É rap e é pop, é ironia com sentido de humor, é uma pose séria de pijama vestido. Paulo Zé Pimenta apresenta-se como PZ e anda a dar cabo das convenções com temas como Croquetes, Cara de Chewbacca e Neura. Todos eles são Mensagens da Nave-Mãe, e nós fomos tentar descobrir este personagem divertido de cara fechada que é uma lufada de ar fresco na música nacional.
O PZ é um rapper que faz crítica à sociedade, é um artista pop que se quer divertir, é um pouco dos dois ou não é nada disto?
(risos) É um bocado isso sim. Eu gosto do hip-hop, também gosto da pop e daquela pop mais eletrónica, e gosto de os explorar quer a nível instrumental, quer nas próprias letras.
Ao mesmo tempo, sempre quis fazer música de forma um pouco diferente, e que essa forma tivesse a ver comigo, com as imperfeições do ser humano, com o sentido de humor e com a necessidade de não nos levarmos muito a sério. Gosto de ser sarcástico e irónico, onde a ambiguidade também é importante.
Acho que as pessoas percebem o que estou a fazer à medida que vão ouvindo, e cada uma delas terá a sua interpretação. O PZ é uma personagem em que a ironia e a ambiguidade dessa ironia são combinadas com um humor de atitude séria. E eu gosto de brincar com essas perceções.
E há alguma interpretação da Croquetes ou da Cara de Chewbacca que te tenha ficado na memória?
No YouTube existem vários comentários interessantes… Na Croquetes já insinuaram que eu estava a fumar um grande croquete, ou que eu era homossexual dizendo que estava a mandar f**** o bacalhau e que isso significa desconsiderar as mulheres…
Na Cara de Chewbacca chegou ao extremo da Provedora da RTP dizer que a música contém uma moralidade na letra que vem denegrir o papel da mulher na sociedade moderna… isto durante três programas seguidos.
Eu acho isso interessante, e percebo que a minha música não pode ser apreciada por toda a gente da mesma forma, mas considero que no humor não podem existir estes entraves e esta censura, e acho que as pessoas têm neurónios suficientes para perceber a mensagem. Se não tiverem, não são o meu público e não posso preocupar-me com isso.
O PZ canta, compõe, produz, realiza. Faz tudo parte da construção da sua identidade?
Surgiu mais como necessidade. Comecei a fazer música sozinho por iniciativa própria, com ajuda das novas tecnologias e do meu amor pelos sintetizadores e pelas drum machines, para desenvolver uma estética própria. Entretanto descobri que também gosto de trabalhar com outras pessoas e de criar outros projetos, mas o PZ sempre foi uma visão pessoal, uma forma de libertação do eu e uma forma de me exprimir à minha maneira, metaforicamente e quase como caricatura do que vai acontecendo na minha vida.
Ao mesmo tempo, gosto sempre de me libertar desse ego e deixar que outras pessoas entrem no processo, como o dB na Cara de Chewbacca e na Tu És a Minha Gaja. Espero, aliás, que isso possa vir a acontecer mais vezes, e mesmo ao vivo comecei a atuar com uma banda, e a mostrar a minha música de outra maneira.
Apareces nos teus concertos de pijama… Pelo poder visual dessa imagem, ou porque estás a tentar transmitir uma ideia de intimidade?
É uma mistura das duas. O pijama surgiu porque faço a minha música no meu estúdio, no meu quarto, às vezes à noite e de pijama, e a princípio a ideia era expor esta forma de estar confortável. Obviamente que também pensei no poder que essa imagem poderia trazer, e tal como gosto de desconstruir os géneros musicais, também gosto de desconstruir as ideias que as pessoas têm da produção da imagem de um artista musical, e da forma como ele se apresenta em palco. O pijama é a antítese disso, ao mesmo tempo tem a ver com a minha música, e tornou-se numa forma de vestir a personagem, para mim e para os meus músicos, e até para o técnico de som. Um ambiente caseiro em palco e uma imagem de marca.
O que é a Nave-Mãe e que mensagens tem ela para quem te ouve?
É mais um termo que deixo em aberto para cada um interpretar como quiser. A minha interpretação teve a ver com um episódio passado numa after-party, onde estava a olhar para o teto e a pensar sabe-se lá em quê (talvez a alucinar) e houve alguém que se virou para mim e disse “ui, ele está a receber mensagens da nave-mãe”, e eu parti-me a rir e voltei à Terra.
Mas lá está, percebi perfeitamente o que ele quis dizer com isso, e remete-me para o universo da ficção científica e para o som dos sintetizadores, enquanto que as mensagens estão presentes nas letras, nas ideias que as pessoas têm no seu dia-a-dia e que surgem sabe-se lá de onde, e nas perguntas que nos fazemos como “porque é que estamos aqui?”, “quem é que nos controla?”, “há Deus ou não há Deus?”, que nos assombram e que também nos fazem rir.
É uma ideia do Além, e acho que faz todo o sentido com as músicas que tenho neste disco.
Para além do PZ, tens outros projetos, e até fazes videoclips para outros artistas (Mind da Gap). Faz parte da tua necessidade de explorar ao máximo estes teus mundos?
Sim, e também têm a ver com o facto de fazer parte da editora Meifumado, que é a mesma dos Mind da Gap e de outras bandas para quem realizei videoclips. Eu gosto de explorar essa minha veia de cineasta, mesmo antes de ir estudar para os Estados Unidos. Às vezes também é bom fazeres um videoclip para uma música que não é a tua, onde te colocas noutro mundo e te deixas levar pela inspiração do momento e pela tua conexão com essa banda. Ao mesmo tempo, aproveito este meu interesse para fazer os meus próprios videoclips.
Tu estudaste Som e Imagem numa universidade norte-americana… Explica-nos como é que isso foi e como aconteceu.
Tinha 18 anos, acabei o Secundário, e já tinha o exemplo do meu irmão, que também tinha saído do país para estudar Música. Fui para Boston e para uma universidade que estimulava muito a criatividade, e percebi desde logo que o sistema de ensino deles era muito aberto e possibilitava a escolha das cadeiras que queríamos, formando nós próprios o nosso curso. Foi também com aquelas aulas que comecei a estudar a sério e a criar projetos meus, e de facto aprendi muito. Aprendi também que, se calhar, era demasiado novo para aquela aventura, e que não estava preparado para viver sozinho num país distante, mas o facto da componente académica ser tão interessante ajudou-me muito, e os projetos que lá desenvolvi e o modo de vida que levei foram o preâmbulo daquilo que sou hoje. Aliás, o meu primeiro álbum foi feito lá.
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[Entrevista: Tiago Belim]
[Foto: Meifumado]