Entrevista: Margarida Marrucho Mota Amador | No mudar é que está o ganho
À medida que atravessas os portões do Ensino Superior, vais imergindo num oceano, onde a cognição se mistura com a contemporaneidade, a prática se une à inovação e a educação se converte numa jornada de possibilidades, que promete o florescimento de ramificações emocionantes, mas (muito!) desafiantes.
Em entrevista , Margarida Marrucho Mota Amador, Coach, Mentor, Trainer e Education Consultant, ajuda-te a atingir o pódio da integração, transformando obstáculos em degraus e adaptação em autodescoberta… Porque as melhores valências estão (sempre) nos maiores riscos!
A mudança e a adaptação correspondem a conceitos intrinsecamente correlacionados, sendo a abertura para o desconhecido e a flexibilidade de apropriação a novas realidades fundamentais para um ingresso bem-sucedido no Ensino Superior. Que habilidades é que os estudantes podem desenvolver para encarar os desafios que se avizinham?
Cada encontro ou lugar muda-nos e altera o nosso entendimento sobre o mundo. A preparação para uma próxima etapa terá de ser constituída por muito entusiasmo e motivação, desenvolvendo as competências primordiais para sistematizar a possibilidade de considerar e integrar o incógnito.
Na área académica, aponto a curiosidade pela vida; a capacidade de relacionar conhecimentos, tendo um pensamento flexível, capaz de praticar a transversalidade; a agilidade em interligar conceitos e propor soluções em tempo útil; e o gosto pela aprendizagem.
Já ao nível do desenvolvimento pessoal, a autonomia é essencial para a formação académica, sendo a organização uma vantagem adicional, uma vez que é imperativo definir prioridades; a resolução de problemas ou situações de potencial conflito, com simplicidade e assertividade; a resiliência; e o auto conceito, permitindo, assim, a identificação de potencialidades e vulnerabilidades.
Desejo de independência vs. necessidade de orientação. Como alcançar um equilíbrio saudável durante a transição?
O equilíbrio entre a independência e a orientação acontece de forma individual e quase empírica, ou intencional e sistemática, através de programas de mentoring.
Atualmente, a preocupação de realizar o matching entre experientes e recém-chegados para que a transição seja bem-sucedida e, simultaneamente, que a cultura da Instituição seja transmitida na 1ª pessoa, é crescente, onde, seguindo conselhos e partilhando experiências e indicações de resolução de problemas ou situações desfavoráveis, todos os elementos saem vitoriosos: O mentor sente-se útil, ganhando consciência do que tem para oferecer; o formando aprende a uma velocidade superior à regular; e a entidade atinge coerência, coesão e identidade.
“O crescimento, a maturidade, o grau de compromisso e, ainda, a motivação intrínseca, geram novas destrezas, que nos levam a sonhar mais alto.”
De que forma é que os alunos devem lidar com as potenciais repercussões adversas da sensação de isolamento ou das dificuldades académicas?
O contexto mais precioso que detemos enquanto seres humanos é sermos relacionais. Geralmente, o isolamento ocorre em resultado do medo de nos expormos. Todavia, pensar que nos encontramos todos perante um desconhecimento mútuo é já um ponto em comum. Caso o curso ou o ambiente não estarem a corresponder ao esperado, é urgente analisar o cenário, os investimentos, os ganhos e as limitações, averiguando de que forma se deve recentrar a ação, para, posteriormente, seguir em frente.
Já as dificuldades académicas podem apresentar várias camadas e interpretações, que merecem a devida atenção, como não estar preparado para o modo de estudo, ou não conseguir manter o foco, devido a distrações que guiam o pensamento a outras paragens. Aqui, é inadiável perceber as causas e deliberar recursos para defrontar sentimentos de falta ou perda associados, nos quais a família desempenha um papel supremo.
A exigência do Ensino Superior está associada a situações de stress. Exames, entrega de trabalhos e prazos curtos criam uma elevada carga cognitiva, o que, muitas vezes, conduz ao burnout. Que estratégias considera basilares para uma gestão eficaz do tempo entre os estudos, as atividades extracurriculares e a vida pessoal?
A conciliação do tempo é efetivamente relevante para a estabilidade e firmeza do dia-a-dia, existindo diversas estratégias a adotar, como as to do list. Ainda assim, as famosas listas de tarefas representam, para muitos, uma verdadeira prisão. É, por isso, necessário aprender a elaborá-las, estabelecendo prioridades. Utilizar um calendário, onde se incluem compromissos pessoais, é, também, estrutural para atingir flexibilidade e perspicácia, recorrendo aos espaços em branco para alocar, tanto o trabalho que não foi realizado, ou que apareceu à última da hora, como atividades de lazer e entretenimento.
O importante é que cada um encontre o seu processo, tendo em conta o seu bem-estar e o cumprimento daquilo que almejam de si.
“Um comportamento transparente e verdadeiro, acompanhado da real noção do que valemos, é indispensável para o conforto emocional, consciencializando-nos dos factos e das evidências.”
Ao longo do percurso, a Síndrome do Impostor (imposter syndrome) tende a manifestar-se, através do não reconhecimento de realizações profissionais e pessoais como fruto do esforço e talento. Como superar?
A Síndrome do Impostor está relacionada, na maioria das vezes, com a falta de confiança e na ausência de espontaneidade. O excesso de afazeres produz a sensação de incapacidade, um nível de ambição de perfeição extremo, que se metamorfoseia numa armadilha de autosabotagem.
Um comportamento transparente e verdadeiro, acompanhado da real noção do que valemos, é indispensável para o conforto emocional, consciencializando-nos dos factos e das evidências.
Na altura de traçar caminhos, são reveladas inúmeras dificuldades. Afinal, quais são os passos centrais para que a geração futura entre com o pé direito no mundo académico?
Ser curioso do ponto de vista do conhecimento ou da Instituição, na qual se ingressa, é o primeiro ponto, seguindo-se a conquista de um método de organização particular, o que reduzirá o stress e eventuais episódios de ansiedade. No entanto, possuir um grupo de amigos; reconhecer e apreciar as qualidades dos indivíduos envolventes; e aproveitar as oportunidades de projetos e estágios proporcionadas pela Faculdade, são, também, fatores cruciais para alargar o networking e possibilitar a socialização.
Contudo, estabelecer metas realistas no início de uma nova etapa é, igualmente, imprescindível para o sucesso durante o caminho, uma vez que quanto menor for a distância entre as expectativas que criamos e a realidade que vamos construindo, menor será a frustração que podemos vir a experimentar. No entanto, o crescimento, a maturidade, o grau de compromisso e, ainda, a motivação intrínseca, geram novas destrezas, que nos levam a sonhar mais alto, surpreendendo-nos com patamares que, até então, nunca tinham sido equacionados.
Que conselhos pretende dirigir aos novos estudantes do Ensino Superior?
Aproveito para deixar um conjunto de ideias simples… Organizem o tempo para estudar, socializar e descansar; não tenham receio de conhecer as vossas capacidades e limitações, partilhar fraquezas e pedir auxílio; disponham de um olhar positivo perante a vida, encontrando impulso em cada desafio, sabendo que o melhor está para vir; não sejam demasiados duros e exigentes convosco próprios; encontrem um mentor que admirem, capaz de alargar o vosso networking; e, por último, levem a vida com leveza, aprendendo com os acontecimentos vividos e os sentimentos experienciados.