Mistérios, desejos, projetos e obras. Tudo isto é revelado na exposição sobre a vida pública, mas também, privada do criador da Fundação Calouste Gulbenkian.
Como comemoração pelos 150 anos do empresário e filantropo arménio Calouste Sarkis Gulbenkian foi montada a exposição Calouste: Uma vida, não uma exposição, que vai estar em exibição até dia 31 de dezembro de 2019.
Paulo Pires do Vale, na organização desta mostra, deparou-se com a problemática do modo de expor a vida do fundador, que era reservado e não gostava de exposição pública. Esta pergunta foi respondida pelo curador que desafiou a criatividade em Calouste: uma vida, não uma exposição. A exposição faz com que o visitante seja “uma espécie de investigador e detetive” à medida que percorre uma mostra que começa pelo fim, ou seja, com a vida da Fundação Gulbenkian. É percorrido um labirinto que percorre o mundo que separa Lisboa de Istambul.
Nesta exposição é possível encontrar várias referências e objetos de Calouste – desde livros pessoais, cartas, telegramas, objetos de arte, as malas de viagem para Lisboa que possibilita a montagem da sua linha de vida.
Na mostra, que ficará patente até 31 de dezembro na galeria do piso inferior, no edifício-sede da instituição, acedemos às diversas facetas do colecionador de arte.
A exposição que começa com o fim da vida de Gulbenkian, apresenta ainda momentos posteriores a esse tempo – o seu legado – a que acedemos no átrio do edifício-sede, através de vários testemunhos recolhidos em vídeo. Nos vídeos veem-se depoimentos de visitantes de exposições ou de concertos marcantes, de figuras que foram abrangidas por bolsas da fundação ou até de casais de namorados que passearam pelos espaços da instituição.
À entrada, vemos imagens da construção da fundação e também do telegrama enviado pela filha, Rita, ao irmão, Nubar, comunicando a notícia da morte do pai Gulbenkian a 20 de julho de 1955.
Ainda no início desta viagem temporal, são entregues aos visitantes pequenos cartões com citações do empresário e magnata norte-americano Henry Ford, e do filósofo romano Séneca, cópias dos encontrados na carteira de Gulbenkian, quando ele morreu. O cartão de Ford aborda uma espécie de fórmula de sucesso, que aconselha a ser reservado, a não entrar em controvérsias, e a “ficar longe dos advogados”. Por sua vez, a citação de Séneca incita a viver cada dia da vida com intensidade, e de forma agradável.
A exposição mostra que Calouste chega a Lisboa em 1942 e instala-se no Hotel Aviz. Ia assiduamente ao jardim zoológico ou para a zona florestal de Monsanto – a natureza era um dos seus amores e viagens algo que fazia com regularidade. Possuía residências luxuosas em Paris e em Londres que chegou a desenhar e fotografar.
A mostra contém ainda muitos livros focados em assuntos de saúde e uma radiografia da coluna vertebral do multimilionário para mostrar que tinha um cuidado exagerado com a sua saúde.
É, ainda, dado o acesso a uma sala de configuração mais arte-pop, com os símbolos das empresas de petróleo, gás e mineração espalhadas pelo mundo onde detinha participações.
Obras que obteve, que comprou e que desejou mas nunca conseguiu adquirir são destacadas. O curador desta exposição optou por colocar uma moldura vazia com as dimensões do quadro La Condesa de Chinchón de Goya – quadro que Gulbenkian ambicionou mas nunca teve – fazendo-o com um dispositivo que recria manifestações da arte contemporânea.
A exposição termina numa sala que aborda a cultura arménia. No final, os visitantes podem levar para casa um cartaz que reproduz a linha de vida de Gulbenkian e um retrato do mesmo num estilo art-pop.
[Foto: Fundação Calouste Gulbenkian]