Entrevista | Política Aberta: O chatbot open source que te aproxima dos valores democráticos
Portugal, imerso em debates acesos, discussões políticas e análises sobre o futuro, encontra-se em fase de eleições legislativas, a 10 de março, que prometem definir a composição do Parlamento e delinear os rumos sociais, moldando a vida dos cidadãos nos próximos anos.
Em entrevista, o chatbot open source Política Aberta revela que “os assuntos mais dialogados são o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a habitação e a corrupção.”
Perante um cenário, onde o desconhecimento político, as fakenews e os clubismos partidários imperam, o Política Aberta desabrochou de que vontade?
O Política Aberta desabrochou precisamente da vontade de mudar e tentar acabar com os altos níveis de abstenção, de acabar com o “votar por votar” e de querer aproximar os eleitores da Política, de forma inclusiva, determinada e aberta, em prol do melhor para os portugueses. Mas, acima de tudo, desabrochou da vontade de, enquanto jovens, querermos fazer parte da solução e dar um contributo, ajudando os eleitores a tomarem decisões politicamente informadas. Perante esta ambição, reunimos os nossos interesses e o melhor de dois mundos: Tecnologia e Política, para criar uma plataforma que cumprisse o nosso objetivo.
Surgiu, assim, o Política Aberta, um chatbot, ou seja, um software, baseado em Inteligência Artificial, que, feita uma pergunta (prompt), obtemos uma resposta. No entanto, o Política Aberta foca-se única e exclusivamente em perguntas e dúvidas relacionadas com os oito partidos políticos, com assento parlamentar em Portugal, possibilitando a resposta a questões relativas a um partido ou tema em específico, fundamenta na respetiva referência e linha do programa. Por exemplo: Quais são as medidas da Iniciativa Liberal no combate à crise da habitação? Qual a diferença entre as medidas no combate à corrupção do Chega e do Bloco de Esquerda? Quais são as medidas, ideologias e posições da Aliança Democrática?
O modelo fornece “Promessas em Dados” e “Verdades em Respostas”. De que forma as propostas e ideologias são apresentadas?
Tal como todos os chatbots, assenta numa base de dados. Neste caso, o Política Aberta é “alimentado” com os programas eleitorais de cada partido, mantendo, assim, a credibilidade, a fiabilidade e genuinidade das respostas dadas. Como referido anteriormente, o nosso objetivo não é proporcionar ainda mais informação, mas facilitar o acesso a ela e certificarmo-nos que transmitimos aos eleitores informação coerente, factual e que corresponda àquilo a que os partidos políticos realmente se propõem.
Recorrendo à Inteligência Artificial, com que frequência os conceitos disponibilizados são atualizados?
Todas as respostas têm por base a informação disponibilizada nos programas eleitorais de cada partido. Desta forma, temos o cuidado para que os manifestos eleitorais sejam os mais atualizados e recentes possíveis, garantindo assim a veracidade e atualidade na resposta dada.
A democracia encontra-se num voto consciente?
A democracia caracteriza-se por ser um estado de direito, que valoriza a igualdade, a justiça, a liberdade e a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões. Contudo, todo o sistema democrático e os respetivos valores estão dependentes dos eleitores, mais especificamente do seu voto. Se estes não forem informados, críticos e conscientes, não estarão a contribuir para a saúde e legitimidade da democracia, impedindo, assim, que os representantes eleitos reflitam verdadeiramente a vontade da população.
Portanto, sim, a democracia encontra-se num voto consciente.
Segundo uma sondagem recente, eleitores jovens colocam o seu voto mais à Direita. Consideram que, influenciados pela “novidade” e pelo digital, a indecisão e a dificuldade em identificarem-se com os manifestos são os principais responsáveis?
É possível que a influência da “novidade” e do ambiente digital desempenhem um papel na tendência dos eleitores jovens em colocar o seu voto mais à Direita. A exposição a diferentes ideias e plataformas políticas, através das redes sociais e outras plataformas online, pode influenciar as perceções e opiniões dos jovens eleitores.
Contudo, sem qualquer sombra de dúvidas, a dificuldade no acesso e compreensão dos manifestos eleitorais é o principal fator responsável por essa indecisão. São poucos os eleitores que têm a disponibilidade para ler centenas de páginas de promessas e propostas. Os manifestos eleitorais não têm uma linguagem, nem uma estrutura simples e acessível, daí optarem por informação, nem sempre verdadeira, mas que é clara e fácil de compreender. Perante este problema, o Política Aberta ajuda a educar politicamente os mais jovens que, consequentemente, são os maiores utilizadores do meio digital.
Através da análise das questões mais colocadas e das preocupações apontadas, que aspetos trazem ao pódio?
Os assuntos mais dialogados são os estão, igualmente, mais na ordem do dia, como o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a habitação e a corrupção.
Sendo um chatbot open source apartidário, como é assegurada a imparcialidade?
O facto de o Política Aberta ser um projeto apartidário, independente e sem fins lucrativos, é o que lhe garante a imparcialidade. Há que destacar que o código é open source, o que permite tanto uma total transparência acerca dos métodos utilizados, como a possibilidade de qualquer um contribuir para a continuidade do projeto. Isto aproxima os interessados pela tecnologia e pela política a contribuir para o nosso objetivo: Que os eleitores tomem decisões políticas verdadeiramente informadas.
Afinal, estará a solução para a desinfodemia à distância de um prompt?
Gostamos de ser otimistas, mas realistas, cientes da realidade em que vivemos e conscientes dos problemas que temos pela frente. Bots que criam e divulgam fake news em segundos, publicação de mentiras e alegações numa tentativa de incitar ao ódio e à desconfiança… Problemas modernos exigem soluções modernas, desta forma, sim, acreditamos que uma das formas de termos uma sociedade devidamente informada e ciente do risco das suas decisões passa por apostar em meios de informação que, mantendo a imparcialidade, se foquem em transmitir informação fidedigna e que corresponda com a realidade, sem análises de opinião, como é o caso do Política Aberta, à distância de um prompt.
Que planos perspetivam para o futuro do projeto?
Como qualquer software, este não é perfeito nem está acabado. Existe muita margem de melhoria e não pretendemos ficar por aqui. É um projeto que tem vindo a ser desenvolvido nos tempos livres das nossas vidas atarefadas e queremos que continue a ser assim, mesmo depois das eleições. Afinal, temos umas eleições europeias mesmo aí à porta. Temos algumas ideias de novas funcionalidades e melhorias, e muitas delas são públicas, disponíveis no repositório, onde temos o nosso código. Uma delas passa por adicionar outras fontes de informação, para além dos programas dos partidos. Há posts nas redes sociais, notícias, debates… Inúmeras fontes de informação que devem ser usadas para dar ao eleitor a melhor ideia sobre o seu partido.