Formar cidadãos, pessoas completas e conscientes, seres humanos com convicções e valores. Esta é, indiscutivelmente, a missão final do Ensino Superior, em qualquer país, não só em Portugal.
A transição do Ensino Secundário para o Ensino Superior é muito mais do que trocar de cidade, fazer novos amigos, passar para o sistema de ECTS, deixar de ter um Diretor de Turma e deixar de ter períodos para ter semestres. Esta transição é o conjunto da mudança destas circunstâncias, e de muitas outras, incluídas na mudança de paradigma: a última etapa antes de qualquer um de nós, ainda muito jovem, entrar na sociedade como cidadão e profissional ativo. É esta ideia de reta final numa etapa da vida e as liberdades e obrigações associadas a ela que fazem do Ensino Superior o tubo de ensaio para podermos entender qual vai ser o nosso contributo, e como o vamos poder dar, à sociedade.
Este processo de construção de personalidade, postura cívica e visão sobe o mundo é baseado numa série de escolhas que se fazem e experiências que se têm. As opções são variadas: integrar uma tuna ou um grupo académico, fazer parte de um júnior empresa, pertencer a um grupo de investigação científica ou dedicar-se ao associativismo estudantil, entre muitas outras. Muitos escolhem só uma delas, outros tantos escolhem mais que uma e ainda há quem opte por apenas se dedicar à componente curricular do seu curso. Todas escolhas legítimas, não me cabendo a mim fazer juízos de valor sobre qualquer tipo de escolhas que não as minhas.
Eu escolhi o associativismo estudantil, desde 2014, e é com base nessa experiência que gostava de partilhar convosco qual penso ser a importância do associativismo no que é cumprir a missão final do Ensino Superior.
As associações e federações académicas e de estudantes são hoje muito diferentes do que eram nos momentos da sua fundação. Se há décadas estas estruturas eram entendidas ou como vazias de conteúdo e que apenas promoviam eventos recreativos, vulgo festas, ou então que serviriam de braço armado para as juventudes partidárias, hoje são muito mais. Sem precisarmos de olhar para as estruturas de maior dimensão ou com mais anos de história, o que se encontra hoje no ecossistema do associativismo estudantil são organizações que diversificaram o seu leque de ação: rara será a associação de estudantes que não tenha no seu plano de atividades um componente de intervenção social e promoção de voluntariado, formativa, desportiva, cultural e política educativa, desprendida de amarras e concentrada na promoção do bem-comum da comunidade estudantil. Nestas estruturas encontram-se projetos sólidos e que, muitas das vezes, complementam e colmatam ofertas que, por variadas razões, não conseguem ser oferecidas aos estudantes pelas Instituições de Ensino Superior.
Fazer parte deste tipo de estruturas fez-me estar ainda mais convicto de que o associativismo estudantil é indispensável ao Ensino Superior por duas razões: a primeira é de que continuar a ser uma escola de cidadania para os estudantes que por lá passam, criando a consciência de uma sociedade diversa onde todos podemos ter um papel importante, desempenhado o nosso próprio papel; a segunda é de que continuam a ser indispensáveis para o funcionamento do sistema, sendo promotores do espírito de comunidade e de pertença à instituição, que é uma ferramenta fundamental para a implementação das estratégias institucionais.
Em suma, e cada vez mais, as associações e federações académicas e de estudantes são escolas de cidadãos e revelam-se capazes de acompanhar a evolução dos tempos, mostrando que são pioneiras em criar respostas para os problemas da geração que representam.
Texto de Marcos Alves Teixeira – Presidente da Federação Académica do Porto