A Universidade de Aveiro tem vindo a desenvolver, nos últimos meses, um projeto de promoção da sustentabilidade e da economia circular na instituição, objeto de financiamento no âmbito de uma candidatura submetida aos Avisos 2020 do Fundo Ambiental.
Este projeto tinha como objetivos obter informação de qualidade para poder avaliar os indicadores e índices de desempenho da UA em termos de sustentabilidade e de economia circular, tratar essa informação e dá-la a conhecer à comunidade.
A professora Ana Paula Gomes esteve envolvida neste projeto, e explicou à Mais Superior as várias etapas deste projeto, quais os critérios de seleção de informação, quais os indicadores selecionados e a sua relevância ambiental, os resultados obtidos no final do projeto e as repercussões do mesmo para a Universidade se tornar uma instituição mais sustentável.
1. Qual foi o critério de seleção dos indicadores do projeto?
Procuraram-se indicadores que pudessem ser aplicados nas instituições do ensino superior e que, por serem de fácil de interpretação, fizessem chegar a todos os membros da academia a informação relacionada com as questões ambientais. Simultaneamente, selecionaram-se indicadores ambientais que fossem relevantes e úteis aos órgãos de gestão da Universidade de Aveiro (UA), sensíveis a variações e capazes de mostrar tendências de evolução e, ainda, que viessem a permitir o estabelecimento de comparações com instituições pares.
2. O que se pretendeu aferir com os indicadores selecionados?
Ter uma perspetiva do estado e tendências da instituição relativamente à afetação de recursos e à circularidade dos mesmos.
3. De que forma foram recolhidos os dados e as informações que serviram de apoio ao critério de escolha dos indicadores?
Foram analisados os anos 2018 e 2019. Tendo em conta que o ano de 2020 foi um ano anómalo, este não foi considerado. Por outro lado, iniciou-se em 2018, uma vez que a partir desse ano a universidade passou a dispor de toda a informação em plataformas digitais de registo sistematizado de dados. Assim, a informação foi facultada por vários dos principais Serviços da UA e proveniente de múltiplas fontes de dados.
Deste modo, verificou-se ser possível aceder de forma digital à informação relativa a:
– Gestão de stocks, através das contas correntes do setor alimentar (serviços de cantinas e bares) e do setor de papelaria/livraria;
– Telecontagem, da energia elétrica (consumida e produzida), dos consumos de gás natural e de água, e da geração de águas residuais;
– Aquisições centralizadas de: papel de escrita/impressão, papel descartável, produtos de limpeza e serviço de gestão de resíduos;
– Sistema integrado de impressão, com informação obtida diretamente da base de dados associada ao respetivo software de impressão utilizado pela UA;
– Movimentos nos parques de estacionamento registados nas bases de dados.
Através da análise da informação disponível, em reuniões de trabalho com os representantes dos diferentes serviços da UA, verificou-se ser possível alimentar um conjunto alargado de rácios/indicadores que cobrem diferentes aspetos ambientais.
4. Qual a relevância ambiental dos indicadores utilizados?
Recorreu-se a indicadores ambientais descritivos para caracterizar os aspetos ambientais e a indicadores de eficiência que permitem caracterizar a eficiência dos processos associados ao funcionamento da instituição, no que respeita à utilização de recursos e à geração de resíduos e emissões.
Os indicadores foram organizados em três níveis de discretização. O 1º nível diz respeito aos seguintes rácios e respetiva variação no biénio analisado:
– Consumo total de papel (de impressão e descartável) por membro da comunidade académica;
– Consumo energético por membro da comunidade académica;
– Consumo de água da rede por membro da comunidade académica;
– Geração de águas residuais por membro da comunidade académica;
– Quantidade total de resíduos gerados por membro da comunidade académica;
– Fração de recolha seletiva de recicláveis.
Associados a cada um destes aspetos corresponde, pelo menos, mais um nível de indicadores, como, por exemplo, o indicador de emissões de CO2 (equiv.) por membro da comunidade académica, ou o indicador de membros da comunidade académica por ecoponto.
Este tipo de informação torna-se relevante para a instituição no que respeita à sua tarefa de gestão, avaliando a afetação de recursos, avaliando as tendências evolutivas, criando estratégias e estabelecendo metas, avaliando o cumprimento de normas e metas e comparando-se com outras instituições de ensino superior.
5. Em que medida estes indicadores podem trazer benefício para o desempenho da Universidade, para torná-la uma Universidade sustentável?
O caminho para uma universidade sustentável passa pela implementação de um sistema de gestão ambiental na instituição. Os indicadores permitem o diagnóstico dos aspetos e impactes ambientais relevantes, auxiliando a instituição a integrar a componente ambiental na sua gestão e a desenvolver a política ambiental, já em implementação na UA, no sentido da melhoria contínua do seu desempenho ambiental.
Sensibilizar a comunidade da academia, através da informação, dos aspetos ambientais relevantes e que provavelmente se prendem como seu comportamento individual, como consumidores e utilizadores de serviços na UA.
A avaliação ambiental, em que se focou o projeto, é uma das três vertentes da sustentabilidade, desejando-se que este projeto seja a motivação para a realização de outros estudos que cubram a vertente social e a vertente económica da sustentabilidade da instituição.
6. Conseguiram obter todos os elementos ao longo do projeto, para conseguirem realizar tudo aquilo que almejaram no início do trabalho?
Globalmente, pode-se dizer que sim. Foi disponibilizado o grosso da informação que, no início do projeto, se considerou necessário analisar.
Outros (poucos) elementos que tínhamos em mente analisar e para os quais não foi possível obter dados, tornaram-se desafiadores, quando abordados nas reuniões de trabalho com os representantes dos diferentes serviços da UA. Por um lado, porque dizem respeito a práticas ainda não implementadas na UA, mas que poderão vir a ser consideradas, ou, por outro lado, porque apesar desses aspetos estarem implementados no funcionamento da UA, não existe ainda uma base sistematizada de registo de dados.
Pode-se acrescentar que, atendendo ao pouco tempo de realização do projeto, houve informação que não chegou a ser trabalhada e que permitiria obter alguns indicadores de 3º nível de discretização.
7. Quais os resultados deste projeto que considera mais relevantes ou pertinentes de serem apresentados à comunidade geral?
Consideram-se relevantes:
– Os dados relativos ao consumo de recursos, materiais e energéticos;
– Os dados relativos ao impacte das atividades dos campi nas emissões de CO2 (equiv.);
– O acompanhamento destes resultados com informação do contributo das estratégias da UA para diminuir estes consumos e impactos.
É pertinente a informação relativa aos fluxos de saída de resíduos e à fração desses resíduos que é reintroduzida na economia, através de operações de preparação para reutilização ou de valorização, nomeadamente a reciclagem.
8. Houve valores obtidos que a tenham surpreendido positiva e/ou negativamente?
Observaram-se algumas tendências entre 2018 e 2019, por membro da comunidade académica.
Pela positiva destaca-se:
– A verificação de um decréscimo de 5% no consumo de energia elétrica;
– A diminuição de 8% no consumo de gás natural;
– A redução d 16% no consumo total de papel: 7% no papel de impressão e 28% no papel descartável (papel tissue);
– 44% do papel descartável (papel tissue) ter origem em papel reciclado;
– O aumento de 34% na fração de recolha seletiva de recicláveis.
Pela negativa destacam-se:
– Um aumento de 6% no consumo de água da rede de abastecimento;
– O aumento de 8% na quantidade total de resíduos produzidos.
Exemplos de valores que chamaram a atenção e que requerem análise mais aprofundada para se perceber as causas, foram:
– O consumo de água da rede de abastecimento, por membro da comunidade académica, ser equivalente a um terço do consumo doméstico per capita em Portugal;
– O consumo de gás natural ser uma fatia importante do consumo energético total;
– A água residual contabilizada representar 40% da água da rede de abastecimento consumida.
9. Quais são as repercussões que este projeto terá na prática na Universidade para a tornar mais sustentável?
Melhorar a gestão global no que respeita aos fluxos de entrada de recursos, incluindo a energia, e os fluxos de saída, na forma de emissões e resíduos.
– Facilitar a disseminação da informação na academia
– Melhorar o desempenho ambiental dos campi da UA
– Melhorar a eficiência de utilização dos recursos
– Diminuir os fluxos de entrada e de saída de materiais e de energia nos campi da UA
– Promover os exemplos de circularidade de recursos
– Incrementar a utilização de energia proveniente de fontes renováveis
– Promover a mobilidade sustentável
– Melhorar a imagem pública da instituição
– Reduzir os custos operacionais da instituição