O que retiras da tua passagem pelo Ensino Superior?
Sinto que não aproveitei bem. A primeira vez não foi bem escolhido, Gestão de Marketing não era o que queria, fui sem saber. Precisei de vivenciar para perceber que aquele não era o meu caminho. Já História da Arte, eu gostava, adoro ler, até gostava das unidades curriculares mais “chatas”, mas surgiu numa fase em que tinha outros projetos, e trabalhava de dia e de noite. Se tivesse sido bem direcionado em novo, podia ter escolhido melhor.
E de onde surgiu a música?
Eu nunca tinha feito nada de música, só aquelas brincadeiras em criança a imitar cantores. Nunca tinha explorado mais que isso, mas esteve sempre muito presente na minha vida. A música apareceu num dos bares que explorava no verão. Numa noite, fizemos uma jam session e eu, a certa altura, peguei no microfone e comecei a improvisar e tive uma epifania, um momento em que percebi que realmente era a música que eu queria. Foi a luz. Comecei a fazer música nessa altura, com 26 anos. Falei com uns amigos da área, membros dos The Gift, que já andavam na estrada a dar concertos e ofereci-me para ser roadie. Fui eu e o meu irmão. Com isso, ficámos com acesso ao estúdio e podia gravar as minhas canções.
Canções de comédia?
Não, eram canções sérias. Expressava assuntos mais sérios e introspectivos, até fiz um álbum, que saiu em meados de 2002 pela mesma editora que lançou o Sam The Kid. Na altura vendi um carro que tinha para pagar um videoclipe, o da canção Viola-me Elétrica, que andava por Lisboa com uma bomba no peito… Eu falava bastante a sério… Fiz o videoclipe com a bomba e… toda a gente se ria. O Rui Unas gozou no Curto Circuito e tudo… Fiquei surpreso mas depois alinhei, até ligava para lá a pedir o vídeo. Sabia que as pessoas se iam rir e assim passavam o meu videoclip. Continuei, fiz outro vídeo, o Demasiado Concentrado Em Mim, e o resultado foi o mesmo… tudo a rir! Ainda fiz mais um, o SOS. Engraçado que até ganhei um prémio no Brasil, com uma música instrumental com a voz do Raul Solnado, Está Lá É Do Inimigo.
Sentiste que a comédia era o teu caminho?
Sim, de certa forma. Comecei a aperceber que fazia rir, fui estimulado por alguns amigos e também se foram sucedendo uma série de acontecimentos à volta que me fizeram ver que o meu caminho era a comédia. Fazia os meus videoclipes, mas a música não me dava muito, quase nada. As pessoas riam-se porque eu era um erro de casting. De repente, surge o Levanta-te e Ri e os Gato Fedorento. Quando apareceram os Gato Fedorento, eu via e não gostava, mas, de uma certa maneira, incentivaram-me a fazer algo meu. Eu não era fã, mas percebi que aquilo era muito simples, sem grande orçamento, e senti-me estimulado a fazer algo meu.