Encontrar um bom emprego pode ser, nos dias que correm, um enorme desafio. Mas e se a tua ocupação pudesse ser o teu próprio negócio? O empreendedorismo está na moda, e nunca houve um ambiente tão favorável às boas ideias e aos jovens aventureiros. Este é o teu primeiro manual para te tornares num empreendedor de sucesso.
Empreendedorismo = resposta para a falta de emprego?
Ser-se empreendedor está na moda. É um facto indesmentível e traz consigo a virtude de criar na sociedade, nos seus agentes económicos e empresariais, e nas pessoas de uma maneira geral, uma maior predisposição para a criação de negócios. Mas pode ter um lado perverso: a banalização do que é empreender, e criar nos jovens uma certa ideia de facilitismo.
João Rafael Koehler é Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e diz “preferir” a moda do empreendedorismo “à aversão ao risco, à falta de iniciativa ou aos preconceitos em relação à atividade empresarial”. Apesar disso, é o próprio responsável máximo da ANJE a alertar para o perigo de abordar o empreendedorismo como “um impulso interior capaz de vencer qualquer adversidade e assim atingir facilmente o êxito empresarial”. O empreendedorismo não é uma via inexorável para o sucesso. Para triunfar nos negócios, segundo este especialista, “não te basta ter força de vontade, determinação, perseverança, entre outros traços de personalidade habitualmente associados ao empreendedorismo”.
Feito o aviso, uma coisa é certa: ao concretizares a tua ideia de negócio, estarás a contribuir para renovar o tecido empresarial, para a produção de riqueza, para o crescimento do investimento, para o estímulo da competitividade e para a criação de postos de trabalho. E tudo isto tem importância acrescida no período de recuperação económica e de contração do mercado de emprego que Portugal está a atravessar.
Para João Koehler, há hoje em Portugal “uma vaga de empreendedores altamente qualificados, que criam negócios perfeitamente conscientes quer dos riscos que correm, quer das oportunidades que se abrem com as suas startups. E é esta vaga que devemos relevar, valorizar e apoiar”.
Opinião semelhante tem Nuno Machado, estudante universitário e Diretor-Geral da aceleradora de startups StartUp BUZZ, ao defender que “o ecossistema empreendedor tem demonstrado que há apoios disponíveis, que há quem queira apoiar, e acima de tudo, que é possível. O que mais contribuiu foi mesmo esta mudança de atitude, e enquanto um empreendedor acreditar e fizer tudo pelos seus objetivos, mais perto está de os atingir”.
O novo empreendedor
Determinação, perseverança, abnegação, atitude de risco, inconformismo. Todos estes traços de personalidade são essenciais para se ser um bom empreendedor… mas não são suficientes para te garantir, à partida, sucesso no teu negócio.
João Koehler defende que “o atual nível de sofisticação, globalização e competitividade” da atividade empresarial exige, para seres bem-sucedido, que possuas “conhecimento especializado, inteligência, talento e capacidade de trabalho acima da média”. E vai mais longe: “Hoje, a principal competência estratégica de um empreendedor é o seu conhecimento especializado”.
Para lá da formação especializada, terás muito a ganhar com uma formação que te forneça competências, metodologias e estratégias que facilitem a criação de negócios.
O jovem Nuno Machado faz parte da vaga dos novos empreendedores, e garante que é algo que está “ao alcance de todos, mas não é qualquer um que lá consegue chegar. O verdadeiro empreendedor é aquele que persiste, que ultrapassa todos os obstáculos e dificuldades. É aquele que falha 10 vezes e mesmo assim continua, sem desistir. Aquele que é audaz, confiante, e acima de tudo ambicioso”.
Esta é uma visão partilhada por quem viajou pelo mundo, e contactou com centenas de empreendedores. André Leonardo, autor do livro Faz Acontecer (que te aconselhamos a ler e que podes ganhar participando no nosso passatempo) baseia-se na experiência para concluir que para se ter sucesso é preciso “querer muito, sair da zona de conforto, saber gerir riscos, estar disposto a passar por sacrifícios e nunca desistir. São mais importantes estas características do que propriamente os atributos técnicos”.
Afinal, quem tem atitude, se não sabe alguma coisa, procura saber, estuda e informa-se. O problema é quando não há atitude nem vontade.
Da ideia ao negócio
Certamente que estás à procura da resposta à pergunta do milhão de euros: Afinal, qual é a receita para criar um negócio e ter sucesso?
A verdade costuma ser cruel, e neste caso volta a confirmar-se. Não existe uma fórmula mágica para o sucesso nos negócios. Mas há dicas a reter para te começares a orientar.
O André Leonardo foi um dos que se lançou à aventura de começar algo novo, e sabe bem que nem tudo é um mar de rosas. A quem está a tentar fazer acontecer, seja nos negócios, seja trabalhando para outros, seja até num projeto pessoal, este empreendedor pede que “não desista e acredite em si. Planifica bem, fala com quem já passou pelo mesmo, estuda e vai à luta com tudo. Vai dar muito trabalho (nem imaginas quanto) mas no final, com uma pitada de sorte, tudo vai valer a pena!”
Pelo Nuno Machado têm passado muitos projetos e jovens empreendedores, e ele sabe como ninguém que, para além do apoio que a StartUp BUZZ dá, existe uma parte que está sempre dependente do empreendedor: “O comprometimento com o projeto, o acreditar na ideia mesmo quando ainda ninguém acredita, e o compromisso com a excelência.”
Também a ANJE, nas palavras do seu presidente, aponta algumas regras para começares com o pé direito. A primeira passa pelo “desenvolvimento de um plano de negócio devidamente estruturado, em que é indispensável um documento que descreva as linhas principais do projeto empresarial, que calcule o valor do investimento inicial, que identifique as fontes de financiamento, que defina os recursos (humanos e materiais) necessários à concretização da ideia de negócio e que apresente soluções para eventuais problemas que surjam no decorrer do processo”.
Para criares uma empresa, a ANJE aconselha-te ainda a dar os seguintes passos:
– Aferir se o mercado necessita dos bens ou serviços que pretendes oferecer;
– Gizar um plano de gestão;
– Fazer o levantamento da legislação aplicável ao negócio;
– Elaborar um orçamento;
– Criar um plano de negócio;
– Testar os bens e serviços no mercado;
– Mediante os resultados, afinar o modelo de negócio.
Ferramentas e instrumentos de apoio
Existe em Portugal uma grande variedade de apoios ao empreendedorismo:
– As iniciativas do Programa Estratégico para o Empreendedorismo e Inovação (também conhecido por +E +I);
– Os apoios do IEFP e IAPMEI (programas Empreender + e FINICIA, respetivamente);
– As Iniciativas Locais de Emprego;
– Os Sistemas de Incentivos às Empresas;
– As linhas de crédito com garantia pública;
– Os incentivos comunitários no âmbito do Portugal 2020 ou do Horizonte 2020;
– O capital de risco (público e privado);
– O microcrédito;
– Os business angels;
– O mutualismo.
A própria ANJE disponibiliza também um vasto conjunto de ferramentas de apoio ao empreendedorismo:
– O Prémio do Jovem Empreendedor;
– O Concurso Nacional de Ideias;
– A Feira do Empreendedor;
– Os Laboratórios de Criatividade;
– A Loja do Empreendedor;
– Uma linha de crédito com a CGD;
– Protocolos com instituições bancárias para financiamento;
– 13 centros empresariais/incubadoras;
– Programas de aceleração;
– Sessões de formação especializada e consultoria empresarial;
– Ações de pitch, coaching, mentoring, networking e fund raising, entre outras.
Sucesso internacional em português
A Uniplaces, um portal online de arrendamento universitário, é um dos melhores exemplos de sucesso de uma startup portuguesa. E a Mais Superior entrevistou Miguel Amaro, Co-founder da empresa.
A Uniplaces conseguiu recentemente a maior angariação de sempre em Portugal numa ronda de investimento. Na tua opinião, o que faz da vossa empresa um projeto de sucesso?
Para começar, era uma ideia sólida: queríamos resolver um problema real para 163 milhões de estudantes no mundo. Dedicámo-nos a essa ideia, a essa visão, com muito trabalho. Também temos vindo a contratar pessoas extremamente talentosas vindas de todo o mundo para se juntarem à equipa. E por fim, temos tido muito apoio de todos os nossos investidores – tanto das rondas anteriores como desta.
Achas que a moda do empreendedorismo é benéfica para o potencial sucesso das nossas startups? Será esta a melhor altura para os jovens se lançarem nesta aventura?
“A moda do empreendedorismo” está a acontecer porque se estão a criar bases e redes que permitem mais jovens empreendedores a começarem os seus projetos. Graças ao apoio de alguns investidores como a Startup Lisboa e a Câmara de Lisboa, começa a formar-se um ecossistema muito interessante, com imensa gente talentosa, projetos cheios de potencial e nos quais existe muita colaboração. Toda a gente se conhece, por isso toda a gente se ajuda. Lá fora é conhecido como o “Lisbon Hub”, e goza neste momento de uma ótima reputação.
O WebSummit vai mudar-se para cá, as nossas startups estão a ter imensa visibilidade enorme… Por isso sim, estes próximos três anos são uma oportunidade única para os jovens do país se lançarem nesta aventura.
Imagina que quem te está a ler tem uma boa ideia, mas não tem a mínima noção de como a concretizar? Quais são os passos a dar?
O primeiro passo é sempre estudar e desenvolver essa ideia. Depois de terem alguma coisa, a forma mais divertida de a desenvolver é levar a um concurso de ideias, como o Bet 24, ou o Beta-Start da Beta-i. Alternativamente, preparem uma apresentação e marquem reuniões nas incubadoras, que são as empresas que ajudam pessoas com ideias a desenvolvê-las.
Depois disso, é formar uma equipa e transformar essa ideia num projeto a sério.
Vocês são, neste momento, um dos bons exemplos de sucesso empreendedor português. Que conselhos podes dar aos jovens que ambicionam criar um negócio de raiz?
O melhor conselho que tenho para dar é: descubram bons mentores. Há imensos empreendedores que têm muito gosto em partilhar aquilo que aprenderam durante a sua carreira. Escolher um bom mentor é um passo importante.
Recorrendo à tua experiência, houve algum momento “vai ou racha”, algo decisivo para que o vosso sonho fosse para a frente? Como é que se identificam esses momentos e qual deve ser a postura do(s) empreendedor(es)?
Nunca houve aquele momento de dúvida. Os co-fundadores sempre estiveram muito alinhados, e já na universidade tinham descoberto o projeto que queriam lançar. Depois disso, foi apenas uma questão de ir dando passos cada vez maiores, e agora a Uniplaces está no bom caminho para se tornar aquilo que ambiciona vir a ser: uma marca de referência para estudantes de todo o mundo.
O que têm todos os empreendedores
Iniciativa
Qualquer empreendedor é, por definição, alguém com espírito de iniciativa. E os jovens empreendedores são pessoas atentas ao mundo que os rodeia, e que estão sempre em busca de novas oportunidades de negócio.
Otimismo e gosto pelo que fazem
Para conseguires concretizar a tua ideia e montar o teu negócio, tens de partilhar outra das características de um jovem empreendedor: muita confiança e determinação e, acima de tudo, gostar e acreditar no teu projeto.
Só assim poderás manter-te motivado e ser um excelente “vendedor” da tua ideia.
Capacidade de liderança
Uma coisa é ser chefe, outra é ser líder. E qualquer jovem empreendedor que se preze não procura chefiar, mas sim liderar. Constrói a tua equipa de trabalho e valoriza os seus conhecimentos, mantendo a coesão do grupo em torno do projeto.
Não desistem
Arriscar e criar um negócio do zero implica saber à partida que não vai ser fácil. Mas não deixes que isso te impeça de tentar e de dar o teu melhor. Dedica-te a 100% ao negócio, foca-te no teu grande objetivo e não tenhas medo de correr riscos.
Para os jovens empreendedores, as dificuldades fazem parte do caminho que escolheram e do desafio que se propuseram superar. Se não conseguires à primeira, levanta a cabeça e volta a tentar!
Dicas para teres sucesso
Valida a tua ideia
Estuda a tua ideia de negócio, analisa-a a fundo, percebe quais os pontos a melhorar e qual a sua viabilidade em termos de mercado. Por muito entusiasmado que possas estar, toma as tuas decisões de forma racional e consciente.
Cria uma equipa sólida
Para desenvolveres o teu projeto vais precisar de te rodear de uma boa equipa, constituída por pessoas que acreditem no projeto e tenham algo a acrescentar à tua ideia.
Faz um bom plano financeiro
É imprescindível que dediques tempo a analisar a componente financeira do teu projeto. Averigua de quanto dinheiro precisas e percebe quanto podes investir. Acima de tudo, sê realista em relação aos possíveis resultados.
Define o teu público-alvo
Para poderes vender o teu produto ou serviço, precisas de saber quem poderá estar interessado nele. Antes de procurares clientes, define o teu público-alvo para que possas ajustar a tua oferta às necessidades dos teus potenciais clientes.
Antecipa o fracasso
Vais aperceber-te que o “não” é sempre uma possibilidade – e muitas vezes uma certeza. Mas é importante que não encares as respostas negativas como um falhanço sem volta a dar. Olha para todos esses “nãos” como uma aprendizagem que te vai levar a perceber onde estás a errar e o que deves melhorar.
LINKS ÚTEIS
Documentos de apoio ao empreendedor ANJE
http://www.anje.pt/portal/ferramentas
Guia do Empreendedor ANJE
http://cdp.portodigital.pt/empreendedorismo/como-criar-um-negocio/teste-do-empreendedor
Programa +E+I – Guia Prático do Empreendedor
http://www.ei.gov.pt/guia-empreendedor/
Plataforma do Empreendedor – Base de Dados
http://www.empreender.aip.pt/?lang=pt&page=linksuteis/linksuteis.jsp
[Texto: Tiago Belim]
[Fotos: cedidas pelos entrevistados]