Janeiro apresentou-se ao país com (sem Título), música que compôs e interpretou no Festival da Canção em 2018. Influenciado pelo universo de Bossa Nova e MPB, mas também grande entusiasta do jazz e da música eletrónica, o artista lançou o seu álbum de estreia no passado mês de junho – e a Mais Superior foi tentar perceber de onde vêm estes Fragmentos.
O que te deixa mais nervoso, atuar para grandes públicos ou dar concertos mais intimistas?
Por estranho que possa parecer, são os concertos mais intimistas, mais pequenos. Consigo ficar mais nervoso só por saber que uma pessoa específica está na plateia do que propriamente pelo número de pessoas que lá esteja a assistir.
No que respeita a música nacional, existe alguém em especial te inspire?
Costumo falar sempre de duas referências que são muito importantes para mim e para a minha música. Primeiro Rui Veloso, em termos da composição. Depois, na parte mais lírica e da escrita de letras, António Variações. O Rui porque tem canções que toda a gente conhece, toda a gente canta, são músicas simples e complexas, ao mesmo tempo. O António Variações porque… Pela mesma razão, na verdade! Porque, no fundo, isto é mesmo o que me atrai na arte: conseguires passar uma mensagem a muita gente, algo bastante complexo e com que as pessoas se identifiquem, mas em simultâneo muito simples e fácil de receber. É aí que mora o grande desafio.
Já no panorama internacional…
Sigo bastante o Frank Ocean. Ele tem álbuns inacreditáveis. Agora tem estado só a lançar singles, mas em 2016 lançou o álbum Blonde, que eu adoro. O John Mayer também é uma referência incontornável. A sua forma de tocar guitarra e a lírica dele, especialmente. Estas são as minhas duas grandes referências – isto, claro, para além de todo o imenso imaginário que eu tenho da Bossa Nova e MPB… Se começasse a enumerar nomes, ia ter aqui uma lista interminável!
Tens alguns hobbies dos quais não abdiques no teu dia-a-dia?
SIm, a escrita e a leitura. Acabam por ser hobbies sempre ligados à música, de alguma forma, como uma espécie de complementos. É diferente, ler prosa e depois escrever poesia. Mas estão interligados!
Se pudesses escolher quem quisesses, com quem gostavas de um dia partilhar o palco?
É uma decisão complicada, mas diria João Gilberto. É um grande intérprete de Bossa Nova e eu estou, neste momento, numa viagem por esse universo. Outra opção seria algum grande nome do jazz, como Bill Evans.
Durante o teu processo criativo, precisas de um ambiente muito calmo para te inspirares ou as ideias surgem de forma espontânea?
Normalmente surge-me uma ideia e eu vou escrevendo ou gravando tudo no telefone. Também há um grande trabalho de gestão de recursos. Por exemplo, vou buscar uma ideia que já tinha escrito há algum tempo para juntar com uma melodia que compus agora, ou pego numa canção que já fiz há 5 anos e unir essa letra a essa melodia… Funciona um pouco aleatoriamente, não é um padrão. Sair uma canção assim de rajada só me aconteceu para aí duas vezes, No meu ep de 2015 há uma em que aconteceu isso, As Duas que És. É mesmo raro, ter uma melodia e uma letra logo assim. Quando acontece, é porque é mesmo especial…
Por falar em especial, qual é a música que mais gostas de cantar nos teus concertos?
É uma questão difícil de responder… Diria talvez a Contas no Estrangeiro, porque foi a última que entrou no Fragmentos e ainda está muito vivida dentro de mim. E a (sem Título) , por motivos óbvios – foi a canção com a qual me apresentei ao país, então a malta canta muito nos concertos e isso deixa-me muito arrepiado… É uma sensação única e que te deixa mesmo emocionado, a de ver as pessoas a receberem a canção e a canção a ficar delas. Como se deixasse de ser minha e passasse a ser deles e das suas histórias de vida. É esse o meu objetivo, sempre.