Depois do sucesso deste espetáculo, qual foi o vosso maior desafio para o tornar ainda mais interessante? Porque é que quem viu a primeira edição deve ir ver a segunda?
L.F.B: Começando pelo fim, os nossos perfis alteraram-se imenso! Somos as mesmas personas, mas mudámos muito. O Raminhos estava prestes a ter a terceira filha, e havia o pânico “Meu Deus, mais stress na minha vida, o que eu vou fazer com quatro mulheres em casa?” Eu era o folião descontraído, boa vida e tinha acabado de me apaixonar. A.R: Aliás, tu apaixonaste-te durante a peça…
L.F.B: Exatamente! Quando nós começámos no Casino Estoril, eu era só o gajo da boa vida, apaixonei-me durante a peça e depois tive de introduzir isso. O Marco era solteiro e estava um bocado em baixo. Passado estes anos, o Raminhos não teve mais filhas, mas agora é um homem diferente. Chamamos-lhe Raminhos Luz. É um homem atento às questões da saúde mental, atento a si próprio e aos outros, aparentemente muito mais pacífico e inspirador. Eu casei com a mulher por quem me apaixonei, tivemos um filho e a vida é um inferno, (risos) estou claramente a pagar pela boa vida que tive. E, por último, o Marco tem uma pessoa nova na vida dele, está apaixonado, tem o filho com quinze anos, é um rapaz maravilhoso.
O que é que mudou mais, o mundo ou vocês?
M.H: Ui…
L.F.B: Eu acho que nós mudámos bastante…
A.R: Eu acho que nós mudámos com o mundo.
M.H: Isso foi bonito, é mesmo aquela resposta…
A.R: Mas é verdade!
M.H: Eu acho que o mundo mudou mais!
L.F.B: Sim, eu também sinto que o mundo mudou mais do que eu. Pessoalmente, sinto que estou a ficar velho… Estivemos a falar com um rapaz de um outro órgão de comunicação social e algumas expressões que ele disse, eu não fazia a mínima ideia do que significavam por exemplo.
A.R: Eu acho que mudei mais que o mundo nestes anos, muito a nível pessoal.
L.F.B: O Raminhos terá mudado mais que o mundo definitivamente. A mim o mundo está a obrigar-me a mudar. Eu achava que ser pai era tranquilo, tipo é um bebé…
A.R: Quando o Borges trouxe o bebé para casa, a primeira coisa que fez foi ligar-me e dizer “Como é que fizeram isto três vezes?!” (risos)
M.H: O mundo está numa fase muito ansiosa, mesmo criativamente, está tudo muito confuso, é muito difícil mantermo-nos neste ritmo… Sinto que o mundo tem de respirar. A pandemia tornou as pessoas muito aceleradas, as redes sociais, o swipe up, os vídeos, as pessoas consomem tudo como se fosse descartável, estão 10 segundos a ver qualquer coisa, já passam para a seguinte… Por isso, temos que ser insistentes para que as pessoas voltem a desfrutar de espetáculos, de música, que estejam atentas do princípio ao fim e aproveitem o momento.
Se tivessem que fazer esta peça daqui a 5 anos, numa terceira edição, o que é que acham que mudava?
A.R: Isso é perfeitamente possível de acontecer. Bem, o filho do Borges já tinha sido expulso do externato por agressão, o Marco já estava divorciado, e eu abri uma empresa de autoajuda (risos).
L.F.B: Sim, isso é tudo perfeitamente possível. Será uma peça mais negra.
M.H: Vamos estar com uma roupa havaiana e a ir para o palco de chinelos. Fora de brincadeiras, é bem possível irmos para uma terceira edição, dependendo do sucesso desta segunda.
Porque é que o público não deve perder o vosso espetáculo?
L.F.B: Porque é hilariante! M.H: Que humilde!
L.F.B: O primeiro espetáculo em 2 meses teve 25 mil espetadores com muito pouca promoção, foi incrível! E eu acho que este é melhor! É tecnicamente mais exigente, tem um lado muito sincero, e aquela dúvida do que será verdade ou invenção.
A.R: Toda a peça tem uma premissa real, que depois é extrapolada. A comédia, no fundo, é isso mesmo.
M.H: Esta é uma oportunidade para quem gosta de nós, ver-nos mais libertos, sinceros e fragilizados. Há muitos pontos em que tocamos que as pessoas se vão rever e identificar.
L.F.B: Passamos de um tema sério e transversal como é a morte, para um momento de pura galhofa e risada, em que desconstruímos a expressão morte por “foi de férias” e tudo fica mais ligeiro, tem a ver com o peso que se dá a certas palavras. Este é um dos meus momentos preferidos.