Cinco anos depois está de regresso o icónico espetáculo que teve 25 mil espectadores em dois meses. Os três amigos estão de volta e cheios de novidades. Há cinco anos: o Raminhos esperava a terceira filha, o Horácio era o pai divorciado, e o Borges andava livre e solto… Agora, o último já é casado e pai, o do meio reencontrou finalmente o amor, e o primeiro vive um conflito entre o seu velho e novo eu. O que será que mudou nestes últimos cinco anos? Foi o mundo ou foram eles? Ou será que foi o mundo deles? A Mais Superior esteve à conversa com os três amigos Sem reservas, sem medos (e devidamente vacinados). Vem daí perceber porque é que três é (mesmo) demais!
A primeira edição do “Três é Demais” foi em 2016, porque decidiram regressar agora com a segunda edição?
A.R: Porque nós somos tipo os ABBA…
L.F.B: Nós voltamos, mas já em holograma, já não somos nós!
L.F.B: Nós já falamos em regressar, sem exagero há dois anos!
A.R: Sim, falámos na passagem de ano de 2019 para 2020 no Casino Estoril. Conversámos os três, íamos mesmo avançar e depois veio a pandemia!
L.F.B: Exato, por isso, as razões para voltarmos são: A: Tínhamos vontade há muito tempo. B: Este momento que atravessámos e, ainda estamos a atravessar, deu-nos ainda mais vontade, porque, pessoalmente, passámos demasiado tempo sozinhos. Portanto regressar com amigos, poder estar com eles a fazer um novo espetáculo, depois deste ano e meio, é exatamente aquilo que o médico receitou!
A.R: É curioso, porque eu penso exatamente da mesma forma. Eu estava a fazer o “Sol” antes da pandemia e agora havia a oportunidade de voltar, mas eu preferi não avançar, porque me sinto muito melhor a voltar ao palco com amigos, estar com eles, divertir-me e saber que não estou só a fazer uma peça de teatro, estou com pessoas que me dizem mais do que isso, para mim ganha tudo um novo significado.
M.H: E estamos mais protegidos! Não sabemos como vai ser a reação do público, foram quase dois anos sem espetáculos e sinto que o público desaprendeu um pouco a ver espetáculos, a sentir a magia de assistir a um espetáculo. Estando os três, estamos mais seguros, porque confiamos uns nos outros.
O que muda da primeira edição para esta segunda, na forma como encaram o espetáculo?
L.F.B: Obviamente que quando fazes uma coisa que já fizeste, de alguma maneira a segurança é diferente, e este não é um espetáculo estanque, pelo menos na primeira edição não era. O “Três é Demais” tanto podia durar 1h40m, ou 2h40m. Nesta edição isso é mais difícil de acontecer, porque é mais teatral e estamos quase sempre juntos em palco, o Raminhos entra sozinho, mas ao fim de uns minutos entramos nós e a partir daí, estamos lá sempre até ao final. Na primeira edição tínhamos pequenos momentos de stand-up, em que dava para saírmos de palco, respirar e depois regressar já mais descontraídos. Agora é impossível!
Para além do que o Borges já disse, o que muda da primeira edição para a segunda?
M.H: A principal diferença é que esta é mais teatral, obriga-nos a um trabalho mais semelhante ao de ator, apesar de fazermos de nós próprios, o que por vezes é o mais complicado para um ator, há coisas que têm de ser representadas. Emocionalmente há um trabalho mais apurado, estamos mais sinceros, e mais frágeis também. No primeiro havia um tom mais cómico, de stand-up, podíamos divagar mais no humor, havia uma bolha de segurança maior, que agora não há. Estamos mais vulneráveis e emocionais agora. Mas isto é bom! É isto que sentimos que as pessoas precisam e querem.
A.R: Sim, e tem mais sentido. Desenhámos uma peça de teatro cómica, mas com princípio, meio e fim, tem mais sentido.
L.F.B: E com momentos bastante inesperados para os três! Apesar de estarmos a fazer de nós próprios, há pelo menos um momento, em que cada um faz uma coisa que ninguém estará à espera de nos ver fazer.
Esta peça faz-vos ir um pouco para fora de pé pessoal e profissionalmente?
L.F.B: Há um caso ou outro que sim. Eu faço um rap… (risos) e sim, isto é atirar-me para fora de pé.
A.R: Nós dissemos que isso era ir MUITO para fora de pé, mas o Borges… Por acaso está muito giro, não é por ser eu a dizer, mas está mesmo! Se não estivesse eu faria um riso forçado, não me ria com vontade!
M.H: Estes cinco anos que separam as duas edições trouxeram mudanças na nossa vida pessoal, por exemplo, o Borges foi pai pela primeira vez. E, para esta peça, há aqui um trabalho de partilha de medos, dúvidas e receios, com o público. O que eu mais gosto é que as pessoas ficam na dúvida se o que estamos a dizer é verdade, ou se estamos a inventar. Na realidade o que acontece é um misto: há é um misto. Há muita coisa que é verdade, mas há muita coisa que é extrapolada para ter graça. E essa generosidade da nossa parte, só é feita em palco. Nós só partilhamos a nossa vida pessoal em palco, e o público está a assistir como se fosse o quarto amigo, que faz parte desta reunião semanal de amigos, que começou na pandemia com o passeio higiénico e continuou, porque é um momento em que estamos os três, que conversamos uns com os outros, desabafamos e pronto, na próxima semana estamos cá novamente! No fundo, isto é o que nós sentimos que as pessoas sentiram mais falta durante a pandemia: conversarem, estarem juntas e nós vamos buscar essa emoção.