Na canção AAA dizes: “Papi no rap é tipo Modric na Croácia”. Já colaboraste com grandes artistas, estás no top nacional. Como é fazer parte da seleção da nova geração do rap? Como é trabalhar com artistas que, no fundo, há dois anos sonhavas ser como eles?
Faço parte da seleção desta geração de rapazes que está a tentar fazer coisas interessantes na música e no rap. Numa perspetiva mais madura, e olhando em retrospectiva, deixa-me muito orgulhoso porque quando comecei esta caminhada e quando decidi começar a fazer as minhas letras, era para este caminho que me queria direcionar. Ter a oportunidade de trabalhar com estes artistas, conviver com eles, trocar ideias, fazer música, com qualquer um deles eu tenho sempre muito mais a aprender do que ensinar, mas sinto-me muito confortável com todos. Numa ótica de fã, eu sinto-me um miúdo no parque a brincar com os putos fixes (risos). Eles são cool kids e eu tenho a oportunidade de estar com eles, é assim que eu me sinto por dentro. É o orgulho de sentir que cheguei a algum lado, que se não tivesse valor nenhum, não teria oportunidade de trabalhar com eles, e de fazer coisas bonitas. Portanto, se tenho essa oportunidade, é porque existe aqui qualquer coisa, e é só mais uma confirmação de que estou no caminho certo.
Passaste pela Liga Knock Out, estás num grupo e tens uma carreira a solo. De que forma é que estas experiências contribuem para forma como tu estás hoje na música?
É uma escola, vamos lhe chamar assim. Tens que começar com alguma base, entender o porquê de as coisas serem feitas da maneira que são feitas, e depois, quando tens a oportunidade, vais começando a expandir o teu conhecimento. Vais conhecendo outros meios artísticos, começas a adicionar mais camadas à tua arte. Eu olho para trás e só tenho orgulho do caminho que fiz até agora, porque sinto que ainda me faltam coisas para fazer, mas, do que está para trás, sei que foi necessário para me fazer chegar até aqui. A Liga Knock Out foi uma plataforma que permitiu a muitas pessoas conhecerem-me e saberem, pelo menos, o potencial que eu tinha na altura. Grognation permitiu-me exprimir a minha criatividade e fazer algo que eu já queria há muito tempo. Deu-me um gozo tremendo, tenho um background de desporto, grande parte dele feito em coletivo. Gosto muito da dinâmica de grupo, e depois sou um indivíduo e também tenho caraterísticas que também quero mostrar ao mundo. Chegou a altura também de mostrar essas características individuais, de mostrar aquilo que eu consigo fazer individualmente, e também fez sentido lançar o meu álbum naquele timing. Agora é perceber o que é que vai ser a próxima etapa e continuar a regar estas plantas que fizemos para trás, que fizeram muito sentido para me trazerem até aqui. Sinto que a minha escola foi uma escola muito completa. Mesmo na universidade, fui às praxes, estudei, fui sair à noite… Tudo está a ser uma aprendizagem all around. Estou a aprender um pouco de tudo e estou a passar por todos os postos necessários para dominar esta área.
Frequentaste a licenciatura de Ciências da Comunicação. Não terminaste?
Não, não cheguei a acabar. Gostava muito de ter terminado! As condições económicas na altura não me permitiram. Com o Slow J pisaste o palco da Altice Arena. Agora vais voltar lá, dia 18 de dezembro.
Durante esse período, alguma vez pensaste em seguir a área da comunicação, antes de interromper os estudos? Chegaste a trabalhar num restaurante ao mesmo tempo que te dedicavas à tua carreira. A música sempre foi o foco principal?
A música sempre foi um foco, mas não o foco total. Temos de viver, construir a nossa vida, e nem sempre a música te permite focar a 100%. Dentro desse processo, fez parte desta fundação que é a minha identidade artística. Quando eu estava na faculdade, lembro-me perfeitamente que tive uma cadeira em que numa das primeiras aulas a professora perguntou qual é que era o nosso objetivo ao tirar o curso. Em comunicação, grande maioria quer seguir jornalismo. Eu fui a única pessoa que disse que eu estava a tirar o curso para seguir a minha paixão, a música. A música tem intermediários, tem canais de mídia, e que para mim fazia sentido entender os meios de comunicação. Quanto mais e melhor conhecer os meios por onde a música passa, melhor vou exercer a minha função. Eu queria simplesmente entender qual é que era o meu posicionamento, como é que eu consigo posicionar a minha música da melhor maneira. Isto para dizer que já nessa altura eu estava sempre com a cabeça na música, não totalmente focado, mas sempre em mente que eventualmente haveria de conseguir chegar a este ponto. Só não terminei a faculdade mesmo por questões financeiras, não foi por me querer focar na música.