CRUP aconselha Governo a suspender programas com Universidades dos EUA
O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) recomendou ao Ministério da Ciência e do Ensino Superior que os programas com três Universidades norte-americanas, nas quais, nos últimos 17 anos, o erário público investiu 310 milhões de euros, não sejam renovados automaticamente, defendendo que “antes da sua continuidade ou renovação, deve ser feito um exercício de definição clara de objetivos e resultados esperados”, o que não sucedeu até à data.
As parcerias Internacionais com a Carnegie Mellon University (CMU), o Massachussetts Institute of Technology (MIT) e a University of Texas at Austin (UTAusti) foram lançadas pelo Governo português entre 2006 e 2007, através da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e receberam, desde então, 309,6 milhões de euros.
Para um período equivalente, 2021-2025, em Portugal os Laboratórios Associados – que agregam cerca de 100 unidades de investigação e quase 10 mil investigadores, representando uma componente essencial do sistema científico português – receberão apenas 24 milhões de euros todos os anos.
“Numa altura em que os projetos com três universidades americanas recebem do Estado português tantos milhões, o CRUP entende que é preciso avaliar este modelo e refletir sobre ele. Com base nessa reflexão, deve ser desenhado um novo programa de apoio à internacionalização das universidades portuguesas e das unidades de investigação, celebrando protocolos com um leque mais alargado de universidades em todo o mundo e, em particular, intensificando a participação em consórcios com universidades europeias”, afirmou António Sousa Pereira, Presidente do CRUP e Reitor da Universidade do Porto.
“Não existe avaliação custo-benefício”
Para além do seu elevado custo, as parcerias com as Universidades do Estados Unidos merecem reticências. Desde logo, o facto de serem apenas três Instituições. A isso soma-se a circunstância de, do lado português, os projetos também envolverem poucas Universidades portuguesas.
Outra objeção é a reduzida lista de áreas de investigação para um financiamento tão substancial. Com Carnegie Mellon, limita-se às TIC, nomeadamente Engenharia de Software; Autonomia e Robótica; Tecnologias de Língua Falada; Interação Pessoa-Máquina; e Ciência de Dados e Engenharia.
Já com MIT, as áreas são a Ciência do Clima e Mudança Climática; a Observação da Terra: Oceanos-Espaço; a Transformação Digital na Manufatura; e as Cidades Sustentáveis. A University of Texas at Austin compreende a Computação Avançada; a Nanotecnologia; as Interações Espaço-Terra; a Física Médica; e a Technology Innovation and Entrepreneurship | UTEN.
“São áreas de investigação importantes, mas são poucas e só envolvem uma pequena parte do sistema científico nacional. E não existe disponível uma avaliação do seu custo-benefício. Não sabemos também qual foi o investimento adicional que foi gerado por cada euro investido por Portugal nestas parcerias. Das start-ups criadas, também não sabemos quantas estão sedeadas fiscalmente em Portugal e qual é a faturação anual. Em relação aos formandos, portugueses e estrangeiros, quantos estão em Portugal e que cargos desempenham?”, concluiu António Sousa Pereira.