Anjos trazem a magia do Natal a Portugal
A Mais Superior foi entrevistar os Anjos, Nelson e Sérgio, a propósito do seu mais recente álbum, Estrelas de Natal. Vem connosco conhecê-lo!
Juntos somam uma carreira com mais de 20 anos e inúmeros sucessos!Qual o “segredo” para se manterem ativos e procurados pelo público?
N: O segredo não existe. Não há uma fórmula , porque se não, patenteávamos essa fórmula e metíamos à venda, de forma a render (risos). Não há grande segredo. Há um método que nós fazemos e há uma forma de estar na vida, que é fazermos sempre com paixão, por amor, fazemos o que nos diz mais e o que gostamos de fazer. As coisas felizmente correram bem, deram muito trabalho, como devem calcular o sucesso não cai de paraquedas e mantê-lo mais difícil é e têm sido! Mas o segredo, não existindo, existe é uma forma de estar na vida, que é fazermos sempre com amor, com muita dedicação. E depois as coisas vão fluindo.
Recentemente lançaram o álbum, Estrelas de Natal! Se o pudessem descrever em três palavras, quais seriam?
S: Em três palavras é difícil1 Isto é um projeto, que nós ambicionamos e sonhamos há já alguns anos. Muito por culpa da família do lado do Nelson, da minha cunhada. O Nelson bem cedo, começou a visitá-la nos Estados Unidos e nós inclusive fomos passar um dos Natais aos EUA, e queríamos fazer aquilo que se faz normalmente na época do Natal lá, onde se vive com muita intensidade. A parte da música, em que os artistas, ou artista principal, reúne convidados e amigos, para lançar um disco, para fazerem programas de televisão, para fazer concertos de Natal. Nós gostaríamos de fazer isso no nosso país, porque achamos que havia esse “buraco”. Já se vive de uma forma tão fantástica o espírito de Natal no nosso país, e queríamos trazer um pouco esse lado da nossa área, que é a música.Agora três palavras é difícil, porque nós gravamos isto de forma tão intensa e foi inclusive durante o verão.
N: (risos) 2021
S: Meteu-se a pandemia pelo meio e atrasou tudo, em relação ao lançamento e à estratégia que tínhamos pensado juntamente com a Universal. Mas três palavras….
N: Sonho
S: Magia, tem tudo a ver com o Natal e aquilo que se fez em estúdio, aquilo que nós fizemos juntamente com todos os outros artistas, criou-se magia no estúdio.
N: E depois eu diria família.
Já sonhavam com este projeto há muitos anos. O que aconteceu para que finalmente este ano se concretizasse?
N: Como o Sérgio disse, o álbum foi gravado no verão de 2021, era para ter sido lançado em outubro de 2021, mas por causa da pandemia não pode. Foi adiado só por isso.
S:O álbum acontece agora, porque estava guardado para esta altura, tinha de acontecer!
N: Lá está, é o que tem de ser. Acontece agora, porque de facto infelizmente o ano passado, o covid não nos deixou e nós sabíamos o projeto que tínhamos nas mãos e estávamos todos muito ansiosos para mostrar os clássicos de Natal.
S: Porque os clássicos de Natal nunca passam de moda!
N: É um álbum que acaba por ser eterno, porque as músicas são intemporais, para todas as idades. O giro deste trabalho é que grande parte destas canções, que nós nos habituamos a ouvir em inglês, foram feitas adaptações para português. Há apenas três canções em inglês, o Hallellujah, o Santa Claus is Coming to Town e o Joy To The World. Mas ficou fixe, porque assim damos um “cheirinho” mais internacional ao projeto.
É um projeto muito bonito, foi um verão inteiro a gravar canções de Natal. Mas felizmente Natal 2022, finalmente tem o Anjos Estrelas de Natal.
Como foi o processo criativo do álbum? Foi diferente em alguma medida do processo criativo habitual?
N: Essa dá pano para mangas.
S: Foi super desafiante, não só para nós, como para a pessoa que tratou, de uma forma brilhante dos arranjos, para a orquestra sinfónica de Praga, que foi a orquestra que foi convidada para gravar este disco. O Tiago Machado, que é o produtor, foi o compositor, que juntamente com o maestro da orquestra sinfónica de Praga, coordenaram depois as gravações, que até isso foi diferente. Eles estavam em Praga e o Tiago em Portugal, a assistir à gravação.
N: Mas tudo em real time, em direto.
S: Foi uma equipa gigantesca.
N: No grupo de músicos, tivemos uma série de músicos portugueses, que são muito bons e que se juntaram, em alguns temas, à orquestra sinfónica.
S: Depois tivemos este desafio que foi interessante, que foi escolher os “amigos”!
N: Que era só para ser um ou dois!
S: Em primeiro lugar, voltando atrás, tudo surgiu pela nossa música Nesta Noite Branca. E o convite por parte da Universal foi exatamente direcionado para um disco de Natal. E nós na altura já queríamos fazer isso, então sugerimos “Porque não juntar aqui vários artistas? À imagem do que se faz lá fora?” Nós já queríamos muito fazer isto e eles adoraram a ideia, como é óbvio! E depois foi surgindo nome atrás de nome. E aqui foi engraçado, porque nós queríamos que o disco fosse muito eclético, no sentido de misturar vários estilos, vários artistas, esse era o desafio!
Como por exemplo, Nininho Vaz Maia, a Soraia Ramos, os Calema, Diogo Piçarra, Fernando Daniel. Depois ter o Buba Espinho, que canta dentro do estilo mais tradicional alentejano. O Marco Rodrigues no fado. A Elisa.
Isto tudo gerou aqui a tal magia que eu estava a falar. O desafio para nós foi realmente coordenar tudo, dentro dos estilos que eles representam para a música portuguesa, tentar que se enquadrassem neste disco. No final, toda a gente ficou fascinada, ficámos surpreendidos com o produto final. Na realidade o resultado era o que já tínhamos pensado e superou as expectativas.
A fasquia estava alta, sabíamos que íamos gravar com a orquestra sinfónica de Praga, que íamos ter um ambiente digno de Disney e digno das melhores bandas sonoras dos filmes. E juntar depois com os nossos músicos portugueses, que são maravilhosos! Os músicos que obviamente vão fazer a estrada connosco! Para o ano que vem!
Tiveram a colaboração de vários artistas, nacionais e internacionais! De que modo é que estas colaborações vos enriqueceram? Seja ao projeto, ou a vocês como banda?
N: Enriquece muito o projeto, porque nós entendemos que o Natal representa a reunião da família, representa o espírito da fraternidade, do carinho, da compaixão, da solidariedade e da agregação das pessoas umas com as outras. E nada melhor do que pegar num leque de amigos, de quem nós gostamos imenso, e porque não juntarmo-nos num trabalho de Natal, como se estivéssemos numa noite de Natal, a fazer tudo aquilo que nós todos gostamos mais de fazer, que é cantar!
“Esses casamentos” que eu diria quase como perfeitos, este álbum vem na minha opinião a simbolizar muito bem o que é o Natal. Isso enriqueceu o projeto, e quando ouvimos as músicas percebe-se a química que existe entre todos.
A música “Fado de Natal” é o único original do álbum. Como foi a experiência ao produzi-la?
S: É uma música e letra do Tiago Machado. O Tiago está ligado a grandes êxitos e além de um músico brilhante, é um compositor extraordinário. Ele olhou para o disco e percebeu que esta música encaixava. O Marco Rodrigues, foi o fadista que cantou connosco esta música. Gravar com o Marco é muito fácil, é um artista muito divertido e talentoso.
É interessante ver esta fusão entre o pop e o fado, e perceber que no final a música é universal. E quando ouvimos a música pela primeira vez ficámos logo apaixonadíssimos.
N: Este álbum serve para quebrar uma série de barreiras, estereótipos, se é que existem.
S: É o espírito de Natal. Nós estamos com mente e espírito mais abertos, para este tipo de coisas. A mensagem do fado de Natal é uma mensagem muito forte, muito ligada às ações humanitárias, da solidariedade, ajudar quem mais precisa. É mais uma mensagem onde nós vamos tocar nas feridas, de uma forma muito singela e com esta magia que a música nos proporciona, porque as mensagens que canalizamos através das nossas canções são sempre aceites de uma forma muito mais sensível, mais direta. E esta letra está maravilhosa.
O que é que pretendem transmitir através do álbum? O que é que gostavam de passar aos vossos ouvintes?
N: Pegando naquilo que foi uma das respostas do Sérgio, na segunda pergunta. Portugal já teve isso, eu lembro-me que era muito pequenino e as canções de Natal, portuguesas, estavam muito presentes, nomeadamente uma que cantámos com o coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras. “A todos um bom Natal”, esse foi sempre o clássico. Essa canção é da minha altura, aliás eu sou de um bocadinho a seguir. (risos)
S: Já é muito antiga a música não é?
N:Tem 40 anos! Aquilo que pretendemos, que gostaríamos muito, é que de facto se voltasse a ter esta ligação da música de Natal, cantada em português, ou com maior relevância para ser cantada em português, não é obrigatório. Mas que essencialmente houvesse esta ligação, como houve no passado, muito lá atrás, da música à época natalícia. Porque nós estamos a fazê-lo, ou alguns de nós fazem-no, mas com bandas sonoras internacionais. Ou é o Michael Bublé, ou o Frank Sinatra, ou o Tony Bennett, a Mariah Carey, enfim vamos por aí fora.
Esta foi uma das grandes ideias que a Universal teve, já que todos os países, todos não, mas aqueles países onde a cultura pop é muito mais evoluída, Reino Unido, Austrália, Alemanha, França, os Estados Unidos, países que naturalmente tem uma grande cultura pop, tem o seu álbum de Natal. Nós achámos que seria interessante fazer esta ligação novamente. Por coincidência, somos o primeiro projeto português de carreira a agarrar uma coisa deste género. Obviamente não nos vamos só dedicar a cantar as músicas de Natal, como devem calcular. O que vai acontecer nos próximos anos é que de acordo com aquilo que é a missão deste projeto de Natal, é que todos os anos acaba o verão, acabam os concertos dos originais dos Anjos, e em outubro entra o projeto Anjos, Estrelas de Natal, com esta base primeira que é o disco, mas que no futuro terá coisas novas. Vamos ter canções novas, novas parcerias, que já estão a ser feitas e estudadas, porque queremos muito que os portugueses tenham uma banda sonora na sua própria língua!
Com um álbum inteiramente dedicado ao Natal, percebemos que têm uma grande ligação com a época. Quais as tradições de Natal que mantêm desde crianças?
S: As pessoas sabem que nós somos muito unidos a nível de família, e esses valores queremos sempre transmitir para as gerações seguintes, os nossos filhos. O Natal é uma época muito importante para reunir a família. Infelizmente aquilo que passávamos no início, no Alentejo, já não é possível porque já não temos os nossos avós entre nós. Mas, um ano é na minha casa, outro ano é na casa do Nelson. Este ano é na minha! É uma época que valorizamos muito.
N:Nós estamos à vontade para dizer que não é só nesta época.
S: Sim, mas gostamos de cumprir as tradições. Acho que é interessante. Sabe tão bem ter o calor da lareira, as músicas, que era o que o Nelson estava a dizer, este ano vamos ter banda sonora diferente (risos)
N: A partir do momento em que monte a árvore de Natal, aquilo vai ser 24 sobre 24 horas!
S: Agora temos as televisões, ligamos o Youtube e temos sempre as playlists. Agora em vez das playlists que o Nelson acabou de falar, temos a nossa! Ainda por cima com intérpretes para todos os gostos, mais variado não há!
N: Nós costumamos dizer que somos daquelas famílias tradicionais, que gostam de respeitar, mesmo a nível gastronómico, as iguarias e os doces, que são os tradicionais nesta época de Natal. E portanto, mantemos sempre essa magia em que o Pai Natal aparece.
S: Continua a aparecer!Ao fim de tantos anos os nossos filhos sabem que o Pai Natal é uma figura. Eles agora já sabem que sou eu ou o Nelson que veste o fato, há muitos anos!
Continuamos a ter este ambiente que acho que é importante respeitar. Para não deixar morrer a magia do Natal.
2022 tem sido um ótimo ano para vocês! O lançamento do álbum de Natal, o sucesso da tour Voa!O que é que planejam para o futuro? Novas datas de concertos? Uma futura tour?
N: O que podemos partilhar e podemos anunciar! Então, estamos à espera de libertar um vídeo, para agradecer o verão. Temos uma boa notícia, nós também gostámos muito da Tour Voa! O alinhamento, a conceção cénica dos espetáculos, os conteúdos multimédia, que nós temos a acompanhar cada tema, cada passagem. Faz-nos ter muitas saudades de regressar à estrada e vamos regressar rapidamente. Falando do que temos projetado para a frente. Foi um grande ano e porque gostamos muito da Tour Voa, a tour vai continuar em 2023! Vai terminar em 2023 e será a última turnê antes de completarmos os 25 anos da banda. Em 2024, fazemos 25 anos do projeto Anjos.Mas agora a turnê vai continuar, vai naturalmente contar, se tudo correr bem, com uma música nova, que nós já estamos a pré-produzir, para sair no início de 2023.
S: Poderá ser com uma participação!
N: Poderá ser! Estamos muito entusiasmados com tudo isto, porque são boas notícias para as pessoas que gostam de nós e seguem o nosso trabalho, mas também para nós, que 23 anos depois, feitos este ano, ainda conseguimos encontrar força para continuarmos a fazer mais e melhor! Tentando sempre fazer melhor do que fizemos anteriormente!
S:A motivação está sempre a surgir e pegando na primeira pergunta, sobre qual era o “segredo”,na realidade esta pode ser a resposta a essa pergunta. Nós todos os anos estamos a pensar o que fazemos no próximo ano e inclusive daqui a dois anos, estamos sempre a pensar mais à frente. Temos sempre de colocar um objetivo para nos motivarmos e nos focarmos na realização desses mesmos objetivos.
N: E teres um fio condutor, uma coisa definida.
S: Portanto 2023, é o que o Nelson estava a dizer, nós temos sido bombardeados com perguntas: “e o concerto?”, “quando vai acontecer?”, “e outros artistas?”. O disco saiu este ano, quase como um cartão de visita para as pessoas perceberem e se habituarem um bocadinho à ideia de que “isto vai acontecer”. Todos os anos, este projeto Estrelas de Natal aparece! Temos de preparar tudo, reunir as agendas de todos, para ensaios, porque queremos que este projeto seja especial, que seja à imagem do disco!
N: Nós até queremos que seja mais! Ao vivo é melhor!
S: E portanto, as pessoas estão habituadas a que eu e o Nelson apresentemos sempre qualidade nos espetáculos, com os pormenores todos pensados ao ínfimo pormenor. E este projeto não vai fugir à regra. E 2023 será o ano em que vamos apresentar este disco ao vivo!
N: Na altura do Natal!
São 23 anos de carreira, nem sempre um mar de rosas, com muito trabalho e suor. Para quem está a estudar música e sonha em ter uma carreira relacionada com o mundo musical, quais seriam os principais conselhos que lhes dariam?
N: O principal conselho que eu dou é, seja na música, ou noutra área qualquer, façam as coisas com paixão, não façam por fazer, porque se não, quer dizer que estão a apostar na área errada. Vale a pena apostar na área que gostam e darem tudo. Perceberem que temos de ser resilientes! Estamos num país onde existe muito talento, em todas as áreas, então o mercado acaba por ser pequeno para todos. Por isso, podemos formar muitos engenheiros, mas depois só haverá bom mercado de trabalho, para poucos. É muito competitivo, o que faz com que por vezes muitos estudantes tenham de sair do país. Mas hoje em dia vivemos numa aldeia global, a trabalhar aqui, ou em Madrid, ou em Londres.
O importante mesmo é fazerem com amor, com dedicação à séria, porque tem tudo para dar certo. Quando queremos muito uma coisa, mais dia menos dia vai resultar. Agora temos de nos aplicar, e só nos vamos aplicar se gostarmos muito daquilo que estamos a fazer. A geração Z desiste muito rapidamente, é pouco resiliente e têm de ser! Não desistam!
Aproveitem as novas ferramentas que têm ao dispor, as novas tecnologias, que neste momento facilitam muito mais a vida, o estudo, a investigação, coisas que há 20 anos atrás não havia. As coisas mudaram muito e eu acho que seria uma pena, quem tem potencial não o aproveitar. Porque todos nós temos potencial! Podemos às vezes estar a trabalhar o potencial numa área errada. Façam o que gostam e empenhem-se nisso! Hoje em dia temos tudo.
S: Às vezes há pessoas que fazem algo que não as preenche, mas a ideia que nós temos de passar sempre é, nunca desistam dos vossos sonhos! Se eu estou a fazer algo de momento, mas o curso que eu tirei não é o que quero fazer no futuro? Vou continuar a trabalhar, sem perder o foco do caminho que gostava de seguir. E continuar paralelamente. É possível fazer isso, dá mais trabalho? Sim, a tal resiliência que o Nelson falava, mas tem de ser. Vocês próprios é que direcionam o vosso caminho e o vosso destino, não são as outras pessoas. Não percam o foco e sigam os vossos sonhos!