O voto obrigatório é um fármaco, não é a solução.
Já passou algum tempo das eleições, já se fala das pastas, quem entra, quem sai, quem fica. Poucos são os comentadores políticos que continuam, ou querem ainda falar da abstenção.
A Abstenção é aquele amigo que às vezes dá jeito falar do nome, porque mostra que conhecemos muitas coisas, mas esse apenas falamos 5% do tempo, o resto gostamos de puxar da veia futebolística, havendo um jornalista que afirmou ter encontrado 20 alternativas, qual especialista técnico-táctico, para o António Costa fazer coligação, até com o CDS este jornalista encontrou! Depois admiram-se que temos uma sociedade mal informada…
Já aqui tinha falado sobre a Abstenção. O problema não desapareceu, ou pior, a doença não desapareceu.
Neste momento preocupamo-nos todos com os sintomas, ao passo de percebermos onde está na verdade a doença. A abstenção é o sintoma. O desinteresse/apatia política é a doença.
Estão os comentadores e os analistas, que falham as análises, preocupados a vender o remédio mais barato e de rápido alívio, pessoalmente estou mais preocupado em encontrar soluções para os problemas de comunicação dos partidos.
Os partidos preocupam-se mais na arregimentação de militantes, continuando a ver a política como uma ligação clientelar, ao contrário de haver uma vontade pedagógica de formar os cidadãos e de os tornar militantes da cidadania.
Que façam melhores escolhas, que tenham melhores conhecimentos, mais informação, lamento dizer, não significa mais conhecimento.
Assim o que acontecia se o voto obrigatório fosse instituído? Íamos ficar felizes porque 80% da população tinha votado? Mais votos brancos ou nulos? Ganhavam os partidos mais populistas? Íamos ter mais cidadãos a buscar informação, visto que iriam votar, ao menos votam com alguma convicção ou clareza de ideias?
Uma coisa te sei dizer: tínhamos aliviado as dores pré-eleitorais de números elevados da abstenção, mas a doença do desinteresse e apatia continuavam lá.
O problema maior não é as pessoas não votarem, isso é uma resposta aos maus políticos que nós temos. O problema está na falta de interesse e entusiasmo. Ou temos que bater mesmo no fundo para acordar? Neste momento estamos naquilo que eu chamei de embalar veneno.
Assim o voto obrigatório seria uma mascaração da dor, um alívio na dor de cabeça dos políticos, mas quem verdadeiramente importa: os portugueses, iriam continuar a sofrer em agonia. Porque o voto obrigatório é um fármaco, que não conhecemos os efeitos secundários, mas não é a solução.
Texto de opinião de Cláudio Fonseca.
O autor não escreve seguindo as regras do o Acordo Ortográfico de 1990. Estando este texto de opinião escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1945.
Nota Biográfica:
Cláudio Fonseca tem 24 anos e é licenciado em História pela FLUL e mestrando em Ciência Política no ISCSP.
É diretor do Podcast Conversa, um podcast sobre política e actualidade. O projeto existe há quase três anos e é o único podcast lusófono premiado Internacionalmente.
Cláudio Fonseca é ainda fundador da Plataforma Podcasts Portugal.