O nome Tovar é sinónimo de sabedoria futebolística. O pai Rui foi um dos melhores narradores que Portugal já conheceu, o filho Rui Miguel segue-lhe as pisadas na procura das mais fascinantes histórias do desporto-rei. O Dicionário Sentimental de Futebol é uma carta de amor à modalidade que tens mesmo de descobrir.
Porquê um Dicionário Sentimental de Futebol?
Porque o Francisco José Viegas (o editor) me sugeriu o título, e eu achei que encaixava na perfeição. Propôs-me também que este livro fosse uma reunião de histórias de A a Z, deu-me alguns tópicos e eu escolhi o que queria contar. Acho que foi uma grande ideia, porque olha para o futebol de forma romântica, diferente do que se vê hoje em dia, do querer ganhar a todo o custo. Queria fazer uma coisa de heróis (já datados, infelizmente) mas uma coisa diferente de todas as outras – o E não podia ser de Eusébio e o F não podia ser de Figo – mas encaixando os grandes nomes do futebol de formas mais imaginativas.
Na capa, Diego Armando Maradona. Para ti é o melhor de sempre?
Daqueles que tive oportunidade de ver, sim. Quando o Cristiano e o Messi acabarem as suas carreiras, poderemos fazer um balanço justo sobre eles também. Neste momento, o Maradona era, não sei se o melhor, mas certamente o mais fascinante. Se formos olhar para a história, ele saiu do Nápoles com dois títulos de campeão; estamos em 2016 e o clube continua com o mesmo número de scudetti. Têm uma Taça UEFA, foi com ele; têm uma Supertaça, foi com ele. Isso dá muita força, mesmo que não o tenhas visto jogar.
Apesar disso, o meu ídolo é o Van Basten.
Por ser um goleador?
É uma história de infância. Do 1º ao 12º ano, o meu número de cacifo na escola foi o 230, e na coleção de cromos da Panini do EURO 88, esse número correspondia ao cromo do Van Basten. Na altura eu não sabia nada de futebol internacional, acompanhava sim o futebol nacional, muito por culpa do meu pai (o jornalista desportivo Rui Tovar). Mas com aquela caderneta e durante aquele Europeu, eu e os meus colegas quisemos ser os jogadores que correspondiam ao número dos nossos cacifos. E eu fui o Van Basten. Começou o EURO e ele no banco, no primeiro jogo. A partir daí, nunca mais parou. Três golos à Inglaterra no segundo jogo, um à Alemanha no último minuto da meia-final, e na final aquele vólei magnífico ao Dasaev. Título para a Holanda e eu à procura de tudo e mais alguma coisa sobre o Van Basten. Foi a partir daí que comecei a seguir o Milan e o futebol europeu.
Como é que se chega a esta seleção de histórias, no meio de tantas que deves ter guardadas lá em casa? Qual foi o critério?
Tenho muito material do meu pai, sobretudo. Só no escritório dele estão cinco ou seis estantes preenchidas de alto a baixo, com livros, revistas e vídeos sobre futebol. Depois tenho muitas outras coisas guardadas no meu computador, e com o meu trabalho no Record e no i fui entrando nesse processo de descoberta de histórias. Para o livro tratou-se apenas de reunir as melhores, aquelas que possam ser menos conhecidas pelas pessoas, cada uma delas com um rosto que simbolize os feitos das grandes equipas ou simples curiosidades, em vez de falar de números e de estatísticas. E se há caras reconhecíveis por toda a gente, há outras que nem eu sabia que existiam antes de fazer este livro. Depois, há que pesquisar informação e depois ir à procura da contra-informação, para verificar a veracidade da história.
Para além das tuas influências – com o teu pai em destaque, claro – houve algum momento marcante que tenha despertado a tua paixão pelo futebol?
Ter vivido com o meu pai tornou tudo muito mais fácil. Lembro-me de passar tardes na RTP com ele, de o acompanhar muitas vezes nos relatos dos jogos… Ele estimulava em mim o gosto pelo futebol, e eu acabei por lhe seguir as pisadas.
E gostas mais de escrever sobre futebol ou de falar sobre futebol? [Rui Miguel Tovar participa semanalmente no programa A Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio]
Prefiro escrever sobre futebol. Aliás, não gosto de me ver na televisão e não vejo o programa do qual faço parte. Mas claro que falar do que me apaixona com outras pessoas muito entendidas no assunto é igualmente fascinante, e é bom sentir que cada um de nós que faz aquele programa tem uma história para contar.
Como é que se passa de um apaixonado por futebol para um verdadeiro compêndio de informação?
Lendo muito, vendo muita coisa. Mas quando gostas fazes isso sem esforço algum. Lembro-me de estar na RTP com o meu pai, a apontar os resultados dos jogos do campeonato nacional, e de ele me sugerir “em vez de apenas apontares os resultados, porque não contas a história do jogo?” Eu comecei a fazer isso, e a partir daí foi tudo mais fácil. Gosto muito de pesquisar, e adoro chegar a casa com uma ideia na cabeça, e ao fim de meia hora dar por mim no terceiro subtítulo dessa minha ideia, porque entretanto já descobri histórias dentro da história. Dá-me um gozo bestial.
Qual foi para ti o momento mais marcante na tua relação com o futebol?
Talvez o último jogo do Futre pelo FC Porto, para o campeonato. Estávamos em 1987, tinham acabado de se sagrar campeões graças a uma vitória frente ao Sp. Covilhã, e eu desci ao relvado e estive pessoalmente com o Futre, que era o meu ídolo.
E o estádio mais imponente?
O Estádio da Luz, o antigo. Mesmo vazio, metia medo.
Dicionário Sentimental de Futebol
Autor: Rui Miguel Tovar
Editora: Quetzal Editores
Nº de páginas: 248
P.V.P.: 15,50 euros
[Entrevista: Tiago Belim]
[Fotos: Quetzal Editores]