A Universidade de Aveiro durante estes últimos meses esteve a desenvolver um Projeto de Promoção da Sustentabilidade e da Economia Circular na instituição. Este projeto foi financiado no âmbito das candidaturas aos Fundos 2020 do Fundo Ambiental.
Este projeto tinha como objetivos obter informação de qualidade para poder avaliar os indicadores e índices de desempenho da UA em termos de sustentabilidade e de economia circular, tratar essa informação e dá-la a conhecer à comunidade.
Apesar de este projeto ter sido desenvolvido e implementado na Universidade de Aveiro, poderá, com as devidas adaptações, ser implementado noutras instituições, públicas ou privadas.
Vítor Costa, professor e responsável por este projeto, explicou à Mais Superior a génese deste projeto, ambições e planos futuros.
De que forma teve início este projeto?
Achei que era importante, e necessário, a comunidade da Universidade de Aveiro (UA) ter mais informação e saber quais são os indicadores e índices de desempenho da UA em termos de sustentabilidade e de economia circular. Porque acredito que tendo essa informação podemos, em conjunto e informados, dar mais e melhores contributos para que a UA tenha um desempenho cada vez melhor a este nível. Entretanto, houve uma oportunidade para submeter uma candidatura a financiamento ao Fundo Ambiental para desenvolver um trabalho com esse propósito, e foi o que fizemos.
Candidataram-se aos Avisos 2020 do Fundo Ambiental, qual foi a motivação para esta candidatura, apenas financeira?
A temática em si é importante e relevante, e mesmo sem financiamento este era um trabalho que deveria ser feito, porventura até com um alcance maior. Mas, como todos temos um conjunto de atribuições e funções a desempenhar, se nos dispersamos por muitas outras coisas que gostaríamos de fazer a qualidade do que fazemos e o poder de resposta ficam comprometidos. É por isso que os financiamentos são importantes para conseguirmos recursos para alocar aos projetos, sem os quais não é possível abraçá-los e levá-los a bom porto, pois as nossas capacidades e o nosso tempo são finitos. Mas considero que o financiamento foi bem empregue, porque neste momento a UA está melhor informada e, por isso, melhor posicionada para mobilizar toda a comunidade para melhorar o seu desempenho em termos de sustentabilidade e de economia circular.
Como é que a UA se adaptou à ideologia de economia circular e sustentabilidade?
Houve um apoio muito grande da Reitoria, e este foi um projeto assumido pela UA. O Grupo para a Sustentabilidade da UA já vinha a desenvolver trabalho nesse âmbito, e tudo foi feito em estreita articulação. Os serviços da UA que deram outros contributos responderam muito positivamente e, de posse dos resultados obtidos, conseguimos compreender onde estamos bem e onde podemos estar ainda melhor, mas também onde estamos menos bem e que há boas oportunidades e razões para estar ainda melhor. As pessoas não se envolvem ativamente no que não medem, não vêm e não conhecem, e, por isso, senti que havia esta necessidade de obtenção e divulgação da informação em termos de sustentabilidade e de economia circular.
A comunidade da UA tem uma participação ativa neste projeto?
Idealmente sim, mas na verdade não foi assim. Num projeto de tão curta duração (4 meses previstos aquando da candidatura, e dois meses e meio depois de conhecido o resultado da candidatura), houve o envolvimento muito ativo e empenhado de um número restrito de pessoas e dos serviços em causa. Os resultados foram obtidos na parte final do projeto, em finais de novembro, e vamos agora trabalhar na campanha de disseminação da informação junto de toda a comunidade UA. Mas espera-se que venha a haver um grande envolvimento de toda a comunidade UA no futuro. Sem haver resultados ou uma mensagem clara e apelativa a ser transmitida, não me parecia razoável estender isto a toda a UA. Agora sim, estamos em condições de fazer uma passagem de testemunho e envolver a comunidade UA, para que todo este trabalho tenha continuação e resulte em atitudes e ações. Tudo isto são passos de uma longa caminhada, que não começou com este projeto, e que, com toda a certeza, não termina com ele.
Houve uma sensibilização ou uma prática educativa/formativa à comunidade UA relativamente à sustentabilidade e economia circular?
A UA tem algumas formações que incidem nas questões da sustentabilidade e da economia circular, mas no que se refere a este projeto, pelas razões já mencionadas, não houve um esforço deliberado em tentar incluir a comunidade, nesta fase. Isso porque a comunidade estudantil não poderia, nesse momento, contribuir grandemente para o que se estava a fazer, além de que não tínhamos informação clara e apelativa para lhe fornecer. Agora que já a temos, isso irá ser feito. Pela natureza das coisas, é importante respeitar os tempos de cada uma das fases, envolvendo em cada uma dessas fases os que podem, de facto, dar contributos para o seu desenvolvimento.
Houve medidas que foram implementadas ou propostas para um melhor desempenho global da UA?
Com certeza que sim! Foram detetadas debilidades ao nível da recolha e armazenamento da informação, ou seja, nem toda a informação é recolhida, registada e armazenada de uma forma estruturada, para que seja facilmente acessível e utilizada. Foram identificadas necessidades de melhorias, que não afirmo que resolvam todas as debilidades encontradas, e foram propostas melhorias para que essas debilidades possam ser ultrapassadas. Um trabalho deste género está sempre inacabado, e é, por natureza, sempre incompleto, e a análise crítica e a preocupação de melhoria contínua devem estar sempre presentes.
Pode-nos falar da evolução do projeto até este momento?
O projeto, em si mesmo, terminou no dia 30 de novembro, mas é algo que irá ter, com certeza, continuidade.
Para pôr em prática este projeto contaram com o apoio de outras entidades? De que forma?
Contámos com o apoio da entidade financiadora. Como, até aqui, o trabalho desenvolvido teve sobretudo a ver com a recolha e tratamento da informação, envolvendo dados da Instituição, não nos parecia adequado envolver outras Instituições. Agora sim, de posse da informação tratada, apresentada de forma apelativa e facilmente legível, pretendemos dá-la a conhecer aos fornecedores e parceiros da UA, pois a UA conta com os seus contributos para este processo de melhoria contínua. É necessário que essas entidades saibam quais as direções que a UA pretende seguir, para que possam dar os seus melhores contributos nesse sentido.
Quais os objetivos do projeto que espera alcançar ou concretizar?
Eram vários os objetivos previstos. Um deles era obter informação de qualidade para poder avaliar os indicadores e índices de desempenho da UA em termos de sustentabilidade e de economia circular, tratar essa informação e dá-la a conhecer à comunidade. Com o objetivo de, informados, todos se sintam mais parte de um mesmo movimento para melhorar o desempenho da UA nesta vertente. Isto era o que estava previsto no projeto, e que foi levado a bom porto. Obteve-se a informação possível (porque este é um processo sempre inacabado) relativa aos anos 2018 e 2019, e foram construídos quadros e gráficos apelativos com essa informação facilmente legível por todos. A informação obtida assume a forma de várias camadas, e pode ser trabalhada a diferentes níveis, sendo que para efeitos de divulgação apenas se usa a camada de mais alto nível.
O projeto teve uma duração muito curta, e a sua execução, com todos os constrangimentos associados à crise pandémica, decorreu a um ritmo muito acelerado! Contudo, conseguimos o essencial do projeto. Houve uma coisa que não foi conseguida como desejávamos, que foi a comparação dos indicadores e índices de desempenho da UA em termos de sustentabilidade e de economia circular com os de outras instituições análogas, pois não menos importante que obter valores é acompanhar a sua evolução temporal e ver como comparam com os de instituições análogas.
A UA tem um Grupo para a Sustentabilidade a trabalhar há já algum tempo e, portanto, este trabalho esteve longe de começar do zero, mas deu um impulso e um contributo importante nessa frente. Ao nível do processo de recolha da informação, o trabalho foi feito de uma forma estruturada, para que possa ir sendo progressivamente automatizado. Também o processo de armazenamento e tratamento da informação foi estruturado para ser centralizado, para que tudo aconteça de forma cada vez mais automatizada. A intervenção humana será sempre crucial, mas ao nível da afinação e refinação dos processos, e não ao nível da repetição de processos, muitas vezes com deficiências conhecidas. Este é um contributo relevante que vai muito para além dos objetivos do projeto, e que será da maior importância na sequência que for dada ao trabalho desenvolvido.
O objetivo maior é dar a conhecer a informação à comunidade UA. Com o envolvimento dos vários serviços da UA nos processos de recolha da informação, e com a divulgação dos resultados obtidos, a UA fica a conhece melhor o estado em que se encontra em termos de sustentabilidade e de economia circular. Esse processo permitiu também identificar o que está bem e o que está menos bem, porque há debilidades no processo de obtenção e registo da informação, as quais devem ser ultrapassadas. Pretende-se que o conhecimento dos resultados obtidos resulte numa contaminação positiva de toda a comunidade UA, e que as questões da sustentabilidade e da economia circular passem a estar presentes em toda a ação e atividade da UA. Pretende-se, também, que este seja um contributo para a contaminação positiva do projeto educativo, formativo, de investigação e de cooperação da UA com a Sociedade com as questões da sustentabilidade e da economia circular. É fundamental fazer chegar essa informação a todos não só como informação, mas também pela prática, sendo a sustentabilidade e a economia circular algo que se pratica, se mede, se ensina, se aprende, se estuda e se investiga. É importante que exista esta contaminação positiva de todos os que constituem a comunidade UA, e muito especialmente dos estudantes. Por terem mais anos de vida pela frente, e por terem também o maior potencial de disseminação de boas práticas de sustentabilidade e economia circular.
Considera que este projeto pode ser alargado ao município de Aveiro ou noutras instituições públicas?
De um ponto de vista estrito, não. Mas a Câmara Municipal de Aveiro é uma das entidades parceiras da UA, e é uma das entidades às quais vamos dar a conhecer o que foi feito, os resultados a que se chegou, e que ações futuras irão ser planeadas. Para que, no futuro, possamos colaborar e atuar conjuntamente, pois é através dessa colaboração e trabalho mútuo que ambas conseguirão atingir mais e melhores objetivos em termos de sustentabilidade e de economia circular. Contudo, como, até aqui, este foi um trabalho que nos levou a procurar e tratar informação dentro de portas, foi algo que fizemos sem envolver outras entidades exteriores. Portanto, nesta fase não fazia sentido ter outras instituições a colaborar na realização desse trabalho. Daqui para a frente faz todo o sentido dar a conhecer a informação e os resultados obtidos a todos os parceiros, onde se inclui o município de Aveiro, e planear e atuar em conjunto, para benefício mútuo.
Para terminar, qual é o contributo ou os contributos que ambiciona que este projeto possa vir a ter?
Reuniu-se e tratou-se a informação possível relativa aos anos de 2018 e 2019, o que permitiu avaliar a variação de 2018 para 2019. Essa informação foi tratada e está disponível para ser partilhada na sua camada de nível mais elevado com a comunidade da UA, com as entidades parceiras da UA, com os fornecedores da UA, e com a comunidade de Aveiro, e/ou outras. Isso foi conseguido! Mas muito mais importante é conseguir, a partir dessa informação, envolver toda a comunidade e todos os parceiros na persecução do objetivo de uma atividade mais sustentável e praticando cada vez mais a economia circular. Informados, e em conjunto, podemos com certeza fazer melhor. Mas o objetivo maior é que isto possa contribuir para a contaminação positiva da comunidade UA, e muito em especial dos estudantes, para que sintam que a sustentabilidade e a economia circular é algo que se pratica, se mede, se aprende, se ensina e se investiga. Para que a sustentabilidade e a economia circular sejam uma atitude e uma maneira de estar e de atuar. Para que a sustentabilidade e a economia circular passem a estar sempre presentes na vida, pessoal e profissional, da comunidade UA e, em especial, dos nossos estudantes. O maior resultado esperado está para além dos resultados obtidos até agora, e, nesse sentido, os resultados do projeto são apenas um meio e não um fim em si mesmo.
A ambição é esta, mas o incutir de uma nova cultura é algo que leva o seu tempo. Seríamos demasiado ambiciosos se pensássemos que isto leva um ano ou dois. Nós somos uma Instituição de ensino e investigação e os nossos estudantes, como todos os estudantes, aprendem muitas vezes mais com o exemplo, e com o que vêm e sentem ser a prática da instituição, que com o que se lhes pretende ensinar. Se tivermos uma prática instituída, esta passa para os estudantes e para toda a comunidade UA, como que por osmose, pela atitude, pelo exemplo e/ou pela ação.
[post_gallery]