O verão é sol, é praia e é, cada vez mais, um festival. A música e o convívio com os amigos são uma parte essencial das tuas férias grandes, e este ano volta a haver muito por onde escolher. O que procuras num festival, as principais tendências, a nossa seleção de eventos de norte a sul do país, e o perfil de quem os frequenta. Está tudo neste especial da Mais Superior, feito em colaboração com a APORFEST, e dedicado aos verdadeiros festivaleiros.
Em 2013 eram 127, em 2015 já eram 210, e este ano ameaçam ser ainda mais. Os festivais de música vieram mudar a face dos meses de verão, e prova disso é que, no ano passado, 1,8 milhões de pessoas marcaram presença nestes eventos. Estamos a falar do equivalente a um quinto da população portuguesa.
Mas os festivais de música precisam, como qualquer outro pedaço de entretenimento, de ser renovados e constantemente melhorados. A APORFEST – Associação Portuguesa dos Festivais de Música, reflete anualmente sobre o tema, e nós trazemos-te as suas conclusões relativas às tendências destes eventos e ao perfil do festivaleiro português. Pelo meio, tens uma seleção de 20 festivais de norte a sul do país, e entrevistas às promotoras do NOS Alive e do Super Bock Super Rock.
O que procuram os festivaleiros
Os organizadores e as promotoras estão, cada vez mais, a criar festivais que não oferecem apenas música. Mas afinal, o que procuram os festivaleiros atualmente? Ricardo Bramão é o fundador da APORFEST, e defende que quem frequenta os festivais está “muito mais exigente”. E sustenta porquê: “Hoje, o acesso à informação é global e imediato, e por isso o público exige cada vez mais e melhor. Não bastam bilhetes, cerveja barata e bom tempo, agora é preciso bem mais para cativar o público a escolher um festival, e arrastar com ele a sua rede de amigos ou família”.
Workshops, gastronomia, dança… A programação de um festival de música é hoje cada vez mais enriquecida com diferentes ofertas culturais. Contudo, segundo Ricardo Bramão, continuam a ser “a música” ou “o cartaz” os principais “fatores de atração” que levam as pessoas a marcar presença num festival.
Festivais de música em 2016: as tendências
Para lá do concerto A ou B, há muito mais a acontecer no panorama festivaleiro, em Portugal e no resto da Europa. A APORFEST publicou, no mês de março, um artigo sobre um tema interessante para perceberes para onde caminham os festivais de música.
1 – Mais palcos/dias de festival
Apesar de nem sempre existirem mais concertos, vai havendo um aumento progressivo do número de palcos e de dias nos festivais em Portugal. Um dos reflexos desta tendência é a divergência na programação de cada dia – por exemplo, estilos musicais diferentes, como foi o caso de um palco dedicado ao fado no NOS Alive;
2 – Mais chuveiros e facilidades de alojamento no festival
O nº de festivais com campismo agregado (e gratuito) em Portugal diminuiu, mas a melhoria das condições promovidas pelos promotores e/ou pelas marcas tem sido um importante ponto de fidelização de público. No MEO Sudoeste, a cozinha comunitária foi ampliada, e no campismo do Indie Music Fest passaram a existir chuveiros com água quente;
3 – Aumento do espaço de campismo
A componente de campismo conecta ainda mais os festivaleiros ao ambiente próprio de um festival, e contribui para potenciar a mística que lhes está associada. Muitos festivais têm aumentado o espaço da sua zona de campismo para proporcionar melhores condições, embora isso nem sempre seja possível, pela ocupação de espaços e pelo orçamento disponível. A edição do Bons Sons do ano passado proporcionou mais espaço para os campistas, por exemplo.
4 – Novas ofertas gastronómicas
Ainda longe do que se faz pela Europa, nomeadamente em Espanha – onde as soluções gastronómicas são muitas vezes a principal razão de ida a um festival – em Portugal estas recriações nas áreas de restauração servem para fidelizar novos públicos, e conseguir aumentar o espetro social e consumo dos seus públicos. No NOS Primavera Sound, já se podem encontrar exemplos de cozinha gourmet regional.
5 – Áreas dedicadas à família e às crianças
Cada vez mais, os festivais vão apostando na ligação às famílias, quer através de zonas específicas no seu interior, quer através da própria programação. Desta forma, as organizações destes eventos conseguem aumentar o tempo de permanência no recinto, e melhoram a probabilidade de fidelização e de recordação ao evento. Os festivais Som Riscado, Bons Sons e O Sol da Caparica, por exemplo, já contam com programação dedicada às famílias.
6 – Música de madrugada e nos espaços de campismo
De tudo o que está a acontecer na Europa, esta é a tendência que menos se verifica em Portugal. Por questões culturais, na grande maioria das vezes, a nossa programação musical já é muitas vezes tardia (entramos nos festivais depois do anoitecer e por isso também saímos deles mais tarde – segundo o estudo “Perfil do Festivaleiro” – enquanto lá fora os palcos ao ar livre terminam a sua programação ainda antes de ser madrugada) e, por isso, não temos necessidade de a dirigir para locais específicos do recinto, ou para parte do público.
7 – Promover e implementar a “pegada ecológica”
A preocupação ecológica e sustentável num festival de música é cada vez mais evidente entre os promotores e as marcas envolvidas, e até nos restantes agentes. Contudo, esta preocupação acarreta muitas vezes maiores custos, não sendo possível materializá-la na prática. Aqui, os festivais com menos apoios sentem maiores dificuldades em promover e instruir estes comportamentos em terceiros.
No edp CoolJazz, por exemplo, é feita a recolha dos alimentos não consumidos.
4 perguntas a…
Álvaro Covões, Managing Director da Everything Is New
Que destaques apresenta a edição deste ano do NOS Alive?
É sempre o cartaz. Este ano há Radiohead, Arcade Fire, Chemical Brothers, Pixies, Robert Plant, Tame Impala, Foals, Biffy Clyro, entre muitos outros. São mais de 100 artistas. No entanto, nesta 10ª edição contamos com uma grande novidade: o 7º palco do festival – o EDP Fado Café – que vai dar palco ao fado, que é a nossa canção nacional e Património Imaterial da Humanidade, com nomes como Raquel Tavares, Marco Rodrigues, Hélder Moutinho e também alguns grupos que pisam as sonoridades do Fado, como Dead Combo e Tiago Bettencourt.
Há, cada vez mais, uma “febre NOS Alive”, que se sobrepõe à febre dos festivais de verão. É o cartaz que coloca o NOS Alive neste patamar, ou há algo mais que o distingue?
Nós fomos o primeiro festival a introduzir o conceito de que todos os palcos são palcos principais, e demorámos algum tempo a conseguir meter isso na cabeça dos festivaleiros. Temos o Palco NOS, que tem o recinto maior e é onde atuam os grupos que achamos que têm mais gente a querer vê-los, e depois temos outros grandes palcos como o Palco Heineken, o Palco NOS Clubbing, o Palco Jardim Caixa, o Palco Raw Coreto By G-Star, e este ano o Palco EDP Fado Café. Em todos eles temos artistas dignos de pisar aquilo que nós chamamos na gíria o palco principal, e isso é a grande diferença do NOS Alive relativamente a todos os outros festivais.
O que procura o público, hoje em dia, num festival de verão? Que trabalho é necessário para ir de encontro a essas expetativas?
As pessoas procuram em primeiro lugar o cartaz. Depois, dentro dos festivais de verão há duas tipologias distintas: um de carácter urbano e outro de turismo natureza. Temos estudos, que realizamos já há várias edições, em que conseguimos determinar que 25% das pessoas que nos visitam ficam em hotéis, 25% fica em hostel, 25% fica em apartamentos turísticos e 6% em casa de amigos, portanto o campismo ocupa uma percentagem muito baixa. Os festivais turismo natureza são festivais que acontecem fora dos grandes centros urbanos, e cuja característica principal é o campismo.
Quem vai a um festival turismo natureza vive apenas o festival, e quem vai a um festival urbano vive a cidade e o festival, e este é também o grande sucesso do NOS Alive, porque nós vendemos a cidade de Lisboa e o festival, e somos o único festival no mundo onde se podem fazer quatro coisas diferentes: de manhã praia/surf, à hora do almoço gastronomia e património, a música só começa às 17 horas, e os mais perseverantes podem ir para a noite de Lisboa.
Para além da música, o NOS Alive já oferece também um palco com momentos de comédia. O futuro dos festivais passa por oferecer um conjunto de experiências cada vez mais alargado?
Aquilo que distingue um festival dos melhores festivais do mundo é exatamente essa oferta alargada. Obviamente que o teatro é um elemento fundamental das artes, e é preciso não esquecer que quando apresentámos o NOS Alive, apresentámos um festival de música e arte. A música é arte e o teatro também, logo fazia todo o sentido introduzi-lo, ainda para mais tendo nós uma geração de fantásticos artistas. Não tínhamos um cabeça de cartaz, tínhamos seis, sete cabeças de cartaz. Isto reforça a teoria de palcos principais. Todos os palcos do NOS Alive são palcos principais.
Paula Oliveira, Diretora de Comunicação e Marketing da Música no Coração
Que destaques apresenta a edição deste ano do Super Bock Super Rock?
Os principais destaques são a coerência e a qualidade do cartaz. Um conjunto de nomes consagrados e nomes emergentes, do rock, mas também dos vários géneros mais relevantes da atualidade para os amantes de boa música.
De Iggy Pop, De La Soul ou Massive Attack que voltam este ano em grande com álbuns novos, passando pelos incontornáveis The National ou Disclosure, à nova coqueluche da música mundial que elevou o hip hop a outro nível, Kendrick Lamar. Para não falar da melhor música portuguesa, representada pelos Orelha Negra, Capicua, GNR, Capitão Fausto ou Samuel Úria.
Depois de um primeiro ano de regresso a Lisboa e ao Parque das Nações, que balanço faz a organização dessa decisão?
Foi claramente uma aposta ganha. Era importante regressarmos a “casa”, e aquilo que pudemos ver em 2015 no Parque das Nações foram pessoas felizes, o elogio ao privilegiado a nível de conforto e acessibilidade. Sendo que a mudança foi um sucesso, para já, é por aqui que ficaremos.
Agora que o SBSR voltou a ser um festival de cidade, o que é que o diferencia de todos os outros?
O Super Bock Super Rock irá sempre diferenciar-se porque tem uma aura e um carisma inigualáveis. É o festival mais antigo a acontecer em Portugal de forma ininterrupta, e todos aqueles que gostam de música, antes de qualquer outra coisa, sabem que têm no Super Bock Super Rock um cartaz forte e coerente, onde a qualidade da música é uma garantia à partida. Mas, para além disso, é um festival que desafia o público e se desafia a si próprio, procurando sempre a inovação.
O que tem a dizer às pessoas que continuam a achar que o SBSR é vocacionado apenas para quem gosta de música rock?
O “rock” não é apenas um estilo de música, é muito mais do que isso, é uma atitude, uma forma de estar na vida. Existem centenas e centenas de artistas rock, menos “rock” do que por exemplo o Kendrick Lamar. O Super Bock Super Rock quer sempre manter a sua génese, mas o que queremos mesmo é um cartaz com qualidade e coeso, com a melhor música da atualidade. É esta a nossa marca.
O perfil do festivaleiro
Mais um ano, mais um trabalho da APORFEST a “tirar a pinta” aos festivaleiros portugueses. Como vem sendo hábito também, houve um aumento no número de inquiridos – 990 – num estudo realizado entre outubro e dezembro de 2015. Reunimos para ti as principais conclusões.
FAIXA ETÁRIA
A maior percentagem de festivaleiros situa-se na faixa etária entre os 21 e os 24 anos (29%), seguida das pessoas com idades entre os 31 e os 40 (26%) e das que têm entre 25 e 30 anos (21%). Em 2014, a maior percentagem situava-se na franja 17-20 anos (31%).
ESTADO CIVIL
94% das pessoas que vão a festivais de música são solteiras, e 57% têm a Licenciatura como grau de escolaridade. 20% já completaram o Ensino Secundário, e 19% fizeram Mestrado.
OCUPAÇÃO
Há duas grandes ocupações, no que aos festivaleiros diz respeito. 45% têm um emprego, e 44% são estudantes. Apenas 11% das pessoas que vão aos festivais não trabalham nem estudam.
RENDIMENTO MÉDIO MENSAL
Em coerência com as faixas etárias com maior presença nos festivais, encontramos o rendimento médio mensal. 29% das pessoas que frequentam estes eventos recebem entre 0 e 500 euros, um valor que abarca os estudantes e, certamente, a grande maioria dos jovens em início de carreira profissional. 26% recebem entre 500 e 1000 euros, e outros 26% preferem não responder à questão.
ESTILO DE MÚSICA
Os festivaleiros mostram-se fiéis aos seus estilos musicais de eleição, se olharmos ao que respondiam no ano anterior. Em 2015, 28% preferem o rock, 27% a música alternativa e 17% o indie. A eletrónica (9%) e a pop (8%) fecham o top.
DESPESAS NO FESTIVAL
Há duas grandes variáveis relativas às despesas com um festival: o ingresso e o consumo no recinto. E existem também duas grandes tendências – os festivaleiros tendem a comprar o passe para todos os dias do evento (76%) e a gastar entre 10 a 20 euros enquanto lá estão (37%). Alguns investem ainda menos durante o evento (28% gastam entre 0 e 10 euros) e outros um pouco mais (21% despendem entre 20 e 30 euros).
RELAÇÃO COM OS FESTIVAIS
Os festivaleiros têm também tendência a decidir rapidamente a que festival(is) querem ir. 28% decide comprar ou compra o seu ingresso quando se sabem as primeiras novidades do festival, algo que se explica com os fatores que consideram mais relevantes para a sua escolha – o cartaz (68%) e o caráter único do festival (20%).
De resto, 70% dos festivaleiros não vão a mais de 3 festivais por ano, e quando vão, é com amigos.
COMO COMUNICAM?
Os festivais de música têm procurado melhorar, cada vez mais, a interação dos festivaleiros entre si e com o próprio evento. No que diz respeito à app oficial do festival onde estão, 43% dos utentes usam-na e mostram-se moderadamente satisfeitos. 76% ligam-se às redes sociais durante o festival (65% no Facebook e 35% no Instagram) e 45% fazem publicações recorrendo a hashtags.
Apesar disso, as SMS (54%) e as chamadas de voz (26%) continuam a ser os veículos de comunicação mais usados.
QUE MELHORIAS?
Quando questionados acerca das melhorias que gostariam de ver nos festivais de música em Portugal, os festivaleiros apontam as infraestruturas, o preço dos bilhetes, a limpeza do espaço e a reciclagem do lixo, o sentimento de segurança, os transportes e o estacionamento, e finalmente o Wi-Fi como os principais pontos a rever.
Por fim, o nosso roteiro com 20 dos melhores festivais de música deste verão: