Entrevista | Maria José Fernandes, Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos
São várias as novidades no Ensino Superior Politécnico que têm marcado a atualidade nos últimos meses. Agora, a Dr.ª Maria José Fernandes, reeleita Presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), esclarece-nos sobre todas as alterações neste regime de Ensino Superior.
Quais as principais diferenças entre um Doutoramento, ministrado nos Politécnicos e nas Universidades?
Assisti recentemente no IPCA (Instituto Politécnico do Cávado e do Ave) à defesa da primeira tese de Mestrado dos Mestrados Profissionais (Mestrados de um ano de duração), aos quais nos candidatámos para poder ministrar. Estes destinam-se a pessoas que já estejam no mercado de trabalho e que tenham, no mínimo, 5 anos de experiência na área do respetivo Mestrado. Estes são Mestrados fortemente alinhados com as profissões. Relativamente aos Doutoramentos, estão igualmente alinhados com os territórios, onde são ministrados, por exemplo, em Bragança, temos Doutoramentos na área da Alimentação na Montanha, porque há excelência nessa área de investigação; em Leiria, temos, como forte aposta a área da Eletrónica e da Mecânica; no IPCA, a Inteligência Artificial… As áreas são selecionadas, também, conforme as empresas existentes em cada região.
Como é que estas alterações provocadas pelos Doutoramentos e pelos próprios Mestrados Profissionalizantes se fazem sentir?
No caso dos Mestrados Profissionalizantes, faz-nos ir procurar pessoas para lecionar estes Mestrados, ao mercado de trabalho. É importante referir que estes Mestrados implicam que exista uma especialização numa determinada área e, para isso, é preciso recrutar pessoas com muito conhecimento nessa mesma área: Este é um desafio! Por último, esta relação tem de estar alinhada com uma estratégia de investigação.
O tecido empresarial está fortemente ligado com os Politécnicos. A adoção do grau de Doutor trouxe alterações positivas a esta ligação?
Claro que sim! Nos Politécnicos, dispomos de Centros de Investigação e recebemos Doutorandos que estão a fazer investigação, só que vêm de outras Instituições e recorrem aos nossos equipamentos e à ligação que temos com as empresas, mas, anteriormente, não podíamos atribuir o grau e, claro, as propinas que eles pagavam não eram nossas, pois não era aqui que eles estavam inscritos. Este era um problema que creio que será brevemente resolvido.
Como caracterizaria as vagas existentes nos Politécnicos para os Mestrados e Doutoramentos?
O Professor Alberto Amaral, Presidente da Comissão de Avaliação do Ensino Superior, refere que há muita oferta de Mestrados, ou seja, que não há uma regulação nacional sobre a oferta formativa. Tendo em conta a nossa autonomia, em função das nossas áreas e da nossa estratégia para o futuro, nós vamos desenhando os cursos, quer se tratem de Licenciaturas, Mestrados ou Doutoramentos. Se uma Instituição não tem cursos de Educação, Enfermagem ou Agricultura, não terá um Mestrado nestas áreas. Por outro lado, o mercado também dita a oferta, em função da procura. A propósito dos Mestrados Profissionalizantes, a formação de adultos, no geral, é um dos vértices da atuação dos Politécnicos, até porque é fundamental para se combater o inverno demográfico existente no nosso país, com a quebra de alunos com 18 anos. Por isso, um dos grandes objetivos é qualificar a população adulta, pois a nossa população jovem, como sabemos, é muito qualificada, inclusive, até já ultrapassámos os indicadores europeus. Precisamos de adotar estratégias para voltar a chamar às Instituições, as pessoas que já saíram, mantendo as que cá estão.
Para um jovem que tenha concluído a sua Licenciatura numa Universidade e esteja agora interessado em frequentar um Mestrado num Politécnico, que oportunidades distintas oferecem estas Instituições, neste nível de ensino?
Os nossos Mestrados têm uma vertente fortemente vocacional, destinada a dotar os alunos com conhecimentos práticos e, claro, também teóricos, sobre uma determinada área, para um determinado ramo do conhecimento.
Temos muitos estudantes que se formaram em Universidades e vêm fazer o Mestrado ao Politécnico, e vice-versa. Há aqui uma relação entre estes dois tipos de ensino. Tudo isto relaciona-se com as escolhas e as opções dos candidatos.
Por último, estão previstas novas alterações no Ensino Superior Politécnico para os próximos anos?
Vamos ver o que nos reserva o Regime Jurídico… Creio que com a resolução da questão da Universidade Politécnica em pleno, a questão dos Doutoramentos ficará naturalmente resolvida. O que é importante é que continue a haver estímulos ao Politécnico, para que se fortaleça o caminho muito forte que foi feito nestes últimos 13 anos, apesar de ainda registarmos um défice em algumas áreas. Precisamos de um boost para atingirmos mais rapidamente os nossos objetivos.