Expectativa vs. Oportunidades: Um desfasamento progressivo?
Segundo o estudo “Livro Branco”, realizado pela Fundação José Neves (FJN), pelo Observatório do Emprego Jovem e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), regista-se uma discrepância significativa entre as aptidões e as possibilidades oferecidas pelo mercado de trabalho, impactando a satisfação pessoal com o emprego.
Em 2022, 22,4% dos colaboradores, com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos, que concluíram o Ensino Superior, eram sobrequalificados para a profissão que exerciam, sobretudo, “no setor das plataformas digitais” — crowdwork —, espelhando um acréscimo de 2,5 pontos percentuais, face a 2021 (19,9%).
Traduzindo-se numa perda desmedida do retorno do investimento individual na Educação, e, consequente depreciação das competências adquiridas, a evolução inscrita — mais preponderante no feminino (24,1%) do que no masculino (19,9%) — justifica-se, parcialmente, pela parcela geracional de 53,9%, com contratos a termo certo, pelo lay-off simplificado, instituído pelo Governo, durante a pandemia COVID-19, pela capacidade reduzida de admissão, e pelo baixo capital manuseado em serviços tecnológicos, limitando o potencial de crescimento do talento nacional e a qualidade das ocupações, com desajustes salariais penalizantes.
Paulo Marques, Professor do ISCTE, defende a “aceleração da modernização da economia portuguesa, tornando-a mais especializada em áreas intensivas em conhecimento”, através do alinhamento das “políticas ativas de apoio às empresas com o desígnio estratégico”, do reforço e diversificação das ofertas formativas, bem como do envolvimento da comunidade corporativa na comunicação e no desenvolvimento de habilidades procuradas.
Já Carlos Oliveira, Presidente da FJN, reconhece os “avanços dos últimos anos ao nível da escolaridade da população“, mas alerta que “existe, ainda, um longo caminho a percorrer.”