Os DEUSA são uma banda de Rock que se estreou no início de 2020, com a edição do single “Canção”. A banda é formada por João Afonso na voz e escrita, António Carvalhal na bateria, Henrique Carvalhal na guitarra, Bernardo Cruz no piano e Pedro Jónatas no baixo.
A nossa revista entrevistou os DEUSA e aqui tens o resultado:
MS- Quando e como começou a ideia de criar os DEUSA?
DEUSA- Talvez a ideia embrião da formação de uma banda rock cantada em português tenha começado com os gémeos, António e Henrique Carvalhal. Era, sem dúvida, algo que eu também queria e ambicionava como cantautor mas talvez ainda não houvesse encontrado as pessoas certas. Os gémeos estavam emigrados na Suíça e chegariam entretanto a Lisboa com uma mala cheia de ideias. Eu ainda não os conhecia, foram-me apresentados por um amigo, o nosso teclista Bernardo Cruz, com quem eles já haviam contactado. Ia eu à minha vida quando me cruzei com eles, numa esplanada aonde decidiam o futuro de um vindouro projecto ainda sem nome. O Pedro Jónatas, baixista, já se havia juntado. Faltava um vocalista, talvez letrista. “O João Afonso canta e escreve”, disse-lhes o Bernardo. Ligaram-me. Uma semana depois estávamos a tocar juntos.
MS– Esta é uma pergunta clichê, mas porquê o nome DEUSA?
DEUSA- O nome DEUSA surgiu depois de centenas de possíveis nomes então excluídos. É muito complicado que cinco diferentes pessoas, com diferentes backgrounds e gostos, concordem em uníssono com o mesmo nome. Eu já estava exausto, passou-me pela cabeça desistir. Por fim, lembrei-me de DEUSA. Sugeri e perguntaram-me porquê. Só então pensei que precisaria justificá-lo. E foi tão fácil. DEUSA é um bonito nome que imediatamente associamos à divindade feminina. À Natureza. A mulher é uma deidade, um ser supremo. É a musa, e nós somos cinco simplórios homens em busca de algo disruptivo, que desafie os pilares patriarcais e preconceituosos da nossa sociedade culturalmente religiosa.
MS- Enquanto banda é fácil lidarem com alguns problemas que possam ter?
DEUSA- Como banda, é mais fácil lidarmos com problemas externos do que lidaríamos isoladamente. Entre nós, apesar de sermos cinco pessoas muito diferentes, com experiências, ideias, e idiossincrasias distintas temos um amor muito grande pela música e por cada um de nós. Partilhamos uma forte visão para DEUSA e juntamente com bom senso. sentido de compromisso, humildade, despreconceito, compreensão e mente aberta, resolveremos e ultrapassaremos quaisquer problemas que possam existir ao longo do caminho (que são normais em qualquer família, grupo, equipa).
MS- Como tem sido o feedback até agora?
DEUSA- Estamos agora a lançar os primeiros singles e lançaremos brevemente o primeiro álbum, por isso, para já, poderemos apenas dizer que temos recebido um feedback bastante positivo com ambos os singles lançados e surpreendentemente acima do esperado.
MS- Como é a sensação minutos antes de subirem a palco?
DEUSA- Para mim é como estar na fila de espera para andar numa montanha russa com câmeras apontadas para mim a cada curva, subida e descida. É bom andar de montanha russa mas quanto maior a montanha, maior é a inquietação. É também uma inquietação que gostava de sentir para o resto da minha vida. Por vezes tento não pensar muito no que está por vir. Se tivermos cadeiras ou sofás, dou por mim sentado à mesa com esta pequena família que conversa sobre coisas que me fazem rir e que estará ali para mim como eu preciso estar para eles. Depois, já no palco, dá-se toda a troca de energia e emoções com o público e o concerto deixa de ser apenas nosso, seguindo o seu próprio rumo.
MS- No momento de compor uma música, as ideias surgem naturalmente ou existe alguém que tem sempre boas ideias?
DEUSA-Eu sento-me ao piano quando inspirado ou aborrecido e ideias emergem. Nem todas me soam a DEUSA, nem todas chegam à sala de ensaios. Inicialmente, e relativamente à maioria das faixas deste nosso álbum de estreia, eu peguei em gravações prematuras dos gémeos e em gravações de experimentações em ensaios de banda, e comecei por lhes adicionar palavras e melodias. Depois iam novamente ao forno — entenda-se “ir ao forno” como o brainstorm experimental em banda na sala de ensaios — e eu voltava para casa com as ideias mais cimentadas, acabando por ter novas ideias que poderiam complementar ou substituir as anteriores, sejam elas letras, melodias ou acrescentos harmónicos. A verdade é que somos todos músicos, compositores e produtores; DEUSA não existiria sem o papel de cada um de nós. Melhor que isso, temos uma boa química.
MS-Como é feita a escolha dos temas e dos nomes das letras?
DEUSA- Normalmente sou eu quem dá o nome às músicas, por ser eu quem escreve as letras. Tenho essa liberdade e sinto-me lisonjeado por isso. Gosto de simplificar no que toca a títulos. Já os temas são como pequenas identidades às quais damos vida. A forma como são organizados, como que capítulos num livro, dependerá do seu papel na história que pretendemos contar e da forma que a pretendemos contar.
MS-Algum ritual antes de entrarem em palco?
DEUSA- Eu gosto de beber um copo de vinho. O Henrique e o Jónatas afinam a guitarra e o baixo. O António aquece um pouco com as baquetas. O Bernardo faz piadas. Conversamos e rimos. Damos um abraço de família.
MS- Para os que pretendem começar no mundo da música e do Rock, algum conselho?
DEUSA- Comecem. Sejam verdadeiros convosco próprios no que diz respeito à composição e à exposição do que pretendem. Encontrem pessoas que partilhem da vossa visão, se for essa a vossa intenção. Invistam muito tempo e paciência. Não esperem ser famosos, ambicionem de forma humilde e trabalhem para os que vos receberem bem. O resto virá com o tempo e dependerá da sorte e do investimento pessoal de cada qual.
MS– O mundo do rock em Portugal, como o caracterizam?
DEUSA-É um mundo pequeno mas creio que o rock em Portugal está de boa saúde. Parece estar novamente a ganhar alguma força, o que é muito bom. Definitivamente tem surgido, como nós, algum sangue novo e com estéticas e identidades sonoras algo diferenciadas. Notamos algumas tendências mais predominantes para o rock alternativo, indie, assim como um ressurgimento de um pop-rock português mais aligeirado. Notamos também cada vez mais influência de música tradicional portuguesa e isso é maravilhoso.
[post_gallery]