Opinião | Existe (ou não) Bullying no Ensino Superior?
O Ensino Superior, muitas vezes considerado como um ambiente de aprendizagem mais maduro e desenvolvido, não escapa ao Bullying. Pode ser feito de formas mais subtis e difíceis de identificar, mas os impactos são igualmente nocivos. Mas, será que os níveis de Bullying nesta faixa etária são iguais em todas as Instituições?
Primeiro, há que definir o que é Bullying: Comportamentos agressivos entre pares, repetidos e desenvolvidos numa relação de desequilíbrio de poder. Estes podem ser verbais, físicos, relacionais (discriminação, exclusão social, e difamação), ou através dos dispositivos digitais, no caso do Cyberbullying.
Apesar de mais concentrados no Ensino Básico e Secundário, um estudo feito em 2012 identificou que a incidência de Cyberbullying tende a reduzir no ambiente universitário, com uma maior propensão dos rapazes para assumirem o papel de bullies, concluindo que alvos e bullies no Ensino Superior estão predominantemente na faixa etária dos 24 aos 26 anos, sendo que os estudantes de Ciências da Educação apresentam uma propensão maior (FRANCISCO, 2012).
A presença do Bullying pode variar significativamente de uma Instituição de Ensino Superior para outra. Fatores como as políticas institucionais relativamente à inclusão e à diversidade, as medidas tomadas em situações de agressão, a composição demográfica e o ambiente académico influenciam a sua prevalência.
Em alguns ambientes académicos, podemos observar níveis muito elevados de competição entre estudantes, devido à pressão para obter as melhores notas, que podem levar a vários tipos de Bullying. Observamos, ainda, a exclusão de estudantes que não se enquadram nos padrões do grupo, podendo sofrer de discriminação com base em género, orientação sexual ou origem étnica, por exemplo. Adicionalmente, estudantes que são oriundos de outras localidades ou países, e, por consequência, não possuindo uma rede de apoio na nova zona de residência, poderão estar em risco de maior isolamento social.
A gestão das praxes é, também, um fator relevante. Por um lado, ao participar, as/os estudantes podem ver-se em situações degradantes e humilhantes, inclusive pôr em perigo a sua integridade física e psicológica. Por outro lado, se não participarem, poderão sofrer de exclusão das atividades sociais em todo o seu curso, o que leva a um grande isolamento social. É um dilema que muitas pessoas passam nesta fase da sua vida e, em ambas as opções, poderá ter efeitos negativos duradouros e comprometer a sua experiência.
Para contrariar estes efeitos, é necessário que as Instituições definam linhas orientadoras claras no que toca às praxes académicas, onde seja realmente promovida a integração, como jogos e dinâmicas que incentivem as pessoas a conhecerem-se mutuamente e a conviverem de uma forma positiva e construtiva. Várias Instituições já fazem esse trabalho de orientação e supervisão dinamizam atividades solidárias, promovendo a empatia e a responsabilidade social.
O que podemos fazer para promover um ambiente académico de respeito e inclusão? São necessárias medidas, que podem vir da parte da Instituição ou de grupos de estudantes que acreditem que podem fazer a diferença. Campanhas de sensibilização, workshops, e debates, são formas de chegar aos vários públicos e fomentar a reflexão e o diálogo sobre sexismo, o racismo, a xenofobia, e a LGBTfobia.
A criação de canais eficazes para denúncias, assegurando a confidencialidade e a imparcialidade no tratamento dos casos, é crucial. Os canais devem ser fáceis de utilizar e ser divulgados a todas as pessoas da comunidade (estudantes, docentes e não docentes), várias vezes ao longo do ano. Quando são denunciados casos, as Instituições académicas devem assumir a responsabilidade de mediar as situações que surgirem e dar o apoio necessário às pessoas envolvidas, seja como alvo, bully ou testemunha, para que possam ultrapassar as suas dificuldades.
O desafio está em transformar as discussões sobre Bullying em ações tangíveis, implementando medidas concretas que reforcem a cultura de respeito e solidariedade no ambiente académico. Somente, assim, será possível construir um Ensino Superior que não apenas capacite intelectualmente, mas que forme cidadãos conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária!
Artigo de Isabel Freire de Andrade, Psicóloga e Coach da No Bully Portugal
- de SOUZA, Sidclay Bezerra, et al. “O Cyberbullying em contexto universitário do Brasil e Portugal: Vitimização, Emoções Associadas e Estratégias de Enfrentamento.” Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação (2016): 1674-1691.
- de FRANCISCO, Sofia Mateus. “Cyberbullying: A faceta de um fenómeno em jovens universitários portugueses.” Diss. 2012.