Recém-licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Autónoma de Lisboa. Dedicado, empreendedor, ambicioso, de sorriso voltado para o mundo e um comunicador nato: João Pereira conta-nos sobre o seu percurso académico, dá voz aos desabafos e inquietações dos universitários e na primeira pessoa dá-te as dicas de que precisas para começares em grande.
- Os corredores que percorremos até ao estúdio de rádio da UAL, foram os mesmo que te levaram onde estás hoje.
É verdade. Acabei a licenciatura há cerca de 1 mês e é um bocado estranho para mim olhar para isto porque já é de uma forma diferente. Já não é meu. Já não são os meus corredores. Já não são os meus estúdios. Sinto-me em casa, mas ao mesmo tempo… só em setembro quando vir pessoas novas aqui é que eu vou perceber “Ok, isto já não é a tua casa”, mas para já ainda é o meu núcleo.
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2. Fala-nos sobre o teu o percurso académico, desde o momento em que pisaste, pela primeira vez, o pátio desta que é a tua “casinha amarela” até ao último.
Foi um percurso bastante emocional. Tive muita sorte e ao mesmo tempo foi bastante complicado devido à pandemia. Lembro-me perfeitamente do primeiro dia de aulas, já tínhamos estado na praxe e já nos conhecíamos. Foi bastante emocional, estávamos todos agarrados e excitados. Confesso que tive medo na primeira aula porque todo o Departamento de Comunicação foi apresentar-se e eu acabado de vir do secundário. Era tudo muito novo e falavam sobre a universidade com aquele ar de “agora é que é a sério”, “vocês agora têm de dar tudo”, “só os melhores passarão”. Ficámos, obviamente, todos um bocado assustados. Chorei um bocadinho depois da primeira aula. Depois consegui dar a volta por cima e os primeiros meses foram fantásticos. Era um mundo novo. Criei o meu primeiro podcast o Trending News. Comecei a ir aos programas de televisão da RTP onde conheci várias pessoas. Aí, já estava a ser a melhor “cena” da minha vida. Até que chegámos a fevereiro de 2020 e disseram-me para ficar em casa devido à pandemia. Não foi fácil. Comecei a adaptar-me àquilo que era a vida e foi aí que comecei a pensar mais nas redes sociais que passaram a ser mesmo uma ferramenta. Se antigamente era só fotos minhas nos backgrounds, passou a ser uma coisa diferente quando entrei na universidade. Comecei a falar mais sobre mim, sobre os meus projetos, sobre aquilo que eu queria. Criei a minha persona nas redes sociais. Em casa, criei projetos como o “No Meu Quarto” onde abordei temas importantes e sabia que ao falar sobre eles ia ser partilhado nas redes sociais. Quando voltamos para o presencial, criei o Posições João, o meu último podcast. Toda a aposta que fazia em mim aqui e todo o percurso que fiz na universidade Autónoma de Lisboa permitiu-me trabalhar na minha vida pessoal e no meu futuro.
Tive sempre a ideia de que tem que ser assim “eu tenho que estar aqui, presente, em todo o lado”
3. Descobrir em que é que, afinal, somos bons, é um caminho complexo. Qual foi o papel que a universidade teve na perceção que hoje tens sobre ti próprio?
Desde muito cedo soube o que queria ser enquanto profissional, mas foi aqui na universidade que tive as certezas. Há pessoas que chegam e dizem “quero fazer televisão”, “quero ser apresentador de televisão”, mas depois em contacto com o marketing apaixonam-se pela área, em contacto com a rádio “se calhar tenho mais jeito para rádio”. Confirmei que televisão é mesmo que quero seguir. A universidade, sem dúvida, formatou-me porque deu-me a escolher. Mais do que sabermos onde possivelmente somos bons, é poder experimentar de tudo, todas as ferramentas novas para nos dar a confirmação, ou não, daquilo que queremos na nossa vida. Neste momento, eu tenho 21 anos e a plena noção que ainda só estou no começo,
Ainda tenho tempo para falhar e recomeçar. Não tenho mesmo medo nenhum.
4. Se a cabeça de um pré-universitário, um universitário ou até um licenciado (sim, porque não penses que as dúvidas ficam por aqui), fosse um letreiro, a pergunta “será que quero fazer isto para o resto da minha vida?” seria a mais lida na história dos letreiros. Há espaço para errar?
Quando nós acabamos o 9º ano temos logo a questão de “vamos seguir línguas? Vamos seguir ciências? Vamos seguir artes?”, ou seja, desde os nossos 16/17 anos estamos a escolher caminhos que vão afetar escolhas futuras. Há muita gente agora que vai entrar para a universidade e está com medo de “será que é mesmo isto que eu quero seguir?”. Temos uma pressão enorme, do sucesso ou de querer ter tudo ao mesmo tempo. Sair do secundário e ir logo para a universidade porque temos timings para tudo. Sinto que ainda sou uma criança e já estou a trabalhar? É “bué” complicado. Se paramos para pensar, há dias o nosso problema era não ter as sapatilhas para as aulas educação física e agora estamos a trabalhar para um futuro estágio ou trabalho na área em que queremos ingressar. Com calma tudo se faz e não tem que não tem que haver aquele pânico. A nossa sociedade fez-nos pensar que há tempo para tudo, mas não há. Se não for o que vocês gostam, voltem para o ano ou até para outro curso. Descubram aquilo que realmente querem fazer da vossa vida.
Somos nós o comando da nossa vida.
5. Quais foram os principais desafios que tiveste enquanto estudante ao longo destes três anos e de que forma os conseguiste ultrapassar?
No início era uma pessoa que achava que era capaz de fazer tudo sozinho e uma das minhas maiores dificuldades foi perceber que se confiar naquele colega podemos ter um trabalho muito melhor. De facto, principalmente no meio da comunicação, precisamos todos uns dos outros. A outra dificuldade foi em relação aos prazos das entregas dos trabalhos. Aliás, tenho que pedir desculpas a vários professores. A universidade é um meio muito mais rígido. O choque de personalidades também foi uma dificuldade. Desde muito cedo que sei que quero comunicação, mas no meu meio não havia muitas pessoas a ter o mesmo interesse. Conhecer pessoas tão iguais a mim, que queriam o mesmo que eu e lutaram e lutam para o mesmo, parece que estamos aqui a competir, mas é tão mais fácil trabalharmos em conjunto. Neste momento, estou numa posição que não é a posição que quero estar, mas não é por isso que sou menos bom. Estou a trabalhar para lá chegar porque tenho a plena noção que tenho o que é preciso para lá chegar. Acreditar em vocês próprios é a coisa mais importante no meio disto tudo.
6. Para ti, a universidade foi um espaço para CRIAR, por exemplo desenvolveste um projeto a título individual o “Posições de João”, um podcast disponível no Spotify que não podes deixar de ouvir, e foi onde, de certa forma, começaste a construir a tua identidade profissional, dar a conhecer as tuas posições dando-lhes uma voz. E como até o nome indica a universidade é um UNIVERSO de coisas, consideras que pensar fora da caixa enriquece o percurso de quem por aqui passa?
Falo sempre na área de comunicação, mas acho que abrange todos os cursos. Acho que é preciso pensar que podemos fazer o que os outros não estão a fazer. Se formos ver, temos o mesmo currículo: a mesma licenciatura, o mesmo percurso desde o primeiro ano até ao décimo segundo e universidade e, às vezes, até o mestrado. Mas o que é que nos diferencia? O João já fez um curso sobre marketing, o João já fez um curso de apresentação com a Teresa Guilherme, o João já fui visto nas redes sociais com a Cristina Ferreira e outras personalidades da televisão, o João está constantemente a conhecer pessoas quando vai aos meios de comunicação. Os contactos que faço e tudo aquilo que faço “fora da caixa” foi o que me permitiu destacar dos outros. É aqui que temos que nos diferenciar no mercado. Seja em comunicação, em desporto ou em economia o que fizermos de extra será sempre melhor para nós. Para as pessoas que vão entrar agora, vocês têm que perceber que, para além do esforço de tirar a licenciatura, têm que ver a melhor forma para se destacarem e diferenciarem.
Um diploma não basta hoje em dia.
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7. Agora que terminaste, que projetos tens pela frente?
Estou como todos os que acabaram a licenciatura. A partir de agora a minha vida toda é uma incógnita. Tanto posso ir tirar mestrado, como posso ir trabalhar, como posso fazer um gap year e viajar pelo mundo. Neste momento, estou à deriva do que a vida tiver para me dar e a começar o meu percurso profissional. Há sempre o pânico de quem vai acabar uma licenciatura porque o que vem a seguir é muito complicado. Estou a fazer o melhor que posso para me manter relevante nas redes sociais e a criar projetos para que as pessoas possam acompanhar. Se há projetos que acabam, há outros que começam.
8. Parabéns, chegaste ao Ensino Superior, mas… quais tinham sido as dicas e sugestões que o João de há três anos gostava de ter ouvido e que hoje fazem sentido para quem vai iniciar este caminho já a partir de setembro?
Nunca tenham medo de sonhar e aproveitem tudo, tudo o que seja, para vocês, uma oportunidade, tudo o que seja trabalho, tudo o que sejam momentos especiais. Lutem, trabalhem e, ao mesmo tempo, saiam com os amigos, saiam à noite, aproveitem! A licenciatura foi a melhor fase da minha vida e deixa-me feliz porque essa fase está a decorrer até agora. Temos que acreditar em nós. Façam estágios, façam pós-graduações, minicursos que vos possam ajudar e sejam vocês mesmos porque todos nós temos o nosso lugar.