associação Académica, e que tem muito para lhes oferecer.
Dinamizamos ainda as nossas festas no Bar do Estudante, a Serenata à Santa Joana (no dia 2 de outubro) e o final do período de acolhimento, com o festival Aveiro é Nosso, que vai decorrer de 4 a 8 de outubro, com vários estilos de música e a presença dos vários núcleos de estudantes com a sua barraca, onde se vive muito o espírito de curso desta universidade.”
“Há cada vez mais medo de praxar”
“A praxe de Aveiro é diferente. Está cada vez mais a caminhar para ser uma verdadeira integração, focando-se muito no espírito de cada curso, e o nosso objetivo passa por informar toda a gente que entra para a Universidade, para que decidam em consciência se querem participar na praxe ou não.
Todas as condicionantes que têm acontecido nos últimos anos relativamente à praxe contribuíram de certa forma para pôr, nas pessoas que a fazem, algum medo de serem elas as próximas visadas por uma população que tem muita tendência a generalizar as coisas. Daí que tenha partido deles próprios a suavização cada vez maior da praxe, e a aposta na praxe social, que também acaba por contribuir para amenizar a opinião da população relativamente a este tema.”
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Maria Manuel, responsável pela praxe e Dux da faculdade
As atividades
“A nossa primeira abordagem aos caloiros envolve uma espécie de peddy-paper pela faculdade, dividido em várias estações onde eles vão conhecendo os vários grupos académicos, e onde é feita a praxe. O Churrasco à Noite é organizado pela Associação de Estudantes para os novos alunos, e no dia seguinte o Cascos Paper leva-os a fazer o reconhecimento de várias zonas emblemáticas da cidade do Porto.
Fazemos ainda o Leilão do Caloiro, onde grupos de caloiros mostram os seus dotes aos doutores para que estes os ‘comprem’ e os adotem na sua família de estudantes, onde são integrados em todos os seus convívios. A visita às Caves do Vinho do Porto, o passeio de barco e o Jantar do Caloiro completam o nosso conjunto de atividades de receção ao caloiro.”
“Não é pela opinião pública que a praxe vai acabar. Os caloiros participam porque querem!”
“Temos assistido a altos e baixos na adesão dos alunos à praxe, mas acreditamos sinceramente que não é pela opinião pública, ou mesmo pela carta do Ministro do Ensino Superior, que esta prática vai acabar, até porque sempre defendemos que estas atividades não são obrigatórias e que ninguém se sente humilhado por fazer parte delas. Os alunos estão lá porque querem e porque gostam. Se acham que realmente não é assim, então perguntem-lhes e comprovem por vocês mesmos!”
Joana Oliveira, Presidente da Associação de Estudantes
“Tem de haver liberdade de escolha”
“Nota-se que a Universidade do Porto está a tentar, de alguma forma, controlar as atividades académicas. Estão a ser colocadas restrições às faculdades, tentando impedir a realização de certas atividades dentro do seu campus, e nota-se também que esse é um objetivo do Ministério do Ensino Superior, com a carta que foi emitida e com o pedido de distribuição de cartazes e de flyers sobre a praxe.
Não sendo a praxe obrigatória, entendemos que também não é correta a obrigatoriedade de não haver praxe, para que haja igualdade para ambos os lados e para que os estudantes tenham a liberdade de escolher o que querem fazer.”
Faculdade de Economia da Universidade do Porto
Pedro Vaz, membro da Comissão de Praxe
As atividades
“Um dos primeiros momentos praxísticos na FEP acontece com o cantar das músicas da faculdade, no meio de vários outros contextos de interação entre os doutores e os caloiros. Os novos alunos desenvolvem também atividades no exterior da faculdade, como por exemplo a Volta ao Mundo – que consiste na visita ao Estádio do Dragão e à baixa do Porto – a Latada e o Dia de Praia, em Matosinhos.
Para além disso, todas as quartas-feiras há uma aula de praxe, onde são passados aos caloiros os ensinamentos desta atividade, segundo o Código seguido pela faculdade, e a praxe termina com o Juramento do Caloiro, onde ele se compromete a participar em todas as atividades ao longo do ano letivo.”
“A praxe significa muito para muitos alunos”
“Nos últimos anos, tem sido construída uma pressão crescente relativamente à praxe; na FEP desenvolvemos as mesmas atividades, mas damos mais importância à consciencialização dos alunos de primeiro ano de que esta é uma praxe diferente das outras. Não é maléfica, não tem consequências negativas, e o que faz é construir um grupo de alunos e de amigos que depois se vai juntar à restante comunidade da FEP.
O próprio cartaz distribuído pelo Ministério do Ensino Superior menciona que a praxe é uma escolha, mas a imagem que o acompanha nada tem a ver com essa mensagem… É um doutor com a cabeça levantada a pisar caloiros! Está a ser feita uma campanha anti-praxe, e a praxe significa muito para muitos alunos.”
João Carneiro, Presidente da Associação de Estudantes
“Cada faculdade deve ter a autonomia de decidir como receber os seus alunos”
“Muita gente fala da receção ao caloiro sem saber muito do assunto, e daí surgem muitas generalizações. Acho que deveria caber a cada faculdade perceber que tipo de praxe é feita dentro do seu campus, e avaliar se permite ou não que ela aconteça. Na minha opinião, não faz sentido uma diretriz generalizada para todas as instituições.
Eu também não concordo com humilhações, e o que acontece na FEP é uma praxe razoável e responsável, que foi fundamental para a minha integração enquanto caloiro. Espero que possamos continuar neste caminho, e se sair alguma diretriz no sentido de o mudar, tudo faremos para nos opormos a isso.”
Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto
Tiago Oliveira, Presidente da Associação de Estudantes
As atividades
“A receção ao caloiro no ISCAP começa com a tradicional sessão de boas vindas, e com as várias Comissões de Praxe a perguntarem aos caloiros se querem participar na praxe, antes de darem início às atividades, que nunca são muito forçadas e que contam sempre com uma parte lúdica – um passeio de barco no rio Douro, uma visita às Caves do Vinho do Porto ou um piquenique dentro do próprio ISCAP – sempre tudo muito controlado e sem grandes excessos.
Apesar disso, quando o ISCAP sai à rua, fazemos um grande aparato! Somos cerca de 600 ou 700 pessoas, adoramos cantar e nunca passamos despercebidos. Somos uma comunidade muito unida, e isso nota-se, por exemplo, na altura da construção do carro para o cortejo académico, onde somos a instituição com mais caloiros e doutores dedicados a essa tarefa em toda a academia do Porto.
Pelo meio, a praxe acontece em eventos como o Cascos Paper – onde os caloiros vão descobrir a cidade do Porto – e a Festa da Receção ao Caloiro, na discoteca Via Rápida.
Para além disto, há sempre causas sociais envolvidas, com o desenvolvimento de atividades de apoio a instituições de cariz solidário.”
“Ostracizar a praxe só vai contribuir para a tornar mais obscura”
“Infelizmente, já é comum chegarmos a setembro e falarmos deste assunto por maus motivos. Na minha opinião, haveria outros assuntos mais importantes para discutir, como o Programa Retomar ou o Programa + Superior, mas de qualquer forma, a praxe praticada no ISCAP vai de encontro às recomendações do Ministro do Ensino Superior. Aliás, o facto de fazermos a praxe dentro de portas muda logo muita coisa, e permite-nos controlar as atividades que são desenvolvidas. Acredito que a praxe não vai acabar, e que ostracizá-la só vai contribuir para a tornar cada vez mais obscura.”
Universidade de Coimbra
Madalena Alarcão, Vice-Reitora
“A receção ao caloiro na Universidade de Coimbra é feita de forma articulada pela Universidade, as suas diversas Faculdades e a Associação Académica (Direção Geral e Núcleos de Estudantes). Em cada uma delas, os programas de acolhimento são muito variados, e vão desde atividades de natureza informativa a atividades mais recreativas, e em muitos casos com algumas sessões científicas. Durante o ano, e logo desde o 1º semestre, é dada uma grande atenção ao percurso do estudante, no sentido de prevenir percursos de insucesso.
Relativamente à praxe, ela é inequivocamente voluntária, conforme tem sublinhado o Senhor Reitor da UC, ao longo dos anos, no seu contacto direto com os estudantes, nos órgãos de governo da Universidade, e junto da AAC e do Conselho de Veteranos. Nenhum estudante pode sofrer qualquer tipo de limitação da sua condição de estudante (nomeadamente de participação em festas académicas, trajado) pelo facto de não participar em todas ou algumas atividades praxísticas.”
Faculdade de Direito
Miguel Simões, Presidente do Núcleo de Estudantes
As atividades
“Organizamos um conjunto de atividades lúdicas, como a nossa tradicional Febrada da Receção ao Caloiro e o Concurso Miss e Mister Caloiro de Direito. Este ano, contudo, temos uma grande novidade: uma aula de integração dos novos alunos nos planos nas metodologias de estudo da nossa faculdade.
De resto, o Núcleo de Estudantes de Direito vai também colaborar com a Associação Académica de Coimbra na organização das semanas de atividades que começaram na semana de matrículas e se estendem até à semana da Festa das Latas, de 12 a 16 de outubro. Nessa colaboração inclui-se o objetivo de sensibilizar os alunos de Direito para as temáticas do acesso ao Ensino Superior, do abandono escolar e do apoio social.”
“A praxe é cultura, é ensinar o que é Coimbra”
“O Núcleo de Estudantes de Direito procura aconselhar quem chega à universidade a escolher o meio de integração que quer, seja a praxe, a cultura, a música, o desporto ou qualquer outro. Desde os primeiros dias, procuramos dar a conhecer essa panóplia de opções aos caloiros, com o Manual do Caloiro. Claro que estudar em Coimbra é diferente de estudar no resto do país, e o que esta cidade pode oferecer de melhor aos alunos é precisamente essa variedade de escolha, vivida de uma maneira intensa e diferente.
A praxe é muito mais do que aquilo que se generaliza, é cultura, é ensinar o que é Coimbra. E eu acredito que, em Direito, as nossas Tertúlias estão muito bem servidas.”
Carla Ferreira, aluna de 4º ano de Direito e membro da Tertúlia Thémis
“Vamos fazer uma Aula Fantasma, como é tradição, e depois ajudamos a organizar o Convívio dos Melos, que é o mais conhecido em Direito, onde fazemos uma Febrada e juntamos todas as tertúlias, com o objetivo de estreitar laços entre toda a comunidade do curso.
A partir daí, têm início as atividades de cada tertúlia – no nosso caso, começamos pelas praxes de cantina, depois visitamos a AAC e descemos até à Praça da República, para que eles possam conhecer gente, fazemos jogos com abraços grátis, entre outras coisas.
Sentimos necessidade de, ao longo do tempo, mudar a praxe que fazemos. Lembro-me de ser caloira e de viver uma praxe muito mais dura do que aquilo que é feito agora, e sinceramente concordo mais com o que acontece atualmente, porque não há necessidade de ir tão longe.”
Faculdade de Ciências e Tecnologias – Departamento de Informática
Mário Balça, Presidente do Núcleo de Estudantes de Informática
“Este é um curso onde a praxe é super tranquila e onde nunca existe qualquer tipo de problema. Aqui em Informática somos caracterizados por isso mesmo, por sermos calmos, e como também temos muitos trabalhos, acaba por sobrar pouco tempo para o resto. O que fazemos resume-se a cantorias e a jogos para a malta se conhecer.
Visitamos Coimbra e a história da cidade com os novos alunos, e acabamos com um convívio. Há também uma Febrada para todo o Departamento, organizado pela malta dos Carros da Queima das Fitas, e terminamos com um Mega Convívio, que já é um clássico da nossa receção ao caloiro.
De resto, tentamos sempre ajudar cada um deles em tudo o que possam precisar para se ambientarem à cidade e ao departamento, para que exista sempre um bom ambiente em Informática.”
Faculdade de Economia
Sara Pereira, Tesoureira do Núcleo de Estudantes de Gestão
“Tentamos explicar aos caloiros a importância do Núcleo no seu percurso académico, para depois tentarmos mostrar que a praxe está longe de ser a coisa negativa que se diz por aí, e sim algo bem mais acolhedor.
O evento mais importante que organizamos é, à semelhança dos restantes núcleos de Economia da Universidade, a 42ª Noite dos Horários, que acontece a 27 de setembro, e que é a terceira maior festa académica do ano, depois da Latada e da Queima, e é onde elevamos o nosso nome e procuramos manter a nossa imagem de marca.
Paralelamente, vamos fazer um concurso de Djs online, onde o vencedor terá direito a atuar na fase inicial da Noite dos Horários.
De resto, há ao longo da praxe uma rivalidade boa e saudável entre os vários núcleos de Economia, e procuramos criar alguma picardia entre nós, para motivar os caloiros a fazer parte da praxe.”
Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa
Pedro Domingues, Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa
O trabalho com a comunidade envolvente
“Nos últimos anos, um dos objetivos tem sido anular um pouco deste isolamento da nossa faculdade relativamente ao bairro da Ajuda e à zona de Belém. Ano após ano, levamos os novos alunos a desenvolver atividades fora da faculdade e junto de instituições e associações locais, e este ano fizemos o inverso, ao convidar as associações do bairro a a desenvolverem atividades dentro da nossa faculdade. Há uma associação dedicada a pessoas com Trissomia 21 e Síndrome de Down a desafiar os caloiros para uma espécie de workshop de olaria, e pessoas autistas a dar um concerto de jazz, entre várias outras atividades.”
“Não temos nenhum problema com a praxe. Temos sim um problema com o estigma que lhe está associado”
“A praxe propriamente dita também vai acontecer, até porque não temos nenhum problema com essa palavra; temos sim um problema com o estigma que está associado à praxe. Na Faculdade de Arquitectura existe praxe, para além de outras as outras iniciativas de caráter mais cultural e científico, que aceitamos de bom grado fazer, mas que não aceitamos que sirvam de substituição à praxe.
Nesse sentido, vamos elaborar um relatório para o Sr. Ministro do Ensino Superior, com filmagens de tudo o que vai ser feito na receção ao caloiro deste ano, sem edição, nem cortes, nem medo da praxe. Queremos deixar claro que, dentro da nossa faculdade, ficamos desconfortáveis com generalizações acerca deste assunto, e achamos uma pena que possam existir alunos a deixar de participar nas atividades praxísticas por causa da comunicação negativa que tem sido dada ao tema.
Um Diretor que mudou de ideias
“A nossa praxe é intensa, suja os caloiros, tem aquelas músicas de letra mais arisca, e acontece em simultâneo com as atividades alternativas de cariz mais cultural, científico e pedagógico. Os alunos já não chegam com a mesma predisposição de outros tempos, mas tal como existe pedagogia em relação a quem faz a praxe, também existe pedagogia em relação a quem participa nela. E ao fim de um dia ou dois, os caloiros mudam completamente a sua perspetiva das coisas.
O próprio Diretor da Faculdade de Arquitectura, o Prof. João Pardal Monteiro, era abertamente anti-praxe até começar a trabalhar connosco e a ter contacto direto com as nossas atividades. Agora não só apoia, como divulga e incentiva todos os alunos a participar. É por tudo isto que fazemos questão de mostrar o que se passa aqui.”
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
Eurico Estêvão, Presidente da Associação de Estudantes
As atividades
“Este ano, recebemos a caloirada com o nosso Guia do Estudante, que tem todas as informações de que necessitam para os primeiros tempos de vida – sistema de avaliação, ação social universitária, requisição de alojamento, bolsas de estudo, títulos de transporte, e tudo sobre a Associação de Estudantes (eventos, site, sala de estudo 24 horas, etc.). Para além disso, temos coisas boas para eles no Kit do Caloiro!
Na semana seguinte, recebemo-los mais a sério, com uma churrascada, com música e muita diversão, sob a forma de uns matraquilhos humanos e de um touro mecânico. E talvez uns lutadores de sumo insuflados! Antes disso, há uma Aula Fantasma, que é uma aula fictícia onde assustamos os caloiros, e da qual saem a pensar que têm de cantar o hino nacional todos os dias, e que têm de entregar um ensaio de 300 páginas ao fim da primeira semana de aulas.
Vamos ter ainda um “rally tascas” da Tuna, onde os caloiros vão desfilar pelas tascas da Ajuda, e estamos ainda a tentar agendar uma praxe solidária.
Chegámos a ter uma coisa chamada “Corredor da Morte”, onde os caloiros eram completamente bombardeados com ovos, farinha, água, açúcar, entre outras coisas. Mas como achávamos que não fazia muito sentido, e que as pessoas não gostavam, pusemos fim a isso.
Com toda a polémica em torno da praxe, decidimos este ano abolir também a venda de bebidas alcoólicas no interior do ISCSP, e limitar as atividades mais comummente designadas por praxe.”
“A praxe é integração, não é humilhação.”
“Aqui no ISCSP, o que queremos é que os alunos tenham uma primeira experiência de contacto com a realidade do Instituto e do seu curso, onde possam divertir-se. E para isso, acredito que não precisem de estar em coma alcoólico…
Mas também acho que a forma como é feita a praxe deveria partir sempre do bom senso das pessoas. Se numa determinada faculdade, a prática fôr riscar os caloiros e enchê-los de farinha, e se eles não se magoarem, ótimo! No ISCSP, a nossa postura sempre foi proporcionar o melhor entretenimento e a melhor forma de conhecer outras pessoas, durante os dias de integração no nosso Instituto. Mudámos algumas coisas, e mudámos porque vimos que os jovens que agora chegam à universidade não se sentem acolhidos e integrados na chamada praxe mais dura. E se é para eles que é feita a praxe, então talvez a melhor forma de os motivar a participar nela seja ir de encontro às preferências deles…”
Instituto Politécnico de Lisboa
Luís Castro, Presidente da FAIPL
“O nosso trabalho na receção aos novos alunos concentra-se no evento Welcome IPL, que está dividido em duas partes: A primeira é uma sessão de boas vindas, que acontece ao longo do dia e é composta por momentos mais formais e pela atuação das Tunas do IPL; a segunda acontece à noite e é mais recreativa e informal, com muita música e boa disposição até às 4 da manhã.
Quanto à praxe, ela difere muito de escola para escola dentro do próprio IPL, e penso que a riqueza da praxe está mesmo aí. Apesar disso, nunca tivemos quaisquer razões de queixa dos alunos, muito pelo contrário. E se quando perguntamos aos alunos, eles dizem que a semana de receção ao caloiro foi a melhor, acho que isso fala por si.”
Escola Superior de Educação do IPL
Rita Mendes, Presidente da Associação Académica
“Por altura das matrículas, desenvolvemos uma semana inteira de atividades, organizadas de forma independente por cada uma das turmas, e fazemos uma Aula Fantasma para assustar um pouco a caloirada. Mas é na semana seguinte que acontece a receção propriamente dita, com atividades todos os dias, o Welcome IPL no dia 22 de setembro e uma churrascada dedicada aos caloiros.”
Daniela Sousa, Dux
“Desde o primeiro momento em que a praxe começou a ser falada na opinião pública por maus motivos, a ESE teve a preocupação de ajustar aquilo que aqui é feito para receber os novos alunos. Para nós, este momento não se chama sequer praxe, mas sim integração académica, porque é isso mesmo que fazemos, desde o primeiro dia.
Ao mesmo tempo, lembramos sempre que a participação é facultativa, e que não serão excluídos de qualquer tipo de integração, caso não queiram participar. No fundo, tentamos ao máximo que se divirtam e que aproveitem o melhor ano da sua vida académica.”
Escola Superior de Comunicação Social
Pedro Henriques, Presidente da Associação de Estudantes
“Preparamos uma série de atividades, em conjunto com os vários núcleos, para receber os caloiros – desde logo, mini-ateliês de rádio, televisão e escrita para que possam ir experimentando os vários ofícios que vão mais tarde aprender. Nas semanas seguintes, fazemos outro tipo de iniciativas para integrar os novos alunos na escola, como o Arraial da ESCS, no dia 14 de outubro.
O IPL é um exemplo daquilo que é possível fazer para integrar todo o tipo de atividades de receção ao caloiro, das mais formais às mais lúdicas. Temos a felicidade de nunca termos tido um caso problemático, e isso também se deve ao papel proativo das Associações de Estudantes, que estão sempre em cima do acontecimento.”
[Reportagem: Tiago Belim]
[Fotos: Samuel Fortunato e Tiago Belim]