Somos nós, os jovens, os grandes foliões dos dias de hoje. Ou pelo menos é isso o que esperam de nós. Esperam de nós as ideias brilhantes para o futuro, que sejamos uma promessa constante de ativismo e que no meio disso tudo sejamos ainda os foliões, os que estão sempre em alta, alegres e com a esperança no olhar. Agora, o nosso olhar sobre a esperança é visto por um canudo, longínqua se encontra agora a nossa vontade de fazer algo, tudo isto causado por um derradeiro problema, aceso nos dias hoje, que afrontou a nossa sociedade. Esta que se julgava imune a todas as gripes, não acreditou ser possível uma pandemia. Mas cá estamos nós, confinados ao seio dos nossos lares, fechados entre quatro paredes à espera que o verão traga melhores dias do que aqueles que estamos a viver nesta primavera.
É verdade, podemos dizer que já vivemos em melhores tempos e que a nossa atual situação parece retirada das Dez Pragas do Egito, só que desta vez não chovem gafanhotos, desta vez somos condenados a enfrentar algo que não é palpável, e por isso, ficamos em casa. Obrigados a adaptarmo-nos ao meio, demos início a uma busca incessante para encontrar o que fazer debaixo do mesmo teto, não é fácil. Após alguns dias de prisão domiciliaria, a nossa cabeça não vai parecer mais do que o catálogo do IKEA, mas verdade seja dita, são apenas precisas três coisas para conquistar o mundo no conforto do nosso sofá, um computador, internet e claro, uma cabeça cheia de novas ideias.
As instituições de norte a sul, já encontraram alternativas. Poderá em algum momento parecer que voltamos aos tempos da telescola, ao aprender com os nossos professores sentados em frente a um ecrã. Mas acaba por ser gratificante o facto de existirem alternativas que nos permitem permanecer em segurança enquanto não damos como perdido o ano letivo. Posto isto, é caso para dizer que este assunto “tem pano para mangas” e que decerto não sairemos desta situação tão cedo, mas o que importa é manter viva a fé e a motivação mesmo que dentro de casa. Hoje, as manhãs e tardes são mais longas, novos e velhos jogam ao dominó e à sueca, fazem pão e bolo caseiro, e há ainda quem já tenha ressuscitado as poucas plantas que tinha à muito, esquecidas na varanda. À noite, perlonga-se a hora do jantar, já não temos pressa nem mil e uma coisas para fazer antes de ir para a cama, em vez disso, temos tempo para uma partida de Monopoly e ainda para ler uns capítulos daquele livro que passou diretamente da prateleira da Fnac para a nossa mesinha de cabeceira e ali ficou intrémulo, por tempo indeterminado.
Assim termino, com bom ar, a minha obra. Sento-me à janela e, esperando que São Pedro não traga mais chuva, espero pela bonança que já delonga. A ambição por um futuro promissor sempre foi para todos uma finalidade, porém daqui por diante não restará a dúvida de que cada um se vá agarrar com unhas e dentes aos novos projetos, que os novos desafios não vão ficar pendentes por ficarmos de pé atrás. E, no fim desta tão desventurada história, seremos todos os foliões.
Texto de José Pinheiro– Presidente da AAUTAD