Uma equipa de nove estudantes da Universidade de Lisboa (ULisboa), supervisionada por Hugo Ferreira, professor do Departamento de Física e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da Faculdade de Ciências da ULisboa ganhou o Translation Potential Runner-Up Award na 5.ª edição do SensUs Student Competition – 2.º Lugar na categoria de potencial de translação, um prémio que valoriza a capacidade de criação de um modelo de negócio, viável e com qualidade.
O SensUs Student Competition envolve estudantes, profissionais, universidades e empresas internacionais da área da saúde, que procuram apresentar soluções inovadoras para determinado problema. As melhores ideias podem ser colocadas em prática ou alvo de projetos de investigação. A edição deste ano contou com 15 equipas e teve como principal foco a epilepsia.
Durante seis meses, a equipa de estudantes desenvolveu, apenas no plano teórico em virtude da pandemia, um biossensor portátil, este permite às crianças ou jovens com epilepsia e aos seus pais, a medição da concentração do medicamento valproato – utilizado para o controlo da sintomatologia desta doença, que se estima afetar cerca de 50 mil pessoas em Portugal.
Nesta aplicação, o médico recebe os primeiros sinais de alarme, (valores fora do intervalo esperado) e dessa forma, pode analisar de imediato a situação. Os doentes podem também registar os sintomas, manter um diário de crises, observar a evolução da quantidade do medicamento no sangue e participar num fórum comunitário com outros utilizadores do dispositivo.
A Mais Superior entrevistou a aluna Carolina Piçarra, uma das team captain do grupo de estudantes premiado para saber mais sobre este projeto, o seu desenvolvimento e objetivos para o futuro.
Confere a entrevista de seguida…
MS – Como surgiu a ideia de criar um biossensor portátil?
CP – Todos os anos o desafio da competição é dado pela organização da mesma. Este ano, o objetivo seria criar um biossensor para monitorização de Valproato, uma das medicações mais frequentemente prescrita aos pacientes de epilepsia. A ideia de criar um dispositivo portátil, a ser usado pelos pacientes em casa, e não maioritariamente em contexto hospitalar, surgiu após algumas conversas com pacientes, onde percebemos que o real problema era a ansiedade sentida pelos pacientes e pelos pais dos mesmos, especialmente em casos pediátricos, devido à falta de um acompanhamento mais contínuo e próximo por parte do médico. Assim, concluímos que para solucionar este problema teríamos de criar um dispositivo que permitisse a medição destes níveis frequentemente, sempre com uma supervisão por parte do médico na análise dos resultados.
MS – Que apoios tiveram para concretizar este projeto?
CP – Existe um apoio financeiro por parte da organização da competição, igual para todas as equipas, não só para o desenvolvimento do biossensor como para cobrir as viagens para Eindhoven, onde a competição se realizaria, caso não estivéssemos numa situação pandémica. Para além disso, contámos com o apoio do TecLabs, a incubadora de Start-Ups da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que não só se mostrou inteiramente disponível para ajudar, como nos forneceu o acesso a uma sala para trabalharmos e reunirmos com um laboratório.
MS – Com que intuito participaram na 5.ª edição do SensUs Student Competition?
CP – Como alunos de engenharia e ciências da vida, uma das maiores motivações foi ter a oportunidade de desenvolver um equipamento médico de raiz, num projeto a nível internacional e financiado. Sem dúvida que não é todos os dias que nos dizem: “Pronto, aqui têm este dinheiro e este desafio, agora criem algo sozinhos do ‘nada’”, e poder ter esta experiência prática a nível científico é muito motivador. Por outro lado, motivou-nos bastante a possibilidade de aprendermos algo fora da nossa zona de conforto e de conhecimento, e que ironicamente, nos deu o prémio recebido: a criação de um modelo de negócio e de uma previsão financeira realista.
MS – Como se sentiram ao ficar em 2.º Lugar nesta competição?
CP – Durante estes 6 meses trabalhámos muito neste projeto, e principalmente aprendemos muito e da melhor forma possível – pela prática. Ficámos muito felizes pela validação que este prémio deu ao nosso trabalho e os resultados que dele surgiram.
MS – Quais são os vossos objetivos no futuro? Até onde tencionam levar este projeto?
CP – Neste momento é difícil dizer quais os nossos objetivos, pois todos somos alunos numa fase final dos nossos respetivos percursos, e a situação que vivemos é muito incerta. Estamos abertos à possibilidade de dar continuidade ao projeto, mas dependerá de diversos fatores, desde disponibilidade dos elementos do grupo para abraçar um projeto de elevada dimensão e responsabilidade, como também à possibilidade de sermos apoiados financeiramente para seguirmos com as diferentes fases que a criação de um equipamento médico envolve.
Para o professor Hugo Ferreira, este prémio ilustra a qualidade e o mérito dos alunos e também o potencial e o valor que as várias escolas da ULisboa têm no cenário internacional, quando colaboram entre si. “Para a próxima edição focada no desenvolvimento de sensores para a deteção do vírus influenza na saliva, queremos que alunos de mais escolas estejam presentes e que nos ajudem a sermos mais criativos e a irmos mais além!”, salienta o docente que no ano passado supervisionou a primeira equipa portuguesa presente nesta competição.
Além do professor Hugo Ferreira, os estudantes também contaram com o treino de Rita Maçorano, cofundadora da Nevaro, antiga aluna da Faculdade e que o ano passado foi uma team leader desta competição; bem com o apoio dos cientistas Ana Viana e Bruno Victor.