Quem gosta de música alternativa conhece, certamente, o Indiegente.
O espaço da autoria de Nuno Calado na Antena 3 já soma 20 anos a mostrar o que de melhor se faz neste estilo musical. Agora, a iniciativa salta para o palco do Lisboa Ao Vivo e promete uma grande festa! Entre os artistas que vão marcar presença estão Adolfo Luxúria Canibal, Mr. Gallini, Scúrú Fitchadú, Sean Riley, Tó Trips, Fast Eddie Nelson, Frankie Chavez, Sam Alone e The Poppers, Mazgani, Señoritas e Surma.
A Mais Superior falou com Nuno Calado, grande nome por detrás desta iniciativa, para perceber o que se espera deste Indiegente Live – que invade o Lisboa ao Vivo já no próximo 13 de outubro.
O Indiegente está de parabéns. Qual é o balanço dos 20 anos deste programa?
Obrigado! Qualquer programa ou projeto que chega aos 20 anos é porque o balanço é sempre positivo. Claro que cada pessoa tem os seus objetivos e o importante, na minha perspectiva, é ter expectativas realistas e saber geri-las bem. Ter um programa com as características do Indiegente numa rádio como a Antena3 é diferente em tudo de ter um programa da manhã numa rádio mainstream – logo, seria uma loucura da minha parte querer ter essas audiências. Querer até posso, mas não é realista. O Indiegente é um programa de autor feito para o espaço noturno, dentro daquilo que se chama musica alternativa e estou muito satisfeito. Quando alguém me diz que aprendeu a ouvir musica comigo ou que ainda tem cassetes guardadas de programas antigos, isso faz-me sentir que toquei a vida dessas pessoas. Não eu, propriamente, mas o meu trabalho. Isso é algo que me faz sentir que cumpri com os meus objectivos. Nestes 20 anos, passei milhares de bandas… Umas ficaram mais na memória dos ouvintes que outras, como é normal.
Trazer o projeto da rádio para um evento ao vivo é um desafio?
Sim, é um ótimo desafio e eu adoro novos desafios, coisas que me façam sair da minha zona de conforto. Em alguns momentos, antes de decidir qual o formato final do Indiegente Live, ponderei em fazer o programa mesmo ao vivo, com as actuações a decorrerem. A certa altura surgiu um formato que achei mais engraçado e é esse que vamos levar para o palco da sala Lisboa ao Vivo. O desafio maior foi criar um formato e fazer com que ele funcionasse, para que não fosse apenas mais um concerto, mas sim algo que dificilmente se repetirá ou que pode abrir horizontes aos músicos que participam nele.
Quanto à escolha dos artistas, houve muito de cunho pessoal ou seguiu uma linha mais específica e bem definida, relacionada com os gostos de quem ouve?
Acho que é um misto dos dois… No fundo é como fazer o Indiegente todos os dias na Antena3.
Existe sempre um cunho muito pessoal nas escolhas dos artistas, os temas muitas vezes já são escolhidos a pensar que existem pessoas a ouvir e na possibilidade de captar as suas atenções para esses artistas. No caso da escolha dos artistas para o Indiegente Live, procurei juntar duas vertentes: que fossem músicos que respeito e gosto pelo seu trabalho e pessoas com quem fui criando laços de cumplicidade ao longo dos anos. Se me perguntar se eram só estes, claro que não. Há muitos mais que gostaria de ter ali comigo. Alguns foram convidados e não estavam disponíveis por diversas ordens de razão (pessoais, profissionais e geográficas), outros porque era logisticamente impossível – até porque a ideia é celebrar a existência de um programa de rádio e não fazer uma maratona de bandas que só acabasse no Natal!
As bandas e artistas escolhidos tiveram muitas indicações ou preferiu dar-lhes a liberdade para darem asas à criatividade?
Não dei muitas indicações a ninguém. Nos primeiros convites que fiz, perguntei aos artistas com quem gostariam de trabalhar. Depois foi promover esses encontros. Noutros casos, já fiz sugestões do tipo “o que achas de fazeres isto com aquela pessoa?” e aí o mais engraçado foi a resposta ser sempre “gosto muito do trabalho desse artista” ou então “por acaso estava na minha lista de nomes para um dia convidar para fazer qualquer coisa”.
A música alternativa tem vindo a ganhar mais espaço no panorama nacional ou ainda tem uma divulgação menor?
Tem vindo, claramente, a ganhar espaço. Basta pensarmos que, quando o Indiegente nasceu, o panorama radiofónico em termos de música alternativa era muito distinto. Hoje temos a Antena3 mais alternativa do que foi em toda a sua vida e rádios privadas como a Vodafone FM, a SBSR, a Radar e a Oxigénio – sendo esta ultima muito mais electrónica, mas não uma electrónica de massas. Existe mais gente a ouvir, mais bandas a surgir – porque também existe espaço para essa divulgação e mais quem trabalhe em rádio neste universo, o que é óptimo. Sinto, muito sinceramente, que a família se alargou. Por outro lado, com os blogs e redes sociais e cada um a poder falar e mostrar o que lhe faz esticar o ouvido, estamos num outro universo.
O crescimento dos festivais de música alternativa tem contribuído para o alargamento da sua representatividade e para uma maior visibilidade dos artistas?
Sim, claro. Aliás, com esses festivais é possível muitas vezes vermos algumas bandas que de outra forma seria mais difícil. Se bem que hoje já são poucos os artistas que nos passam ao lado. É incrível pensar que, em 1991, Lisboa era capital europeia da cultura e o palco de rock era o Johnny Guitar! Felizmente, hoje temos vários locais onde existem concertos na cidade e – melhor ainda – já ninguém tem medo de fazer concertos nos mesmos dias. Não há dúvida alguma de que se consome mais música e mais áudio! Se isso se manifesta em termos de vendas para os artistas ou se os artistas vão ter a dimensão das mega estrelas que foram criadas até meados dos anos 90, isso já é outra conversa.
Quais são as expectativas para este Indiegente Live?
As expectativas são muito boas: passar uma noite com amigos a ouvir boas canções e a ver novas cumplicidades a surgirem. Se isto não são boas expectativas, então teria de ser muito pessimista!
[Fotos: Vera Marmelo]