Pedro Chagas Freitas é um autor português que já dispensa apresentações. Autor dos livros Prometo Falhar, Prometo Perder, Prometo Falhar todos os dias, Prometo amar… é um dos autores mais lidos em Portugal, com mais 40 livros publicados e em países como a Itália, o Brasil ou o México. Pedro já soma mais de um milhão de cópias vendidas em todo o mundo.
Este ano lançou A Raridade das Coisas Banais e afirma que “este é o seu melhor romance”. Nós fomos conversar com o autor para conhecer a história deste livro e para conhecer a interpretação do mesmo, feita por duas psicólogas que utilizam esta obra nas suas sessões. Agora partilhamos tudo contigo, para que também possas começar a ver no mundo A Raridade das Coisas Banais.
Começando pelo final, o que é que o leva a sentir que A Raridade das Coisas Banais é o seu melhor romance?
Tudo, basicamente! Tudo aquilo que eu acredito que deve ter um romance, está neste livro e acho mesmo que não consigo fazer melhor, é melhor não mexer!
E o que é que deve ter um romance?
Deve, acima de tudo, ter a capacidade de envolver os leitores, de os fazer identificar-se com o que está escrito e este livro tem estas características. Uma vez que conta a história de uma criança que depois deixa de o ser e retrata todas as fases inerentes ao crescimento. Neste livro vemos representados todos os tipos de amor, de problemas que vamos tendo ao longo do nosso caminho, os dilemas das escolhas… e por isso eu não quero mexer mais.
É uma história que tem em si, grande parte daquilo que nós, habitualmente, definimos como essencial para a nossa vida. Por outro lado, enquanto o estava a escrever, senti que o livro estava a sair de um lugar diferente do habitual e eu sou contra as teorias da inspiração, mas depois de o ter escrito até me perguntei: “De onde é que isto veio?”.
Porque é que as coisas banais são raras? O que é que define como banal, sendo que o significado é tão subjetivo.
Há duas formas de entendermos isto: Uma é pensarmos em todas as coisas que considerávamos banais no nosso dia a dia e que, com a pandemia percebemos o quão raras eram as coisas que considerávamos banais. A segunda forma é pensando que com o nosso envelhecimento, vamos perdendo e ganhando oportunidades e, começamos a perceber quão raras são as coisas que vamos perdendo, e começamos, por isso, a dar-lhes valor e esta banalidade deixa de existir. É como diz o velho ditado, “Só damos valor às coisas quando as perdemos”. Temos de ter a capacidade de olhar para o presente como algo valioso, apesar de ser banal e este livro é sobre isso.
Enquanto autor pensa este um livro como uma celebração da banalidade das coisas que fazem parte da nossa existência ou chama-nos à atenção para certas banalidades que, com o ruído do dia a dia, tendemos a esquecer?
É tudo isso. É olhar para o que já tivemos e perceber que não aproveitámos devidamente e ao mesmo tempo, estarmos prontos e dispostos a aproveitar devidamente o que vem aí. Hoje em dia, estamos tão focados nas coisas grandes, nos grandes objetivos, em sermos os melhores da nossa empresa, da nossa rua, que tendemos a esquecer as coisas pequeninas que também são importantes e isto também é humano. Só quando vemos estas coisas pequenas postas em causa é que percebemos a grandeza das coisas que julgávamos serem pequenas. O segredo é tentar dar esta dimensão às coisas banais.
Este livro transmite inúmeras mensagens, aborda diversos temas que, podem depender da interpretação de quem o lê. Quando escreveu este livro tinha o propósito de falar nestes temas? Pretendia que o leitor viajasse até ao âmago da sua existência? “Há tantas pessoas com vergonha de serem pessoas”.
Eu tenho um filho criança e esta abordagem límpida, honesta e de descoberta constante e inalcançável entrou na minha vida e assim surgiu a minha necessidade de escrever sobre ela. O Pechimperé (personagem do livro) é uma personagem que surge num pequeno conto do livro Prometo Perder e eu quis dar mais vida a esta personagem. Quis também criar o verbo Pechimperar, que representa a transformação de qualquer coisa que nos acontece em algo valioso e o livro nasce da necessidade de contar a história desta personagem. Normalmente, nos livros que eu escrevo, defino e organizo as personagens e faço este esquema todo, mas este livro saiu-me totalmente das mãos! O Pechimperé resolveu brincar também comigo e o mapa que eu tinha teve de ser totalmente alterado, também o final não foi o planeado. Até nisto, este livro foi diferente!
Muitos psicólogos utilizam o seu livro com base de trabalho. O que é que isto o faz sentir?
Fico muito feliz e é muito interessante, porque dá-me perspetivas diferentes do que eu escrevi. Quando eu falo com psicólogos que me dizem: “é isto que eu faço nas minhas sessões, e é esta a abordagem que eu tento transmitir e com esta história escrita numa linguagem mais simples, acaba por ser comunicado de uma forma mais eficaz.” Recebo também mensagens de pessoas muito gratificantes, deixa-me muito contente, mas de facto foi sem querer, eu não quis escrever um livro para ensinar as pessoas a fazer alguma coisa, não tinha esta perenção, mas esta história por ela mesma acaba por ser uma lição, até para mim. Sinto que estou uma melhor pessoa por ter escrito este livro.
Falou, numa entrevista, no seu filho e no quanto ele o inspirou para escrever esta obra. Sente que este livro pode ser visto como uma prenda para as novas gerações? Uma oportunidade para que eles saibam que não somos todos iguais, coerentes, metódicos que errar é normal, falhar é humano e está tudo bem com isso.
Não diria uma prenda, mas se eu fui capaz de ficar melhor ao ler este livro e se recebo diariamente mensagens de pessoas que me dizem que conseguem encarar melhor o que lhes acontece e que se sentem melhor, depois de lerem este livro, acho que sim, que podemos vê-lo desta forma. Este não é um livro com um público definido, aliás, nenhum dos meus livros tem um público pré-definido. É sempre imprevisível a reação do público.
Há também quem compare A Raridade das Coisas Banais com o Principezinho, concorda com esta comparação?
Em primeiro lugar é uma enorme comparação, que me deixa muito feliz, afinal o Principezinho é uma obra eterna, percebo a comparação pela atmosfera, sobretudo do início do livro, e pela voz narrativa que o livro tem, quem ler até ao final, acredito que possa mudar de opinião, mas não é algo objetivo. Mas também há quem faça outras comparações, por exemplo com o filme A Vida é Bela, acredito que esta comparação seja sobretudo pela capacidade que nós temos em transformar algo dramático numa coisa menos pesada, criar um refúgio dentro da nossa própria cabeça, um lugar mais harmonioso e respirável.
Enquanto autor escreve o que sente que o mundo precisa de ouvir ou o que enquanto pessoa precisa de afirmar perante o mundo e quem o lê?
Quando escrevo, não estou a pensar na mensagem, nem no que eu pretendo transmitir. Eu quero contar uma história ou uma personagem e depois de a contar, o que as pessoas fazem com ela ou como a interpretam, já não está nas minhas mãos, Já li de vários leitores, diversas interpretações sobre o final do livro e são todas válidas, apesar da grande maioria eu nem sequer ter pensado nelas, a interpretação depende sempre de quem lê e parte da magia é essa.