Depois de largos tempos de restrições impostas pela pandemia de covid-19, a cultura está de volta – e o teatro, não é exceção. Durante o mês de fevereiro, estarão em exibição cinco peças distintas no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.
És daquel@s que não abdica de uma boa peça de teatro? Então, consulta abaixo as nossas sugestões:
Quem espera [de 5 de fevereiro a 5 de março]
Encenação de Luís Godinho
“Ninguém gosta de esperar. É uma perda de tempo. As coisas são boas quando acontecem, não quando se espera por elas. E há tantas coisas divertidas à espera de acontecer. Se, ao menos, houvesse uma receita para encher o tempo e acabar com os aborrecimentos. Se não existe ainda, pode ser inventada: é só pesar, misturar, agitar, separar e esperar. Esperar?! Isso é que não!”
Paraíso – A divina comédia [de 10 a 20 de fevereiro]
Encenação de João Brites/Teatro o Bando
“Quem procura o Paraíso não sabe que era amor o que Dante procurava. Amor? O amor pelo poder, que justifica a existência de Deus, reconhece o prazer megalómano da mente. O amor egocêntrico, que desagua no ódio ao outro, aumenta o prazer narcísico. O amor pelos outros, que tem a missão altruísta de apenas dar. O amor pelo movimento, que intensifica sensações e sentimentos viajantes. O amor carnal, que fertiliza o prazer de continuar vivo. O amor pelo conhecimento, que sustenta a curiosidade e o prazer de ver. O amor pela Arte, que enaltece o que é particular. Este é um Teatro que ama a representação. Nesta encenação de João Brites, Pedro Gil é um Dante solitário em diálogo interior com uma muito singular paixão e a plasticidade vocal de Sara Belo continua a dar corpo à inatingível Beatriz. Com eles estará uma surrealista banda de sopros que mistura o corpo das/os instrumentistas com os instrumentos como se fosse a obra inacabada de um ceramista louco. Este é um Teatro que ama o que é visual. Começou com a escadaria em espiral do Inferno, passou pelas afuniladas pontes do Purgatório e chega agora à suspensão flutuante do Paraíso. Que este espetáculo contribua para a investigação que se faz e continuará a fazer em torno do Paraíso que Dante Alighieri imaginou.”
Clube dos Poetas Vivos [15 de fevereiro]
Coordenação de Teresa Coutinho
“Desde 2016 que Teresa Coutinho recebe, no átrio do Teatro Nacional D. Maria II, poetas para conversas diante do público, pontuadas por leituras feitas por atores e atrizes da casa e artistas convidadas/os. Ainda este ano, o Clube voltou aos encontros presenciais, mas, desta feita, com ponto de encontro alternado: ora na Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, ora no Salão Nobre Ageas, no D. Maria II. Nesta nova temporada, mantém-se o formato itinerante.”
Maráia Quéri [de 16 de fevereiro a 6 de março]
De Romeu Costa e Marta Carreiras
“A passagem do prazer à culpa é, muitas vezes, mais rápida do que se deseja. Mas há prazeres que não nos furtamos apenas porque censurados socialmente. Prazeres vividos em segredo. Prazeres não-aceites. E se esses prazeres virem a luz do dia? Em Maráia Quéri, o conflito interno instala-se quando paira sobre o gosto de um investigador em ciências sociais o receio da desonra ou do ridículo. Pode ele ter Mariah Carey como objeto de estudo? Pode ele gostar de Mariah Carey? Neste espetáculo, Romeu Costa e Marta Carreiras mergulham no universo musical da cantora norte-americana, que configurou uma mudança de paradigma no mundo da música dos anos 90, para investigar a liberdade com que nos permitimos gostar de algo. Através da confissão da sua vergonha, o investigador procurará “entendê-la” e entender-se, traçando, neste processo, um retrato de Portugal e da relação do país com o mundo. Numa conferência-performance que pisca o olho às famosas Ted Talks, o cientista fará acompanhar a sua comunicação pública por um conjunto de músicas que distam dos anos noventa até à atualidade, tendo sempre a vida de Mariah Carey como referente.”
Malhereusement Amélie est née – Uma carta de amor [26 de fevereiro]
“No telegrama em que anunciava o nascimento da sua filha, Amélia, a 2 de Março de 1898, Alexandre Rey Colaço escreveu: “Malhereusement Amélie est née” [Infelizmente, Amélia nasceu.]. Revelava assim, com sentido de humor, que tinha nascido a sua quarta filha e não o tão esperado filho. “Heureusement” [Felizmente] Amélia Rey Colaço desafiou, na vida e no percurso artístico, os lugares reservados às mulheres, nomeadamente de uma certa condição social.
A par com o marido Robles Monteiro, também ator consagrado, formaram a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, que viria a ser das mais importantes e de maior longevidade da História do Teatro português do séc. XX. Tão amados quanto criticados, ao longo de mais de 50 anos – dos quais 35 na direcção do Teatro Nacional -, desempenharam os vários papéis na atividade da companhia, ao longo da suas vidas e até ao fim, com toda a força, determinação, ambiguidade, controvérsia, paixão, contradição e sobretudo, amor.”
Agora que já tens por onde escolher, lembra-te que, no âmbito das novas medidas para acesso a eventos determinadas pelas autoridades de saúde, em vigor a partir de 10 de janeiro de 2022, o acesso a espetáculos requer a apresentação de certificado covid.