André Reis é o recém-eleito presidente da Federação Académica do Desporto Universitário. A Mais Superior entrevistou-o para o conhecer melhor e perceber como vai orientar o rumo da FADU ao longo do próximo biénio.
Mais Superior (MS) – Quem é André Reis, atual presidente da FADU?
André Reis (AR) – O André Reis é um jovem, estudante do Ensino Superior, com um trabalho já feito no ambiente associativo estudantil, que sempre se preocupou muito com a causa do desporto e com a luta pelos direitos dos estudantes-atletas e que entendeu que era a altura certa para abraçar este desafio na Federação Académica do Desporto Universitário. Portanto, sinto que sou um jovem irreverente com energia e que gosta, particularmente, de lutar pelos interesses dos estudantes-atletas e pela causa do desporto universitário.
MS – Quando decidiste candidatar-te à presidência da FADU? E porquê?
AR – Foi uma decisão recente. Assim que senti que por limitação de mandatos o presidente cessante [Daniel Monteiro] não se poderia recandidatar, entendi – depois de reunir um conjunto de apoios e a opinião de algumas pessoas – que tinha condições pessoais e projeto para a FADU para poder apresentar uma candidatura aos orgãos sociais. Foi isso que decidimos fazer. Não foi uma coisa politicamente pensada. Foi muito genuíno e foi nessa base que decidimos avançar e apresentar um projeto para o biénio 2019/2021.
MS – Que desafios esperas encontrar ao longo do próximo biénio?
AR – A FADU teve um crescimento brutal, nos últimos anos. É hoje uma federação multidesportiva reconhecida por todos – pela sociedade civil, pelo sistema desportivo nacional, pelas instituições de Ensino Superior – e tem muitos desafios pela frente. Eu acho que a grande prioridade para os próximos dois anos tem que ser necessariamente o aumento da prática desportiva no seio das instituições de ensino superior. A FADU já fez um grande trabalho, ao nível da competição formal.
Temos um historial de grande organização de provas de desporto universitário nacional, temos modelos competitivos que, hoje em dia, estão feitos para chamar mais atletas e gerar mais competitividade às provas da FADU. A nível internacional também fizemos um caminho excelente com grandes resultados nas Universíadas e nos Campeonatos Mundiais. Esta direção entende que, a partir de agora e ao longo dos próximos dois anos, o foco terá que ser o desporto informal e o aumento da prática desportiva.
MS – Quais são as grandes metas e os principais desafios desta Direção?
AR – Nós estabelecemos internamente que o grande objetivo é que as instituições procurem, a curto ou a médio prazo, ter um projeto em que, pelo menos, metade dos estudantes do Ensino Superior pratique desporto – seja pela via formal, seja pela via informal. [Queremos] que a academia portuguesa esteja em permanente atividade física e desportiva. Portanto, esta é a grande meta para os próximos dois anos.
[Queremos] chegar aos 50% de praticantes desportivos nas instituições de Ensino Superior. Estamos conscientes que esse trabalho não se faz sozinho. A FADU não consegue chegar a estes objetivos sem o compromisso de todos os agentes em redor do desporto universitário. Isto é um trabalho que tem de ser de parceria constante entre FADU, movimento associativo estudantil, instituições de Ensino Superior e o sistema desportivo nacional. Mas se todos estivermos alinhados, neste ótica, se todos tivermos uma estratégia uniformizada acredito que podemos chegar com alguma facilidade a estes números.
MS – Que estratégias a FADU vai adoptar para combater o abandono da prática desportiva por parte dos estudantes do Ensino Superior?
AR – Nós entendemos que o estatuto estudanteatleta – que foi publicado em Diário da República, em abril deste ano – é algo muito recente e estamos agora a começar o primeiro ano de aplicação. Era uma grande luta da FADU e é, sem dúvida nenhuma, um dos grandes instrumentos para impedir que os estudantes abandonem a prática desportiva no seio das instituições de Ensino Superior. Contudo, também temos a perfeita consciência que o estatuto estudante-atleta ainda não está perfeitamente implementado. Esta direção já tem conhecimento que o estatuto estudante-atleta não está a ser cumprido pela larga maioria das instituições de Ensino Superior. Isto é importante ficar claro. Um dos direitos que os estudantes-atletas têm atribuídos pelos estatutos de estudante-atleta é a prioridade na escolha das turmas e poderem escolher os seus horários, por consequência. A larga maioria de instituições de Ensino Superior, por aquilo que nós temos conhecimento, ainda não está a aplicar este direito do estudante-atleta. No ato de matricula para este ano letivo, as instituições de Ensino Superior não deram prioridade aos estudantes-atletas na escolha do seu horário e na escolha da sua turma. Portanto, se temos um lei de âmbito nacional, que está publicada, que obriga as instituições de Ensino Superior a cumprila e as instituições não cumprem, a FADU tem aqui um trabalho a fazer para que esta estratégia seja realmente vencedora e [continue] a dar mais condições aos estudantes-atletas e não sejam apenas palavras e artigos de um decreto-lei publicado em Diário da República.
“Esta direção entende que, a partir de agora e ao longo dos próximos dois anos, o foco terá que ser o desporto informal e o aumento da prática desportiva.”
MS – Podemos considerar que este novo estatuto estudante-atleta não é caso arrumado para a FADU? Como é que a Federação vai acompanhar a implementação do novo estatuto? E para quando a criação do “observatório do estudante-atleta”, que acompanha essas tais irregularidades na aplicação do estatuto?
AR – Nós estamos a definir ainda internamente o nosso plano de atividades e orçamento para 2020 que vai operacionalizar esta estratégia mas, efetivamente, já definimos que, em primeira instância, vamos reunir com as instituições de âmbito nacional que representam as instituições de Ensino Superior (CISP, CRUP e APESP) para dar nota que temos conhecimento que o estatuto estudante-atleta ainda não está efetivamente, na sua totalidade, a ser cumprido por parte das instituições de Ensino Superior. Também temos de falar com os nossos associados para definir uma estratégia de âmbito nacional para perceber, efetivamente, quem é que está a cumprir e quem é que não está a cumprir e identificar estes casos. A nossa ideia é que até ao fim desta época desportiva seja possível criarmos um espécie de conferência nacional, um momento de debate, para fazer o balanço da aplicação do estatuto estudante-atleta e apresentarmos propostas de melhoria ao Estado e ao Governo que podem vir a ser incluídas numa futura revisão do documento. Vamos estar centrados, essencialmente, em acompanhar a implementação, reunir com os parceiros, discutir nacionalmente o que está a correr bem e o que está a correr mal e apresentar as necessárias revisões e melhorias do documento.
MS – A ligação ao desporto federado e as carreiras duais continuará a ser uma das prioridades da FADU?
AR – Absolutamente! Efetivamente, o desporto universitário é um modelo único de desporto nacional e internacional porque coloca pessoas que estão a apostar na formação superior, ao mesmo tempo, a praticar desporto. Se existir alguma direção da FADU ou algum presidente da FADU que não define isso como uma prioridade – ou seja, dar voz a esses estudantes que decidem acumular a sua vida académica com a prática desportiva – não estará a cumprir necessariamente com os desígnios de uma federação académica de desporto universitário.
MS – No discurso de tomada de posse, afirmaste que a FADU vai apostar no desporto informal. Em que é que isso se vai materializar?
AR – Nós estamos a estudar a possibilidade de uniformizarmos a prática do desporto informal, ou seja, a competição interna dentro das instituições de Ensino Superior. Estamos, neste momento, a estudar a criação de um projeto em que o objetivo é juntar todas as equipas que participam nas competições internas das instituições de Ensino Superior e criar uma espécie de fase final a nível nacional só alocado ao desporto informal. Porque, como nós sabemos, por via dos Campeonatos Nacionais Universitários conseguimos chegar aos melhores mas, efetivamente, existe uma enorme franja de estudantes que decide praticar desporto de forma informal dentro das escolas, faculdades ou universidades, que acabam por não ser os melhores e não são selecionáveis para as provas do Campeonatos Nacionais Universitários que a FADU organiza mas que gostavam também de ter um momento de âmbito nacional para praticar desporto e competir com colegas seus de outras instituições de Ensino Superior. Portanto, vamos tentar uniformizar, sentar à mesa os agentes à volta do sistema desportivo universitário e discutir um modelo que possa dar mais força à área do desporto informal e colocar a academia portuguesa a praticar desporto.
MS – Portanto, podemos considerar que FADU tem adoptado uma postura de incentivo a atletas do Ensino Superior e a iniciativas que enaltecem o desporto universitário. Esta postura vai manter-se?
AR – Claramente! Essa postura é essencial. Faz parte da vida da Federação Académica do Desporto Universitário. A FADU não consegue mudar o mundo e não consegue contribuir para o desenvolvimento do desporto nacional se no âmbito desse desenvolvimento não forem criadas estratégias e parcerias estratégicas para o desenvolvimento do desporto nacional.
A FADU está disponível a sentar-se com as organizações e a pensar o futuro do desporto nacional.
“A FADU está disponível a sentar-se com as organizações e a pensar o futuro do desporto nacional.”
MS – A FADU candidatou-se, em outubro, à organização dos campeonatos mundiais universitários de 2022 e 2024. Podemos acreditar que a Federação vai continuar a ter uma participação ativa nas competições nacionais e internacionais? E manter o título de federação mais ativa da Europa?
AR – Evidentemente! O objetivo desta direção não passa por regredir, pelo contrário. Há muitos desafios e a FADU tem consciência que há um grande trabalho feito no programa internacional. A FADU é hoje uma federação respeitada internacionalmente como nunca. Foi, recentemente, premiada na Gala Anual da EUSA, que ocorreu na cidade de Aveiro, como a federação mais ativa da Europa. E este caminho tem de continuar a ser feito com organizações exemplares, reconhecidas no âmbito do programa de desporto universitário internacional. E a FADU continuará a apresentar candidaturas e continuará a apresentar organizações de excelência.
MS – Em 2020, a FADU comemora 30 anos de existência. Já foram pensadas comemorações para o próximo ano, nesse âmbito?
AR – Ainda agora estamos a tomar posse mas tivemos as primeiras reuniões de direção e já começámos a definir um grupo de trabalho que ficará responsável para preparar as comemorações dos 30 anos [da FADU] e oportunamente vamos dar conta aos nossos associados e à sociedade civil do nosso “programa das festas”. Mas certamente que incluirá discussão, momentos de recordar um pouco o caminho que temos feito até agora e também momentos para projetarmos o futuro e pensarmos como é que serão os próximos 30 anos da FADU.
MS – E não se pode levantar o véu?
AR – Ainda não porque ainda estamos numa fase embrionária do projeto mas acredito que até ao final deste ano civil vamos ter um programa desenhado no âmbito das comemorações dos 30 anos da FADU.
MS – Que mensagem gostarias de deixar aos estudantes do Ensino Superior, enquanto presidente da Federação Académica do Desporto Universitário?
AR – Em primeiro lugar, aos estudantes do Ensino Superior: entendam que a prática desportiva apenas beneficia o percurso académico deles, apenas os torna mais saudáveis, apenas os torna mais aptos para, no âmbito das aulas, dos exames, do estudo, estarem mais concentrados, mais preparados e mais disciplinados para terem resultados também académicos. Portanto, [endereço] um incentivo geral aos estudantes do Ensino Superior para apostarem na prática desportiva e na atividade física.
Aos estudantes-atletas quero também deixar uma mensagem de reconhecimento pela extraordinária carreira que levam: uma carreira dual, onde conciliam a vida académica e a prática desportiva. E a FADU continuará a acompanhar o percurso deles e a ter uma voz ativa na defesa daquilo que nós entendemos como direitos dos estudantes-atletas e do estatuto por parte de todas as instituições de Ensino Superior.
[Imagem: FADU]