É certo que o Mundo não será o mesmo depois desta pandemia. Fomos forçados a tomar medidas sem precedentes. As escolas e as universidades mudaram no espaço de semanas aquilo que não mudaram durante décadas. Em menos de um mês, tivemos que adaptar métodos de ensino e aprendizagem e a relação entre o aluno e o docente passou a ser estabelecida por intermédio de um monitor. Ainda assim, persistem dúvidas, nomeadamente sobre como realizar as atividades letivas e as respetivas avaliações.
Definitivamente, estes são desafios que nos transformarão. Não será uma transformação por completo, mas acredito que muitos dos futuros modelos de aprendizagem irão adotar estratégias do atual ensino remoto de emergência.
Ainda que daqui em diante me debruce acerca do Ensino Superior em concreto, creio que a abordagem poderá ser transversal aos restantes ciclos de ensino. Se pensarmos que uma Unidade Curricular (UC) mantém, durante cinco anos, o seu conteúdo, conseguimos perceber rapidamente que, nos modelos até hoje enraizados, existem docentes que repetem a mesma exposição teórica cinco vezes. Em alternativa, poderiam simplesmente gravar um vídeo. Um vídeo que seria disponibilizado previamente aos alunos, antes da aula presencial e, serviria como material de suporte à mesma, que se deveria cingir ao debate e à exposição de dúvidas ou à resolução de problemas e casos práticos. Esta metodologia seria certamente do agrado de todos: o docente poderia dedicar mais tempo aos seus projetos de investigação e a um acompanhamento mais personalizado e cuidado dos seus alunos, sendo que estes veriam nas aulas uma oportunidade para desenvolver o seu espírito crítico, através de componentes mais práticas e menos expositivas.
Este modelo exigiria, naturalmente, o que há muito tempo os estudantes reclamam: a redução do tempo passado dentro da sala de aula. Que não é, de todo, sinónimo de menos tempo dedicado ao estudo e à aprendizagem. Este é um modelo que permite que os estudantes prepararem os conteúdos letivos nas suas casas, ao ritmo que conseguem acompanhar, repetindo as vezes que assim entenderem. Têm a possibilidade de, adicionalmente, desenvolver áreas que mais lhes despertem interesse, e existindo mais tempo para partilharem as suas reflexões e as suas dúvidas com o docente e com os restantes colegas. Desta forma, progridem ao nível da responsabilidade, da autonomia, do espírito crítico, da comunicação, da capacidade de expor os seus problemas e defender os seus pontos de vista, skills fundamentais para alcançar o sucesso académico e profissional.
O período que vivemos tem servido para que muitos professores explorem tecnologias nas suas aulas. Desde professores que começaram por desafiar os alunos a desenhar um mural com aquilo que é o conteúdo lecionado naquela UC, a professores que começaram a usar plataformas como o Kahoot, com a possibilidade de realização de um desafio no final de cada aula sobre a matéria lecionada. São iniciativas positivas e gosto de acreditar que muitas destas ideias transitarão para o momento em que voltarmos à normalidade.
Todavia, reconheço que muitos destes avanços poderão ser difíceis de aplicar em contextos de aulas mais práticas e serão ainda mais complicados de adaptar para os momentos de avaliação. Gostaria, ainda assim, de me debruçar sobre este último tópico, porque também ele constitui uma oportunidade. Os métodos de avaliação atravessarão enormes desafios na sua transição para modelos virtuais, e durante este período, tenho assistido a inúmeros casos de professores que agora sentem a necessidade de aumentar os seus elementos de avaliação. Alguns desses docentes, chegaram finalmente a Bolonha em 2020! Não se trata de realizar um teste e um trabalho durante um semestre. Trata-se da existência de uma avaliação que acompanhe a aprendizagem de modo a que o estudante e o professor desenvolvam um processo interativo para garantir a aprendizagem estar a desenvolver-se e a consolidar-se adequadamente, e em conjunto, cooperarem na realização dos devidos ajustes conducentes ao sucesso académico.
Por fim, a diversificação dos modelos de avaliação é um tema interessante, ao qual deverá ser dada a devida atenção no futuro do nosso Ensino Superior, de forma a que alunos não saiam prejudicados por uma metodologia de avaliação muito pouco diversificada. Quando nos voltarmos a poder abraçar, a realidade que conhecíamos terá sido transformada pela realidade que agora enfrentamos. Nesse novo tempo, que certamente chegará dentro em breve, caberá à comunidade académica tirar todas as lições desta experiência e refletir sobre as mesmas. Sem as pressões do imediato e com novos argumentos e experiências, teremos condições para iniciar uma necessária e fundamental reforma dos modelos de aprendizagem em Portugal. Assim espero e assim acredito.
Texto de Rui Jorge Oliveira– Presidente da Direção da AAUMinho