A leitura tem um papel central na nossa sociedade. Grande parte do trabalho está relacionado com ela, assim como muitas áreas da vida quotidiana. Colocamo-la em prática nos estudos e no trabalho, na construção de documentos, de e-mails e folhetos informativos, sendo um essencial no dia-a-dia de qualquer pessoa.
No entanto, para as pessoas disléxicas, algumas destas tarefas consideradas simples passam a ser mais complexas, como por exemplo ler sem ser em voz alta, ou mesmo rever erros ortográficos ou construção frásica em textos.
A dislexia, tal como outros transtornos de aprendizagem, tem uma origem neurobiológica, porem não é no sentido mais literal da palavra uma doença e sendo assim, não tem cura. No entanto, é um equívoco comum pensar que a dislexia termina assim que deixamos de ser crianças: este transtorno de aprendizagem faz parte de nós e acompanha-nos a vida inteira. Ainda assim, as grandes dificuldades durante o percurso académico passam pela falta de informação: se por um lado a mesma faz com que os colegas pensem que os disléxicos são pessoas que não conseguem ler, por outro, da parte do sistema educacional, torna difícil saber que mecanismos e habilidades devem ser fornecidos a estes alunos para os auxiliar.
Mas com os anos, desenvolvemos a capacidade de compensar os desafios com outras habilidades. Com o tempo e desde que minha dislexia foi diagnosticada, tenho procurado identificar e trabalhar nos meus pontos fracos, o que exige um grande esforço – no entanto compensa ver que os aperfeiçoou mais a cada dia.
A organização é para mim um mecanismo fundamental. Quando se trata de escrever algum trabalho é necessária muita pesquisa antes de me sentir confiante para começar a escrever. Depois de terminar sei que foi feito um bom trabalho, mas é um processo cansativo. Estas estratégias desenvolvem outros tipos de aptidões que são vantajosas. Muitas vezes, a forma de pensar dos disléxicos não está necessariamente relacionada com palavras e isso facilita a expressão de ideias com mais clareza, desenvolvendo assim a capacidade de síntese e criatividade.
A dislexia nada mais é do que um desafio – muitas vezes de coexistência com a restante sociedade. Apesar dos problemas que enfrentamos na escola, carreira ou trabalho, reconheço que a dislexia me ajudou a ter mais sucesso na vida, pois potenciou o desenvolvimento de diferentes capacidades. Por exemplo a aprendizagem conceitual (mapas mentais, vídeos e questões) deu-me formas de evidenciar o que aprendi. Recentemente, o uso de texto para fala por meio de tecnologia foi um grande passo para mim. Através do auxílio de pequenos dispositivos, com um simples clique, é possível ler texto impresso de qualquer tipo de superfície (física ou digital) em voz alta, ajudando-me com um dos meus maiores desafios.
A melhor forma de lidar com a dislexia, seja qual for a sua origem e quando a detetarmos, será multidisciplinar. Dependendo das necessidades de cada pessoa, o objetivo será se aprimorar com exercícios que auxiliem a memória, a leitura, as estratégias de aprendizagem e diferenciação de estímulos auditivos e escritos, e aprender a relacionar a informação visual com a auditiva. No plano psicológico, é preciso trabalhar todas essas barreiras auto-impostas e rótulos que temos adquirido para que nossos pensamentos não nos limitem no que diz respeito a enfrentar o nosso dia a dia.
Mas o mais crucial é não desistir. A dislexia é algo que necessariamente implica requer mais trabalho do que a média, mas o sucesso é uma grande recompensa. O importante é lembrarmo-nos sempre que as dificuldades podem complicar um pouco mais o caminho para os nossos objetivos, mas que isso não significa que não tenhamos a opção de os ter.
Joana Gonçalves, Estudante da ESECS do IPLeiria e Brand Ambassador de OrCam Read