Muitos já ouviram falar sobre as Tunas, mas poucos são os que têm noção do verdadeiro significado da palavra, do esforço e dedicação que estes estudantes desenvolvem ao longo de vários anos letivos. As Tunas, por vezes, podem ser associadas à praxe e ao traje, no entanto, adotando uma perspetiva diferente, é possível perceber que este mundo inserido no Ensino Superior, vai bem mais além.
Descodificando a palavra “Tuna”, é uma banda constituída por estudantes e ex-estudantes universitários que atuam pela faculdade. Todos cantam, para além de tocar. Mas não fica por aqui, ainda existem as coreografias dos porta-estandartes que são performances com o manejar do estandarte da instituição, para criar uma dança ou mostrar uma habilidade.
Andreia Coimbra entrou na faculdade em 2013 e afirma que foi, sem dúvida, uma das maiores experiências da sua vida. Na sessão de abertura do ano letivo, depois de todos os discursos e comunicados, chegou a vez de os caloiros assistirem à atuação da Tuna Sabes, a mui nobre Tuna da Escola Superior de Educação de Lisboa. “Já tinha tido a oportunidade de ver outras Tunas a atuar, mas aquela conquistou-me como nenhuma outra pela animação e boa disposição que eles transmitiam, a emoção em cada música, a troca de sorrisos e gargalhadas, o à vontade em cima do palco… lembro-me como se tivesse sido ontem!”, afirma a jovem, recordando o momento com saudade.
Andreia recorda que após a atuação, a Tuna convidou todos os estudantes, fossem eles caloiros ou não, a entrarem para a “banda”. O primeiro passo era aparecer na sala de ensaios no dia da audição, na qual cada estudante teria de cantar uma música ou duas e, caso soubesse, tocar um instrumento. “Um pesadelo para mim tendo em conta que não sou a miúda mais extrovertida e desavergonhada do mundo (até pelo contrário!!), sabia muito pouco de música, não tocava nenhum instrumento e tão pouco sabia cantar… Mas tudo bem, aquela malta de trajes pretos tinha-me conquistado tanto que a vontade de entrar para aquele grupo falou mais alto do que a voz desafinada“.
A vontade de Andreia falou mais alto que os nervos, ia cantar à frente de pessoas com quem nunca tinha falado, um verdadeiro desafio! “Até nem correu mal” e afirma que alguns deles ainda foram simpáticos e outros assim mais sisudos. O momento mais desafiante já estava ultrapassado, agora, restava saber se teria sido suficiente para fazer parte da Tuna. “Passado uns dias, consegui finalmente ver o meu nome na lista dos candidatos aceites, ficando no grupo dos contraltos”.
No primeiro dia de ensaio, Andreia foi informada que tinha que decorar todas as músicas e, além disso, aprender a tocar um instrumento. Por isso “escolhi aprender aquilo que mais despertou a minha atenção quando os vi atuar: o estandarte! Mais tarde, já nos últimos anos de tunante também ‘dei uns toques’ no ukulele que trazia de Erasmus”.
Os primeiros ensaios já tinham começado e Andreia tinha que estar todas as terças-feiras ao final da tarde até anoitecer, sem quaisquer desculpas, “as desculpas ficavam para os pais que nos viam ‘a chegar a tarde e más horas'”, afirma.
Conta que, muitas das pessoas que entraram para a Tuna no mesmo ano que Andreia já conheciam pessoas que lá estavam, o que não era o seu caso, daí considerar a entrada na Tuna uma grande aventura! “Rapidamente e, depois de alguns ensaios, convívios e atuações, percebi que estava a entrar para uma família: alguns eram pais mais exigentes, de poucas confianças com os mais novos e que valorizavam as hierarquias; outros tios mais brincalhões que só queriam brincadeiras e jogos (de preferência com sumo de uva); e depois existiam os mais novos com quem era mais fácil conviver e conhecer”.
Durante o primeiro ano, a Tuna Sabes teve que trabalhar imenso para conseguir atingir um objetivo gigante: ir à Madeira. Para conseguirem alcançar este objetivo, precisaram de fazer bastantes atuações, vender dezenas de crepes na faculdade, distribuir centenas de rifas para cabazes de natal e, ainda, pagar as quotas à magister. “Foi um ano em cheio, um ano em que, juntos, passámos por momentos maravilhosos, mas também por acontecimentos mais difíceis que fizeram a capa cair no chão, parar as cantigas e apoiarmo-nos como família que éramos (e somos)”.
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Garante que esteve mais próxima desta família, que foi mudando ao longo do tempo consoante as entradas e saídas durante longos quatro anos, “Foram 4 anos inesquecíveis, alguns mais fáceis do que outros, alguns mais trabalhosos, alguns com mais tempo disponível do que outros, mas quando se quer, consegue-se e, quando não acontece, há sempre alguém que te vai fazer ver que se te organizares (estudo, amigos, namorado, família, trabalhos, etc.) tudo se consegue!“.
“Entrar para uma Tuna não é entrar para um grupo de pessoas que bebe uns copos e toca umas músicas quando lhes apetece… também é isso, é verdade, mas antes disso há momentos de trabalho e dedicação, de responsabilidade, de discussão e organização. Há toda uma preparação para festivais, arraiais, atuações e ensaios, mas acreditem que todo o esforço vale a pena e é reconhecido. Com a Tuna aprendi imenso! Muito mais do que música aprendi a viver o verdadeiro espírito de estudante universitário! Ser tunante é um sentimento difícil de descrever, mas muito bom, mesmo! Digo muitas vezes que a Tuna foi das melhores coisas que tive na faculdade, mesmo depois de terminar o mestrado levei comigo amigos que a Tuna Sabes me deu até aos dias de hoje. Depois de alguns anos continuo a sentir-me parte desta família que com todas as suas brigas e diferenças é um escape para os momentos bons e menos bons. É com muito orgulho, e ainda mais saudade, que digo que pertenci a esta mui nobre Tuna!”.
Como vês a vida académica é bem mais do que estudar! É uma etapa da vida em que deves aproveitar ao máximo cada momento. Esperamos que tenhas percebido o que é realmente uma Tuna e que tenhas vontade de embarcar nesta aventura.