Desabafos de um Universitário com… Joana Ferreira
Licenciada em Direção de Cena e Produção na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, no Porto. Apaixonada, resiliente e profissional, Joana Ferreira partilha com a Mais Superior o seu percurso académico, sempre acompanhada com a arte que a faz vibrar e à mistura dos vários desafios que teve que ultrapassar, sob o mote “está tudo bem… no processo aprendemos”.
Recuando no tempo, como foi o teu percurso académico e o processo de escolher o curso?
Antes de entrar no básico, comecei a dançar numa academia local em São João da Madeira. A certa altura, decidi tirar um curso profissional de interpretação, no Balleteatro, no Porto. Rapidamente, surgiu a pergunta “em que é que me quero formar numa universidade?”. No último ano, numa conversa com a diretora de curso, disse-me “és artista em palco, mas acho que tens o perfil perfeito para estar num backstage e assumir”. Foi quando me recomendou a licenciatura e fui.
Descobrir em que é que, afinal, somos bons, é um caminho complexo. Qual foi o papel que a universidade teve na perceção que tens sobre ti própria?
Foram, principalmente, os primeiros três anos da licenciatura que ditaram esta ideia que tenho: nunca é tarde para desistir, nunca é tarde para experimentar uma coisa nova e nunca é tarde para estudar. Estes anos são passados dentro da universidade o que lhe confere um papel ainda mais formativo do que, por exemplo, os nossos pais – que nos dão os nossos valores -, mas é na universidade que nos moldamos e começamos a perceber em que é que acreditamos.
Quais foram os principais desafios que tiveste enquanto estudante ao longo do teu percurso académico e de que forma os conseguiste ultrapassar?
A carga horária. Fizemos seis produções durante os três anos, ou seja, duas por ano. É sempre difícil gerir o tempo que dás a cada formação. Por mim, passava um mês inteiro onde só me focava num projeto, mas isso não é real na indústria artística. É complicado, mas importante para não te perderes a meio do caminho, saber gerir o tempo pessoal, com universidade e projetos.
Consideras que a universidade é um espaço para CRIAR e ERRAR?
A universidade é o espaço perfeito para nos conhecermos e para errar. Antes e durante a universidade, os professores e as escolas incentivam-te e, é neste espaço, onde podes criar, seja no âmbito do curso, seja como ser humano. É o espaço e o tempo para criar e experimentar. Senti que quando acabei a licenciatura, queria muito integrar o mercado de trabalho e absorver aquilo que me tinha para acrescentar, mas depois decidi “agora vou fazer um mestrado” e consegui o que desejava: encontrar a minha identidade artística.
A par da criação, quais foram os projetos que integraste?
Estive numa tentativa de ter um espaço de criação fora do percurso académico através do impute “não fiques na tua zona de conforto, tenta e sonha”. Este sonhar vai ao encontro do projeto em que estou agora. Integro a equipa do espetáculo a Nova Cinderela no Gelo, que vai acontecer no Alegro de Alfragide e que considero o projeto com mais significativo para mim. Apostaram em mim e numa equipa maioritariamente composta pela nova geração, onde tenho mais espaço para errar e experimentar.
Durante a faculdade no Porto tive a oportunidade de trabalhar no Festival Dias da Dança, o maior festival de dança em Portugal, e o Festival FIMP, onde fiz assistência à produção e de logística. Quando terminei a licenciatura, fiz um estágio profissional no INAC – Instituto Nacional de Artes de Circo, em que me dedicava à assistência de produção e coordenação de cena.
A par disso, juntei-me a um projeto musical, com um DJ e um MC, e criei um evento de música principalmente originária da Jamaica. Durante a pandemia, decidi “vamos usar o que temos: o online” e criei um fórum em que era possível abordar o estilo musical e a cultura que está por trás de tudo, com convidados que atuam na área em Portugal.
Em março deste ano, organizei uma tour de formação Porto-Lisboa-Algarve com o bailarino argentino Facu Vera – um dos melhores bailarinos internacionais de Dancehall. Em maio 2022, nasceu Juka Entertainment e neste âmbito, convidei a Kavela, uma DJ de Toronto que reside em Portugal, para tocar em Barcelona, naquele que foi o primeiro evento do projeto fora de Portugal.
Tenho a missão de dar uma plataforma de visibilidade e recursos a novos artistas da nova geração ou artistas que pararam a carreira e querem retomar
O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo. Como é que os jovens se diferenciam?
É seres tu. Algo com que luto diariamente: mostra-me a tua personalidade no teu trabalho. Não me interessa trabalhar com quem está a fazer algo que já é feito.
Parabéns, chegaste ao Ensino Superior, mas… quais seriam as dicas e sugestões que a Joana que iniciou este percurso gostava de ter ouvido e que hoje fazem sentido para quem vai iniciar este caminho já a partir de setembro?
Inicialmente, não é preciso ter uma ideia clara das coisas. Por exemplo, eu não sabia o que era o Juka Entertainment quando aconteceu o seu primeiro evento, só descobri depois de fazer. Portanto, esta flexibilidade de não termos tudo programado no momento é importante. É confiar nesse processo.
Tem sempre a tua inspiração, mas que não seja distante de ti. Encontra o teu mentor.
Na universidade há muita coisa a acontecer, por isso, escrevam, nem que sejam três linhas, sobre o que foi bom, mau ou o que fazer para melhorar. Retirar isso da mente para dar espaço a novas ideias.
Há uma mensagem que tem que ficar. Não podemos ser nós – a nossa mente – a autodestruir-nos. Temos que ser os primeiros a acreditar.