Vinte anos após a viragem de século assistimos a um verdadeiro “reset” global, com grandes desafios para o ensino e para o mercado de trabalho, que estão ainda longe de terem terminado. Quase um ano volvido, de trabalho e ensino em formato “à distância emergencial”, o que é que aprendemos com a experiência e o que decidimos fazer com ela?
A tão esperada automatização de cerca de 60% das atividades profissionais, o consequente desaparecimento de postos de trabalho (já esperado) até 2030 (World Economic Forum, Jobs of Tomorrow Mapping Opportunity in the New Economy, 2020), o trabalho remoto, a redução do número de horas de trabalho diário, os novos perfis de contratação e o maior foco em novas competências (powerskills), como criatividade, capacidade de persuasão, espírito colaborativo, adaptabilidade e inteligência emocional, faz cada vez mais sentido.
É possível que este seja o momento da tão esperada mudança de paradigma, no estilo de vida das empresas e dos seus colaboradores e, também, o da urgência de reestruturar o modo como o mundo encara o trabalho. Mas é na escola que está o maior desafio.
Professores, alunos e pais vêem-se obrigados, face à suspensão de atividades presenciais, a definir as estratégias possíveis e a implementar planos de ação, de acordo com os seus próprios recursos e meios disponíveis. Todos, sem exceção, são forçados a adaptar a suas rotinas para manter os seus compromissos. Com a agravante de que pais e filhos partilham, agora, o mesmo espaço onde habitam, estudam e trabalham.
Neste processo de adaptação, a tecnologia desempenha um processo fundamental. De acordo com o estudo “Estudar em Tempo de Pandemia”, desenvolvido pelo Observatório da Fábrica_IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, os principais recursos necessários ao acompanhamento das aulas não presenciais são o acesso à internet e ao e-mail (84,9%), e um computador para assistir às aulas em formato de vídeoconferência e aceder às plataformas disponíveis para o efeito (97,4%).
Face à experiência de ensino “à distância emergencial” as opiniões dividem-se. Nesta pesquisa, levada a cabo em 2020, 66,3% dos alunos inquiridos afirmou que a importância de voltar às aulas presenciais está relacionada com a necessidade de estar pessoalmente com os amigos e colegas.
Para muitos dos alunos, a maioria do seu tempo de aulas é dedicado a responder aos exercícios lançados pelos professores (81,1%), a assistir a aulas em formato de videoconferência (85,3%) e, nos seus tempos livres após o tempo de aula, o recurso às redes sociais e apps (73,2%) serve para comunicar com amigos e colegas, numa tentativa de colmatar a necessidade de estar com os seus pares e de ter o apoio dos professores para poder tirar dúvidas e trocar ideias, reforçando o quão importante é a vertente “humana” da experiência letiva.
É com um olhar especialmente atento sobre as necessidades dos alunos e a qualidade da sua experiência letiva que o IADE se posiciona na linha da frente, apostando em modelos e métodos de ensino essencialmente experienciais. Seja através da implementação de projetos e desafios criativos, pela aposta em parcerias e sinergias que cruzam diferentes áreas e saberes, e pelo recurso a tecnologia inovadora, deslocando a sala de aula do espaço tradicional, entre quatro paredes, para uma nova realidade espaço-temporal onde quer que estejam os alunos, professores, técnicos, colaboradores, empresas, instituições e entidades parceiras. Porque a criatividade não pára nunca e todos estão, permanentemente, conectados.
Agora, mais do que nunca, fala-se sobre criatividade para resolver problemas e lidar com o imprevisto, sobre o ensino da autonomia, flexibilidade, capacidade de adaptação e sentido crítico. As escolas do futuro, certamente, irão funcionar com base em novas premissas, onde estará incluído o acesso à tecnologia e formatos mistos ou híbridos de ensino.
O aspeto mais positivo desta experiência é, sem dúvida, a oportunidade de nos prepararmos e contribuir para o ensino do século XXI, que começa agora mesmo, tendo de ser flexível, colaborativo, híbrido, digital, mas especialmente, divertido e criativo.
Sandra Gomes Rodrigues
Coordenadora Observatório da Fábrica_IADE, Universidade Europeia