Pensavas que eras só tu? Estavas enganado…
Uma equipa de investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com o Real Jardim Botânico de Madrid, chegou para provar que a “vida social” das plantas pode ser importante para a gestão e conservação da biodiversidade.
Mas, trocado por miúdos, em que se baseia esta vida social? Certamente não são saídas à noite e jantares…
A olho nu, as plantas são seres vivos poucos ativos. Podíamos quase considerá-las anti-sociais, se estes investigadores não tivessem sido tão atentos: a verdade é que as plantas têm uma vida social complexa e preenchida, que chega a envolver processos contraditórios! Um exemplo disso são as associações mutualistas (vantajosas) que algumas realizam com fungos do solo – que as ajudam a melhorar a nutrição e aumentam a sua proteção contra a seca e doenças. Podemos entendê-las como uma parceria!
Muitas plantas investem ainda nas estruturas especializadas do fruto ou semente, que facilitam a sua dispersão. Através de alguns animais, do vento e da água, estas aceleram o seu processo de colonização, abrangendo novos espaços e evitando patógenos e herbívoros que se concentram à volta da planta mãe.
A parceria com fungos mutualistas e a dispersão de sementes são dois processos fundamentais para a conservação e regeneração dos ecossistemas. Mas este estudo trouxe novidades: revelou que a capacidade das plantas para estabelecer relações com os fungos do solo não condiciona a dispersão das sementes para longas distâncias.
O que quer isto dizer? Que “encontrar fungos mutualistas compatíveis não é um constrangimento importante para a dispersão das plantas. Exceto em casos muito específicos, a evolução de estruturas de dispersão das sementes é vantajosa para as plantas e não é limitada pela disponibilidade de fungos mutualistas compatíveis”, explica Marta Correia, investigadora principal do estudo, já publicado na revista Ecology Letters, uma das principais revistas da área.
A principal inovação do estudo foi a descoberta de uma complexa “vida social” das plantas, “com importantes consequências ecológicas e evolutivas, ficando claro que, apenas integrando os vários tipos de interações que formam o grande puzzle da vida das plantas e dos animais, poderemos compreender os mecanismos responsáveis pela geração e manutenção da biodiversidade”.
Importante ressalvar que, com o conhecido panorama presente das alterações climáticas, “esta conclusão é essencial para traçar e definir planos de gestão que permitam a conservação dos ecossistemas”, conclui a ecóloga Susana Rodríguez-Echeverría.
Aqui está mais uma prova (e nunca são demais!) de que devemos proteger o ambiente e não dificultar estas relações sociais entre as plantas. Vocês também não gostam que se intrometam nas vossas, certo?
[Fotos: Universidade de Coimbra]