Entrevista | Luís Silva: “A IoT abre portas para novos modelos de negócios”
Destinado a profissionais — com qualificação superior em Informática, Eletrónica e Computação —, o SWiTCH IoT — programa de especialização, assente em fundamentos e softwares, que permitam o desenvolvimento de sistemas ciberfísicos — possui, em aberto, o processo de candidaturas, até ao dia 15 de setembro.
Luís Silva, Presidente da Porto Tech Hub, afirmou, em entrevista, que “a capacidade de liderança surge do pensamento estratégico, do conhecimento e do reconhecimento da inovação.”
Promovido pela Porto Tech Hub, em parceria com o Santander, o curso SWitCH IoT alinha-se a que ambições?
A Internet das Coisas tem ganho cada vez mais destaque, pelo que aprofundar conhecimentos neste campo de estudos é crucial. A tecnologia desenvolvida permite a criação de drones, redes 5G e cidades inteligentes, tudo através da interconectividade de dispositivos físicos, capazes de reunir e transmitir dados em tempo real.
O SWiTCH IoT, que abre agora a sua primeira edição, em parceria com o Santander e o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), foca-se na especialização e atualização de competências de especialistas já integrados no setor. Numa área tão suscetível à mudança e ao progresso como a tecnologia, a vantagem competitiva dos profissionais e das organizações ganha-se através do conhecimento. Por isso, a especialização em IoT ajuda ambas as partes a acompanhar a transição digital e não serem ultrapassados por ela.
Ao contrário do que tem vindo a ser a Porto Tech Hub, o SWiTCH IoT foca-se na especialização e reskilling de modo a dar ferramentas para o progresso do setor. Já esta parceria com a Fundação Santander surge da missão conjunta de facilitar o acesso à educação e a aposta na formação ao longo da vida profissional. Por outro lado, a parceria com o ISEP é uma relação sólida em toda a marca SWiTCH e nos cursos que temos vindo a promover.
A capacitação contínua manifesta ser essencial para um acompanhamento efetivo da transição digital. Que papel desempenha o ciclo de estudos na formação dos líderes de amanhã? Que matérias e competências são combinadas?
A capacidade de liderança surge do pensamento estratégico, do conhecimento e do reconhecimento da inovação. Para o conseguir, a educação é a chave mestra. Fomentar a capacidade de liderança e bons resultados não vem só da compreensão do ritmo da tecnologia, mas do seu acompanhamento, algo que é feito através da procura por conhecimento. É a curiosidade intrínseca de alguns profissionais e a sua vontade de compreender os meandros da inovação que contribui para uma mentalidade focada na liderança e resultados. Quero com isto transmitir a ideia de que para estarmos na linha da frente da transformação digital temos de estar também na linha da frente da educação.
A pós-graduação SWiTCH IoT foca-se em três grandes áreas que contribuem para o desenvolvimento de conhecimento técnico e operacional: a programação, que se centra em aspetos avançados de programação em sistemas IoT; software, com tópicos que incluem programação de software incorporado, interface com hardware, comunicação em série, interrupções, limitações de processamento e memória; e a tecnologia, que alberga as principais tecnologias de processamento de dados.
Segundo um estudo recente do ManpowerGroup, Portugal continua a ser o quarto país do mundo com maior escassez de talento. Considera que a inovação possui o poder de “atrair e fidelizar” a geração mais qualificada de sempre?
Embora a inovação pareça desafiante, a mesma é uma janela de oportunidade para garantir uma vantagem competitiva. Numa realidade em que o talento é escasso, as empresas que investem em inovação e na formação conseguem destacar-se no mercado. A geração mais qualificada de sempre, na sua maioria Millennials e Gen Z, tende a valorizar ambientes de trabalho dinâmicos, tecnologias avançadas e a possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional contínuo. Empresas que se posicionam ao lado da inovação tendem, por isso, a ser mais atraentes para este público, o que ajuda não só a despertar o interesse de novo talento, mas também a mantê-lo. Significa isto que ao apostar na inovação as empresas aumentam significativamente as suas hipóteses de captar e reter os profissionais mais qualificados, mesmo perante a escassez de talento, como o que se vive em Portugal.
Auxiliando a adaptação das entidades empresariais às novas tecnologias, mediante o aumento da resiliência dos negócios, de que forma a Internet das Coisas poderá ser utilizada para promover o crescimento corporativo?
Com a IoT, as organizações podem monitorizar em tempo real os seus processos operacionais, facilitando a otimização em várias frentes, reduzindo desperdícios, melhorando a manutenção de equipamentos e proporcionando uma tomada de decisão mais rápida e informada.
Temos o exemplo do mercado da manufatura. Os sensores conectados através de aparelhos IoT podem prever certas falhas nas máquinas antes que estas ocorram, o que minimiza paragens abruptas e custos de reparação. Já na logística, a Internet das Coisas pode auxiliar no rastreio de mercadorias e bens em tempo real, otimizar rotas de transporte e reduzir atrasos.
A IoT abre portas para novos modelos de negócios, como a oferta de serviços baseados em dados ou produtos inteligentes, o que potencia a experiência do cliente. A aplicação desta tecnologia torna as empresas mais eficientes e adaptáveis, criando uma base sólida para o crescimento sustentável.
E que desafios impõe o investimento?
Embora existam desafios claros, com uma abordagem estratégica e clara, as empresas podem mitigar e contornar os obstáculos e aproveitar os benefícios desta inovação. O primeiro é, portanto, o custo inicial, ou seja, a implementação de uma infraestrutura de IoT, que inclui sensores, redes de conectividade e plataformas de análise de dados, o que se pode tornar oneroso. A solução passa por uma abordagem em escala, na qual as entidades podem começar por projetos-piloto, implementando a tecnologia em áreas específicas com vista a medir o impacto e o retorno sobre o investimento antes da expansão.
Além disso, há a questão da integração em sistemas mais antigos, que estão em vigor ainda em muitas empresas e que nem sempre são compatíveis com as tecnologias de IoT. A solução aqui passa pela modernização gradual dos sistemas, dando prioridade a áreas críticas e investindo em soluções de middleware que possam facilitar a integração entre tecnologias antigas e mais recentes.
Por último, mas não menos importante, a escassez de talento especializado em IoT é outro grande desafio. Neste ponto, é importante não apenas recrutar novos talentos, mas também investir na formação contínua dos colaboradores, capacitando-os com ferramentas que auxiliem na adaptação às novas tecnologias. Ao identificar esta lacuna no mercado, a Porto Tech Hub aproveitou a oportunidade de apostar no talento local e preparar a primeira edição do SWiTCH IoT, ministrado no ISEP e lecionado por Luís Miguel Pinho, Professor e Investigador no Departamento de Engenharia Informática do Politécnico do Porto, que permite aos profissionais e às empresas colmatar esta falha.
Como é que os aspirantes podem ingressar no programa?
Os interessados em ingressar na pós-graduação SWiTCH IoT podem fazê-lo através da inscrição no site da Porto Tech Hub. Para ter acesso às bolsas financiadas em 50% pelo Santander, é possível fazê-lo através do site da Fundação Santander. O curso é lecionado em formato híbrido, remotamente e nas instalações do ISEP.
Que tendências se avizinham nos próximos anos? Que desajustes ou falhas predominarão? Seguimos a bom ritmo ou posicionamo-nos aquém das expectativas?
Nos próximos anos, algumas tendências ganharão um maior palco, como a expansão da inteligência artificial, a automação e a Internet das Coisas, além dos avanços em computação quântica e blockchain. O foco vai incidir na digitalização e na criação de soluções mais eficientes e personalizadas, com impactos diretos na forma como as empresas operam e se relacionam com o consumidor.
Um dos principais desafios será, como já discutimos, a dificuldade em acompanhar a velocidade dessas inovações, o que fará com que muitas empresas enfrentem desajustes ao não conseguirem integrar essas novas tecnologias eficazmente.
É necessário reconhecer que ainda não temos o passo para seguirmos um ritmo ideal em todas as áreas, devido a barreiras como a falta de formação contínua e a resistência à adoção de novas tecnologias. É por isso que iniciativas como as que temos promovido na Porto Tech Hub são essenciais para reduzir esta defasagem, dinamizar o tecido empresarial e promover a descentralização tecnológica, que tem contribuído de igual forma para a atração de empresas estrangeiras e para a aposta no talento regional.