O mundo evoluiu, as pessoas e os estudantes evoluíram. O Ensino Superior não.
Numa reflexão muito rápida e superficial, facilmente se encontram uma série de problemas graves, que condicionam o potencial do ecossistema do Ensino Superior: o próprio modelo de acesso, o financiamento insuficiente das IES, ação social desajustada à realidade atual, a problemática da mobilidade, alojamento estudantil em crise e o RJIES adamastor que parece intocável. O movimento estudantil sempre teve um papel ativo e interventivo na procura de soluções, discutidas ao longo de anos e nada parece evoluir.
Por outro lado, parece-me existir uma questão mais grave, por vezes desvalorizada, mas que condiciona todo o objetivo central deste complexo ecossistema, o ensino e formação.
O Ensino Superior em Portugal, com séculos de história, comporta atualmente mais de 380 mil estudantes. 380 mil jovens que são o futuro do país e do mundo, com um potencial brutal de desenvolvimento da sociedade nas mãos. No entanto, o ensino não mudou, continuamos a ser alvo de formatação, tal como há séculos atrás, num auditório ou sala de aulas, numa dinâmica unilateral de relação professor-estudante. É assim agora, como sempre foi, desde os primeiros anos de escola primária até ao Ensino Superior. Os modelos estão ultrapassados.
Como é possível estarmos numa era marcada pelo exponencial crescimento tecnológico e andamos ainda a usar papel e caneta, tal como penas e pergaminhos. Como é possível, no século XXI, estar-se a aprender programação informática em cadernos e não em computadores. Estamos mesmo a ser preparados para o futuro? Penso que não.
Não admira que o grau de satisfação dos estudantes no Ensino Superior esteja a diminuir, não admira, também, a redução constante das taxas de assiduidade dos estudantes às suas aulas. Vemos, constantemente, salas de aula a serem substituídas pelos quartos dos estudantes e os professores a ser substituídos por gurus americanos em canais de Youtube. E isto merece reflexão.
No mesmo sentido, aquilo que são os cursos de sucesso de hoje, não são os cursos de sucesso de amanhã. O mundo evolui e a sociedade adapta-se. O Ensino Superior não se adapta ao ritmo da evolução. Os cursos emergentes de hoje, respondem às necessidades da atualidade, mas provavelmente estão longe das necessidades daqui a 10 ou 20 anos, embora um estudante, no fim do seu ciclo de estudos, conte com 40 anos de trabalho pela frente. Estará o Ensino Superior a formar para o mundo do futuro? Temo que os estudantes estejam a sair do Ensino Superior sem preparação para o amanhã e formados para os empregos do passado.
Deixo aqui uma série de reflexões preocupantes sobre o futuro. Uma coisa posso garantir, o Futuro chegou, e os estudantes estão comprometidos e disponíveis para construir um caminho de soluções e sucesso para o amanhã.
Texto de António Alves- Presidente da Associação Académica da Universidade de Aveiro