A Mais Superior esteve à conversa com Nuno Soares, responsável pelo Sons de Vez, numa entrevista informal que tem como principal objetivo assinalar o 20.º aniversário, ao trazer ao de cima o que de melhor se viveu em duas décadas do festival de Arcos de Valdevez.
O combo ‘música, natureza e património’ faz do Sons de Vez um evento único e pouco provável de ser experienciado em qualquer outra região do país (e quem sabe, do mundo). Um festival que não faz distinção entre as carreiras dos artistas e onde só uma coisa importa: a boa música.
O que é que distingue o Sons de Vez de outros festivais de música?
O que efetivamente distingue o Sons de Vez dos outros festivais é o facto de ser mais do que um festival: é uma mostra de música moderna – e esta é a nossa característica desde o primeiro momento. Também (difere) o facto de ser um sequência de eventos musicais que têm a duração de dois meses, e que acontecem todos os sábados de fevereiro e março – são oito datas, o que não é um aspeto comum a outros festivais, que, normalmente, acontecem por um período de tempo mais curto, como um fim de semana, ou pouco mais do que isso. Adicionalmente, o Sons de Vez é um festival 100% dedicado à música portuguesa – não que outros festivais não o façam, mas há 20 anos isto não existia, nem muito menos existe algum festival que já o faça há 20 anos. O nosso festival tem enfoque na música portuguesa e nas várias gerações que a acompanham, tratando-se, por isto, de um evento heterogéneo, com múltiplas sensibilidades e múltiplas gerações. Devido às próprias características do auditório da Casa das Artes (que tem um palco de 30 centímetros de altura), o Sons de Vez reflete um momento de grande partilha, em que o público se sente próximo das bandas e pode falar com elas no final do espetáculo – até porque vai toda a gente ao bar da Casa das Artes – e isso quebra o típico conceito do músico enquanto ‘vedeta’ inalcançável: a experiência de proximidade antes, durante e depois do evento é um fator distintivo. A somar, o facto de o festival não ocorrer numa área geográfica dentro do perímetro das grandes cidades, o que, mais uma vez, não é comum.
Este ano celebra-se o 20º aniversário do festival. Como é que descreveria estes 20 anos de Sons de Vez?
Esta é uma pergunta complicada, porque é difícil descrever as muitas emoções. Foram mais de 250 projetos musicais e mais de 19 mil pessoas que passaram no palco da Casa das Artes nestes 20 anos de Sons de Vez – estes podem parecer números que, comparando a um festival de verão, não são nada, mas num espaço intimista com 226 lugares sentados, estes são números bastante importantes, que constituem motivo de grande orgulho. São 20 anos de muita emoção, em que vimos nascer projectos no Sons de Vez, que hoje em dia estão afirmados na música portuguesa. Apesar de termos limites de investimento, até porque somos um projeto sem qualquer patrocínio externo, financiado a 100% pelo Município de Arcos de Valdevez (tornando-nos assim equipamento cultural do município), nunca tivemos um nome negado, como por exemplo o Pedro Abrunhosa ou os Moonspell. Quando olhamos para o nosso percurso, temos memórias muito positivas e fazemos questão de guardar artistas que fazem parte na nossa história, e que já não se encontram fisicamente entre nós – como o João Aguardela e o Zé Pedro dos Xutos e Pontapés. O Sons de Vez é uma partilha de emoções, de gente amiga que se junta no palco e na plateia – é uma grande celebração em torno da música e daquilo que melhor se faz em Portugal.
Quais são os ingredientes-chave para perpetuar um festival de música durante duas décadas?
Os ingredientes-chave são a transparência absoluta nos processos, como por exemplo, nas questões de financiamento; a apresentação de soluções; sermos um projeto descentralizado, fora do eixo ‘urbanístico’ e presente no concelho que mais cresceu a nível turístico nos últimos anos, com forte património de natureza, histórico e arqueológico; o sentido colaborativo na organização do festival (…) que resulta numa programação muito equilibrada, que foi crescendo e se afirmando a nível nacional; o facto de os artistas com mais peso mediático terem vontade de vir atuar ao primeiro festival do ano; e, claro, os parceiros – os media, que sempre estiveram connosco de uma forma natural e descomprometida, especialmente a Antena 3, um canal de serviço público, que nestes 20 anos sempre estiveram connosco, o que, em certa forma, levou a que as pessoas em geral e os media acarinhassem muito o nosso projeto.
O que é que o público procura neste festival?
O público procura os nomes de qualidade, quer sejam eles novos nomes ou os nomes já consagrados. Vêm em busca de um ambiente intimista, com uma acústica excelente – e encontram. O nosso público vem apenas sentir música, e consegue-o num ‘pack’ de turismo que contempla a natureza, ruralidade e uma fantástica experiência gastronómica. O Sons de Vez é um festival de música que não tem acessórios, e nós orgulhamo-nos disso!
Que impacto teve a não realização, por motivos de pandemia, para o festival?
Nós reinventamo-nos (…) arranjámos um plano B, em que reagendámos alguns nomes para a edição deste ano. E foi basicamente isto. Tivemos de nos adaptar a uma nova realidade. Acreditamos ter sido bem mais difícil para os músicos e todas as suas equipas.
O que é que significa para os artistas atuar no palco do Sons de Vez?
Os artistas ficam altamente emocionados, sentem que é algo natural, independentemente do vigor das suas carreiras. Para nós, enquanto organização, os artistas têm todos o mesmo valor e todos recebem um tratamento universal.
O que se pode esperar para a edição de 2022?
Primeiro que tudo, que ela se possa realizar [risos]. Vai ser uma grande emoção para todos, tanto para aqueles que realizam o festival, com para os artistas – todos têm vontade de participar.
Quais são os artistas mais aclamados na edição deste ano?
Como referi, todos os artistas têm o mesmo valor. Mas, pelo facto de os Moonspell celebrarem 30 anos de carreira e serem pouquíssimos os concertos que vão dar este ano, esta vai ser uma das poucas oportunidades para os ouvir. No entanto, todos os nomes são muito bons e tenho a certeza de que todos são bastante aclamados pelo público.