Coleciona saltos, vitórias, recordes, medalhas e muitas competições. Nelson Évora tem a consciência de que, para atingirmos grandes marcas, devemos ter em mente grandes objetivos.
A Mais Superior falou com o atleta, que deixou vários conselhos para os jovens que querem aliar o estudo à prática de desporto. O principal? Que o façam – e se esforcem em ambas as áreas!
Sentes que o Desporto teve um importante contributo para a tua formação enquanto pessoa e profissional?
O Desporto foi extremamente importante na minha formação. É um elemento fundamental para o crescimento saudável de um jovem. Não falo aqui necessariamente de desporto de alto rendimento, de competição… E também não tem de ser aquele que eu faço, que é o atletismo. O mais importante é que todos os jovens gostem de praticar alguma modalidade.
Desde muito cedo que tenho uma veia competitiva bastante saliente. A minha paixão pelo desporto já era, desde miúdo, vocacionada para o alto rendimento.
Tinha a perfeita noção de que esta paixão ia sempre fazer parte da minha vida e ser uma das minhas grandes prioridades.
Como se concilia a competição com os estudos?
Tinha de me esforçar. Os meus pais sempre me deram toda a liberdade para fazer o que queria, só me diziam que a minha prioridade eram os estudos. Era difícil, é preciso uma base muito forte de educação e valores para conseguir conciliar ambas as vertentes. Tem de haver tempo para tudo, o que acaba por criar um sentido de responsabilidade acima do normal. Foi isso que me guiou.
Portugal ainda pode melhorar muito neste aspeto. É preciso que exista uma melhor ponte entre o desporto e os estudos. São precisas mais pessoas que informem sobre a realidade de ser desportista e de estar, ao mesmo tempo, inserido num contexto académico. Ninguém tem de ser levado ao colo, mas a verdade é que um atleta que queira estudar encontra muitos entraves. Há pessoas que não entendem a necessidade de haver um estatuto especial e até criticam. “Porque é que o exame é igual ao dos outros? Devia ser mais difícil, se ele tem mais tempo para estudar!”
A realidade do nosso país é que há muitos que deixam de lado os estudos porque se querem dedicar ao desporto, ou vice-versa – também temos atletas muito bons, com ótimos resultados, que acabam por desistir da modalidade por não conseguirem conciliar os treinos e competições com a escola. Há muito a ser melhorado.
Tens algum momento da tua carreira enquanto atleta que não consigas deixar de destacar?
São mais de 20 anos de desporto… Desde os 8 ou 9 anos que tudo começou, por isso tenho muitos momentos especiais. Destaco os Jogos Olímpicos, claro – tal como as Universíadas de Daegu e de Belgrado, onde me sagrei campeão do mundo universitário. Principalmente a prova em Daegu, já que estava a recuperar de uma lesão. Foi incrível: todo o espírito universitário envolvido, estar rodeado de pessoas que sabia que se preocupavam com a sua formação académica – e não só com o desporto. É algo que nunca esquecerei e que tem um destaque muito grande no meu pequeno museu, onde guardo as medalhas.
Qual é o primeiro pensamento que se tem ao acordar na manhã de uma competição importante?
“É o dia!” (risos). Acho que qualquer atleta que se preparou durante meses e meses para o campeonato acorda a pensar “É hoje o grande dia, tenho de estar melhor do que nunca, o mais feliz e o mais forte possível, física e mentalmente.” Há nervosismo, há borboletas no estômago… E isso é um indício importante, significa que há um grande sentido de responsabilidade!
Tens algum conselho para os jovens que pensam em praticar Desporto Universitário?
Perante a carga de trabalho que têm em termos académicos, o desporto acaba por ser um bom escape, um equilíbrio. Uma espécie de refresh do corpo e da mente, uma forma de te ajudar a concentrar melhor a atenção nos estudos. Qualquer universitário devia fazer algum desporto.
Estou feliz porque tenho assistido, nos últimos anos, a um aumento da sensibilidade para a prática do desporto em Portugal. Demos um salto qualitativo e quantitativo! As pessoas estão mais abertas ao desporto, procuram mais, vão ao ginásio. Aliás, há muito mais infraestruturas!
E os 18 metros, foram uma da resoluções de ano novo? Ou só na próxima passagem de ano?
Nada disso, não penso assim! A única coisa que desejo é saúde. Se me derem saúde, o resto eu resolvo! Esses objetivos de carreira, como passar a barreira dos 18 metros, são algo que eu ambiciono e para o qual trabalho. Mas não estou obcecado. Vivo muito bem o meu dia-a-dia – com isso no canto do meu pensamento, para trabalhar sempre motivado. Há que ter grandes objetivos, elevar a fasquia. Se fazemos bem o nosso trabalho e nos esforçamos, estamos de consciência tranquila.
[Foto: cedida pelo entrevistado]