Há livros que ganham vida própria e que adquirem significados muito diferentes do que os próprios autores tinham imaginado, é o caso d’A Raridade das Coisas Banais.
Pedro Chagas Freitas não o escreveu com o intuito de ser utilizado profissionalmente por psicólogos, mas foi o que acabou por acontecer. E se para um leitor comum, as múltiplas dimensões deste livro podem não ser óbvias, partilhamos as opiniões das psicólogas Stephanie Lourenço Afonso, licenciada e mestrada em Psicologia Clínica, ramo psicoterapia e com Vânia Lopes, neuropsicóloga com uma abordagem psico-emocional.
Para Stephanie Lourenço Afonso, temas como o auto-conhecimento, a inteligência emocional, a sexualidade, a ansiedade e a depressão são alguns dos temas representados na obra de Chagas Freitas e aborda levemente, cada um deles, relacionando com excertos da obra.
“O auto conhecimento de cada dia nos dai hoje, que tal isto como oração matinal?”
A transição para a vida adulta é um momento complexo para a maioria dos jovens, já que é nessa fase que acontece algumas das principais mudanças físicas e psicológicas, no qual são construídos novos costumes, valores, interesses, objetivos e relacionamentos. E nesta fase que o auto-conhecimento ganha uma extrema relevância para escudo, proteção e promoção da saúde emocional e mental.
“Precisamos de saber quem somos para sermos felizes e ninguém sabe quem é se nunca estiver triste.”
Muitos dos jovens não conseguem relacionar o que sentem ou o que pensam e muito menos o que aprendem em sala de aula com aquilo que desejam realizar e conquistar ao longo de sua trajetória. Infelizmente, durante esse processo também é notado uma cultura que potencializa a angústia de muitos, no qual há uma pressão para que o estudante ingresse na universidade assim que concluir o Ensino Médio, exigindo com que o mesmo com apenas 17 anos saiba qual universidade irá ingressar, qual profissão irá desenvolver e que papel irá desempenhar na sociedade. Tudo isso com pouca ou quase nenhuma experiência de vida, no meio da pressão emocional, sentimentos de insatisfação bloqueando a alegria, a energia e consequentemente os bons resultados.
“A mudança exige inteligência, a permanência. Pretendemos estar imóveis quando o mundo roda que aborrecimento. O que somos é mais que tudo mudança o que somos é mais do que tudo incoerência.”
Não somos escravos da coerência, somos jovens e adultos em constante alteração. Sabendo que existe uma montanha russa de emoções diariamente a palpitar para fora do nosso corpo. Desde do sorriso que cativa a alegria, o choro que desabrocha da tristeza, a raiva que irrita a frustração, a inveja que repudia o nojo e o medo que assusta o amor.
Por falar em amor, a sexualidade e a sua importância para a nossa saúde mental também não foram esquecidas.
“Ama-me como se não houvesse pecado.”
A sexualidade é concebida enquanto aspeto central e é inerente à natureza humana. que engloba uma série de fatores como sexo, identidade de género, intimidade e reprodução. Tais aspetos ganham maior relevância e intensidade no período da juventude, em que o jovem experimenta uma série de interações sociais, além da procura pela sua autonomia e pela sua afirmação de identidade de género e as suas funções de erotismo, prazer, intimidade e reprodução.
Para Vânia Lopes, é também possível observar a importância das escolhas da vida e o que faz o crescimento ao ser humano ao crescer a personagem começa a perder um pouco a sua imaginação a sua esperança, contudo mesmo estando mal ia acreditando que a felicidade é o caminho, sendo possível observar esses momentos nestas citações “Tentei ser tudo. Tudo menos eu próprio”; “O que fazes quando algo te faz parar? Avanço”.
Na entrada para a vida adulta, a personagem foi percebendo os seus medos o medo de ser viciado pelo poder, o medo de esquecer a busca pela felicidade, as suas inseguranças de não ser ele mesmo, como podemos verificar nas seguintes citações: “Somos viciados pelo poder. É a nossa maior fraqueza”. “Tentei ser tudo. Tudo? Tudo menos eu próprio”. “Crescer é também deixar de fazer a busca pela felicidade c o primeiro motivo para a ocorrência de cada dia…”.
A ansiedade, inerente às novas fases, faz com que por vezes a pessoa tenha medo de ser ela mesma de sonhar “às vezes tenho medo de sonhar.”
Por último, Vânia refere a importância de continuarmos no caminho da esperança para atingir a felicidade e para tal é importante mantermo-nos únicos, ou seja, tal como no livro, manter as características individuais de cada um “Posso até mudar um pouco, passar a perceber coisas novas, deixar de subir às árvores e assim. Mas só não quero tornar-me no que não sou, prometo.”.
A mudança que procuras está dentro de ti!
Dificilmente participo em partilha de opiniões. Mas há, há exceções! O Livro merece e, consequente e muito justamente, o seu Autor também. Apaixonei-me, verdadeiramente, por este “tratado” de humanidade; por esta leitura e interpretação da alma que é “terra” e “transcendência”; por este fluir de sentimentos e sensações no “eu” de cada um; por este abarcar dos nossos limites e da capacidade de irmos além deles. Enfim, estou lá, no Livro, no meu melhor e no meu pior. É isto que faz de Pedro Chagas Freitas “O Escritor”!