A alcunha Jel, vem de criança?
Sim, vem de miúdo. Com 14 anos utilizava um penteado com muito gel, cabelo espetado para cima, então houve um colega que me começou a chamar Jel.
Foi com essa idade que começaste a dar os teus passos no mundo artístico?
Não, comecei tarde. Eu cresci no subúrbio e os meus pais trabalhavam de manhã à noite. A minha infância era jogar à bola, brincar, ir à escola… Entrei na universidade aos 18 anos em Gestão de Marketing, no Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM), mas fui ao engano… ia à procura da vertente mais criativa da área, mas percebi que era muito virado para a Gestão. Ao fim de dois anos decidi que não era para mim, desisti e fui trabalhar para a noite, no Bairro Alto, a apanhar copos e como barman.
Então, a tua aventura nas artes começou aos 20 anos?
Sim, aos 20 anos, enquanto trabalhava no Bairro Alto, vi um anúncio de um curso de iniciação de teatro, com duração de seis meses. Fiquei interessado porque em miúdo brincava ao “faz de conta” sozinho no meu quarto, imitava os cantores que ouvia nos discos do meu pai. Acabei por me inscrever no curso. Mais tarde, um amigo de infância e a namorada, que já tinha trabalhado com a Marina Mota, decidiram fundar uma companhia de teatro e convidaram-me. Era para fazer peças para escolas, o Auto da Barca do Inferno e o Auto da Índia.
Então foi aí o começo desta aventura.
Sim. Para mim foi incrível, uma grande escola. Entrar numa companhia, decorar o texto, fazer várias personagens… um grande desafio. Fiquei lá três anos a trabalhar. Era um trabalho duro, chegava a fazer quatro peças… para público adolescente, que é difícil de agarrar! Tens de entrar sempre com energia e sem rodeios! E, para além de representar, também montávamos os cenários.
Porque saíste?
Sentia que não era o que eu queria para a minha vida… Continuei a trabalhar à noite e, no Verão, alugava e explorava bares na Costa da Caparica. Entretanto, voltei para a faculdade, em 1998, inscrevi-me no curso de História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Estava a gostar muito, só que depois surgiu-me outro trabalho: manipulador de bonecos no Contra Informação. Vi o casting num anúncio e pensei, “bora lá”. Este “bora lá” sempre me abriu muitas portas, não tinha experiência mas… bora lá. A equipa gostou de mim.E foi aí que me apercebi que às vezes não somos escolhidos só pelas nossas capacidades, porque eu nem era o melhor, entrei pela minha boa onda e fiquei lá uma série de anos. Mesmo assim, sentia que não era aquilo que queria, continuava à procura.