João Pedro Louro é, desde julho, o Presidente da Associação Académica de Lisboa. Antes do final do ano, a Mais Superior publica uma entrevista com o responsável máximo desta entidade sobre os objetivos para o ano de 2018 e para o seu mandato, a política educativa do Governo e as preocupações dos estudantes da cidade de Lisboa.
Porque te candidataste à liderança da Associação Académica de Lisboa (AAL)?
O meu interesse pelo mundo do associativismo e pela defesa dos interesses dos estudantes vem de há algum tempo, basicamente desde que ingressei no Ensino Superior. Pertenci e presidi à Associação de Estudantes da minha instituição de Ensino Superior, e com o passar do tempo fui percebendo cada vez mais que poder representar a voz dos estudantes é, de facto, algo incrível e uma oportunidade pela qual fico muito grato.
No caso da AAL, candidatei-me com o principal objetivo de reformar o paradigma de atuação da Associação Académica de Lisboa e colocar a política educativa e a intervenção académica como as principais prioridades desta estrutura.
Este é um mandato que procura continuar a trilhar o caminho da anterior direção? É uma vitória da continuidade?
A Associação Académica de Lisboa está, neste momento, num ponto de viragem, que pode ser crucial para determinar muito do que irá acontecer daqui para a frente com a estrutura. Há certamente bons exemplos de mandatos transatos que pretendemos seguir e que estamos a seguir – porque as boas iniciativas, que respondem às necessidades dos nossos estudantes, devem ser repetidas e melhoradas. No entanto, a AAL precisa de se reinventar e voltar a liderar a juventude e os estudantes de Lisboa, porque é isso que esperam de quem os representa.
Dito isto, apesar de ser um mandato de continuidade – uma vez que era vice-presidente na anterior direção -, é possível encontrar muitas diferenças na visão e na atuação desta direção.
O que te propões fazer em 2018, e quais são os objetivos da tua equipa para o mandato à frente da AAL?
Para a Associação Académica de Lisboa e para a sua equipa, neste momento, a principal prioridade consiste na Política Educativa. É a forma mais forte que temos de levar a voz dos nossos estudantes a quem devemos e, por isso, a concretização das bandeiras políticas da AAL serão sempre os nossos grandes objetivos. Só assim poderemos, de facto, defender aquilo que os estudantes e a rede de Ensino Superior precisa. Porém, para podermos ouvir os nossos estudantes, precisamos de estar junto deles – e é por isso que é nossa intenção também executar uma ação o mais próxima possível das instituições e dos seus alunos, trabalhando em conjunto com as nossas Associações de Estudantes federadas.
No próximo ano, o FormAAL – que consiste num evento de formação para todos os dirigentes estudantis de Lisboa – assumirá um papel de relevo na nossa atuação, em virtude de entendermos que a representação estudantil é um exercício muito nobre na passagem de qualquer dirigente, mas esse exercício deverá ser o mais responsável e informado possível. Por esse motivo, queremos dar as ferramentas necessárias às associações federadas na AAL e a todos os dirigentes que quiserem marcar presença neste evento.
O contexto económico do país é, atualmente, mais positivo. No entanto, os agentes do mundo da educação e do Ensino Superior continuam a queixar-se de falta de investimento. O que falta, afinal, para que o Estado invista mais no setor?
Essencialmente, aquilo que falta mais ao Estado em relação ao investimento no Ensino Superior, é assumir esta área governativa como a sua prioridade e como uma área imprescindível no desenvolvimento económico do país. Para além disso, falta-lhe cumprir com os seus compromissos. Sabemos hoje que, apesar de a tutela nos ter sempre garantido que esta pasta seria uma prioridade governativa, foram reduzidos 42 milhões de euros ao nível da execução orçamental em 2016. Isto é altamente significativo, principalmente quando por várias vezes o Governo assegurou que veríamos o investimento aumentado. Hoje assistimos a estas reduções orçamentais e a instituições de Ensino Superior perto da rutura financeira por, mais uma vez, o Estado se ter comprometido com uma compensação orçamental para o ano de 2016 que ainda não cumpriu. É preciso honrar a palavra que se dá aos estudantes e às instituições.
Em Lisboa, concretamente, a questão dos valores praticados no arrendamento são uma preocupação. Qual é a posição da AAL sobre isso? Como se resolve?
Obviamente que é uma questão que nos preocupa bastante, porque o cenário em Lisboa é alarmante. Para a AAL, esta é uma questão complexa porque os agentes de Ensino Superior falharam, pois os sinais de que este cenário surgiria eram evidentes.
Tendo em conta que os valores praticados no arrendamento em Lisboa afetam sobretudo os estudantes de Ensino Superior, a resposta que deve ser dada é evidente. Devem ser disponibilizadas verbas financeiras para a construção de residências para estudantes, com o intuito de aumentar o número de camas disponíveis. Hoje, o número de camas que a maior Universidade do país tem disponíveis não chega a 3 por cento do total do número de estudantes.
Existe um grande défice de camas disponíveis face às necessidades existentes e esta tem que ser uma prioridade do país. Tem que existir uma grande articulação entre o Governo, as instituições de Ensino Superior, a Autarquia e os estudantes em torno desta temática que é urgente resolver.
Que iniciativas e/ou eventos tem a AAL pensados para os estudantes de Lisboa em 2018? O que gostarias de destacar?
A Semana Académica de Lisboa é já um marco na vida académica dos estudantes de Lisboa e, por isso, pretendemos que assim o continue a ser, mas este ano terá sem dúvida alguma várias surpresas. Dentro da mesma área ligada às atividades recreativas, iremos continuar a receber os nossos novos alunos da capital com a Receção ao Caloiro de Lisboa – que, apesar de ter surgido há menos tempo, é também já um local de passagem no início do ano letivo.
Para além disso, poderão contar com uma grande preocupação ao nível da responsabilidade social, com uma grande quantidade de iniciativas solidárias que pretendem, sobretudo, cultivar esta responsabilidade junto dos estudantes de Ensino Superior.
Que mais-valias pode trazer para os estudantes a tua representação no Conselho Nacional de Educação? Como pensas contribuir nesse âmbito?
Sendo representante dos estudantes do subsistema universitário no Conselho Nacional de Educação, a minha principal missão é dar voz às preocupações dos estudantes que represento num órgão tão credível na área da Educação em Portugal, apesar do seu carácter consultivo.
Assim sendo, cumpre-me sobretudo contribuir para um Ensino Superior de excelência, onde os principais beneficiários do sistema são os estudantes e onde a transmissão de conhecimento assume um papel central na sociedade portuguesa.
Para que isto aconteça, sinto que é fundamental ter uma grande proximidade com os estudantes e com as Associações Académicas e de Estudantes do subsistema universitário, para que consiga ter o conhecimento necessário das preocupações dos estudantes e possa realizar um bom trabalho no Conselho nacional de Educação.
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: Associação Académica de Lisboa]