Os Quatro e Meia que são, na realidade seis, intercalam a paixão pela música com áreas tão exigentes como, medicina, engenharia e o ensino e ainda, conseguem chegar ao top de vendas nacional e esgotar concertos em tempo record por todo o país.
No meio desta agenda tão exigente e atlética conseguiram encontrar um tempinho para falar com a Mais Superior e, dar-nos uma lição fundamental: Há tempo para tudo desde que não se desista e se continue sempre a sonhar.
MS: O nome da banda deve-se ao número de elementos e brinca com a altura de um deles… Esta escolha foi uma decisão fácil e imediata ou tiveram algum nome antes d´Os Quatro e Meia?
QM: Essa pergunta foi bem estudada! (risos) Não tivemos um nome para Os Quatro e Meia que estavam lá nesse dia, mas um ano antes tivemos um pequeno concerto, tocamos três ou quatro músicas num sarau de ballet, o Ricardo não estava, só estavam os outros quatro e na altura tivemos outro nome. Acho que o espetáculo se chamava Without limits e se, procurarem na internet, acho que ainda existem umas gravações disso… Aparece Without limits e depois tocávamos covers de tangos sul americanos. Esses foram os primórdios d´Os Quatro e Meia, um ano antes, foi um teste. Mas, a decisão do nome foi uma coisa à pressão, daí o resultado miserável (risos). A verdade é que nós escolhemos o nome em um ou dois minutos. Íamos dar um espetáculo, a responsável veio ter connosco porque nos queria apresentar enquanto banda e perguntou-nos: “Apresento os cinco individualmente ou dou algum nome?” E nós “ahhh… espere… dar os nomes todos é um bocado foleiro, espere aí!”. Começámos a olhar uns para os outros, e surgiu… Olhámos para o meia-leca (risos)… Nós somos os quatro e o meia, Os Quatro e Meia fica melhor! O nome surgiu de forma espontânea e muito rápida!
MS: O vosso grupo começou na Universidade de Coimbra, há sete anos. Hoje levam a vossa música pelo país fora… Já pensaram no que mudou desde o início até agora, nomeadamente a nível musical e na dinâmica do vosso grupo?
QM: Em termos musicais houve mudanças, mas se calhar foi o que mudou menos. A nossa essência é mais ou menos a mesma, nós sempre fizemos música de uma forma que eu chamo medieval, este talvez não seja o termo mais correto, mas de uma forma muito básica. Nós não estudámos música, e acho que isso nos aproximou mais dos ouvintes, do que dos teóricos da música. E essa forma de pensar e de criar música mantém-se mais ou menos idêntica, mas claro que vamos aprendendo e evitamos repetir erros. Vamos tentando aprender com as pessoas que vão trabalhando connosco e que têm uma experiência completamente diferente, influências diferentes e que vieram de outros ramos da música, de outras terras musicais. E tudo isso vai acabando por trazer elementos novos, vai enriquecendo e trazendo novas opções. Mas, de qualquer das formas, aquilo que é a nossa essência está lá, mudou foi muita coisa em termos de exigência, responsabilidade… Porque há sete anos começámos tudo isto um bocadinho a brincar, e depois apesar de levarmos tudo mais a sério, tínhamos uma estrutura completamente amadora, éramos nós que tratávamos de tudo! Era o Mário Ferreira, que tratava do agenciamento e dos telefonemas, éramos nós próprios que tratávamos da comunicação, da comida e de comer (risos), das produções… Nós chegámos a tratar da bilheteira, quando viemos dar um concerto em Lisboa no Teatro do Bairro, não éramos nós a vender os bilhetes, mas pessoas que nos eram muito próximas estavam a vendê-los! E na altura isto parecia uma coisa completamente natural e legítima.
Entretanto surgiu uma agência do Porto a Primeira Linha, com quem trabalhamos há quatro anos. Depois surgiu a Sony Music a querer editar álbuns nossos e, portanto, isso tudo foi a maior mudança. Foi a diferença entre levar tudo na brincadeira e começar a levar tudo a sério, como se fosse uma profissão nossa, apesar de termos carreiras paralelas, esse foi o clique.
MS: Esse clique foi consciente? Surgiu o pensamento de “agora é altura de abraçar este projeto a sério”?
QM: Sim, aliás, o primeiro clique que nos levou a passar da brincadeira para algo mais a sério, foi quando fizemos um original e o mostrámos. Porque até lá, nós não sabíamos o que tínhamos em mãos. No dia em que nós mostrámos o Para a frente é que é Lisboa em Coimbra, o projeto tinha 6 ou 7 meses de existência, e no final do concerto, as pessoas pediram para voltarmos a tocar. Nesse momento, nós percebemos que tínhamos aqui uma coisa gira, e esse foi o primeiro clique! Pensámos: “Ok, temos algo aqui que temos de levar mais a sério” e encarámos isso quase como uma missão: “Vamos fazer mais, vamos fazer mais músicas!” .
O segundo clique foi quando apareceu a Primeira Linha, aí pensámos: “Isto está a ganhar uma dimensão que ultrapassa a nossa cidade (Coimbra)”, a agência que nos contactou era do Porto e disse que gostava de fazer parte deste projeto, e já seguia o nosso trabalho há um ano ou dois…
MS: Portanto, os agenciamentos surgiram de convites…
QM: Sim, sim, vieram ter connosco! Nós não procurámos nada. E, se calhar, um outro clique foi quando lançámos o primeiro álbum e conseguimos estar uma semana no top de vendas nacional. Acho que isso foi a consciência de que já estávamos realmente num alcance diferente, ou seja, já estávamos a chegar a muito mais gente do que pensávamos. Portanto, o clique foi quando nos apercebemos que estávamos a trabalhar com uma estrutura mais profissional, já tínhamos técnicos de som, de luz, uma equipa a trabalhar connosco e profissionais que faziam daquilo vida e já não eram os nossos amigos a ajudar-nos quando era preciso. As pessoas que estão habituadas a trabalhar com os melhores, estavam a trabalhar connosco, como a agência que agenciava o Miguel Araújo, Os Azeitonas, Natiruts, de repente disse que nos queria agenciar… Isto foi colocar-nos num patamar que nós não estávamos, nem estamos, mas que de certa forma puxou-nos para cima.
MS: E aí o vosso sentimento de compromisso para com o público mudou completamente…
QM: A noção de responsabilidade é completamente diferente… Agora já temos de levar as coisas mais a sério, temos de dar mais de nós em termos musicais, ensaiar mais, fazer mais músicas, ter mais critério, em termos de sonografia, visual, fazer algo novo no concerto, mais do que tocar música é poder proporcionar espetáculo às pessoas. Essa foi a grande mudança de paradigma para nós. E, a partir daí, começámos a encarar isto como uma segunda profissão. Antes víamos Os Quatro e Meia como um hobby, que nos dava muito gozo. Agora é um trabalho que nos dá imenso gozo. Nós agora vivemos isto como uma segunda profissão, consideramos que temos duas profissões e em ambas empenhamo-nos a 100%.
MS: E não há uma que prevalece sobre a outra?
Não, nenhuma prevalece! Quando estamos numa estamos lá totalmente, e quando saímos, muda o chip, tiramos a bata, vestimos o fato e siga! E é preciso ter a noção de que há tempo para tudo, e há! Temos tempo para tomar as decisões em função daquilo que nos é pedido. Por exemplo, agora quando surgiu este problema da pandemia, a música ficou para segundo plano, nós éramos precisos noutro sítio e independentemente das profissões que temos e, não estou só a falar dos profissionais de saúde, mas a nós foi-nos exigido que nos dedicássemos àquilo e foi o que procurámos fazer.
Quando houve margem para nos dedicarmos à música, voltámos a dedicar-nos a 100% e há dois focos diferentes, consoante a altura do dia, às vezes é assim: de manhã uma coisa e à noite outra. Como tantas outras pessoas que acumulam profissões…
MS: Por falar em fatos, de onde surgiu a ideia de se apresentarem nos concertos sempre de fato?
QM: (Risos) Nós percebemos que não tínhamos um estilo definido, então, para nós o estilo era ir de fato, pensámos: “Vamos tentar dar aqui uma imagem de seriedade que se calhar não temos muita…” E o nosso primeiro concerto foi num sarau de ballet, não era fácil aparecermos de calças rasgadas e t-shirt e, o visual mais conveniente era um estilo formal chique, no mínimo! (risos). Pretendemos adaptar-nos ao evento, mas depois gostámos da imagem e decidimos mantê-la. Mas, essencialmente foi esse o motivo, naquele dia fez sentido e depois achámos que a imagem já estava criada… Já tínhamos 10 seguidores! (risos) Uma vez li que “um fato faz maravilhas por qualquer homem” e a verdade é que qualquer homem depois de vestir um fato ganha uma seriedade incrível!
MS: Alguns de vocês iniciaram-se no mundo da música antes da entrada na faculdade, mas foi lá que se juntaram e formaram um grupo. Qual o impacto que a faculdade teve a nível musical?
QM: Teve tanto ou mais impacto do que outros grupos a que pertencemos antes da faculdade. Se nós antes da faculdade, estivemos em orquestras, em bandas de rock, escolas privadas… A verdade é que quando chegamos à faculdade, estamos num patamar intelectual e de criatividade muito diferente. É provavelmente a fase da vida em que estamos mais disponíveis e, mais abertos, a todas as influências, e, por isso, a música que nos habituamos a ouvir nessa fase e, que aprendemos nessa altura, provavelmente influenciou-nos de forma muito diferente, quando comparada com qualquer passagem anterior. Nessa fase pertencemos a grupos de fado, orquestras clássicas, tunas… Tudo isso fez parte e influenciou a nossa sonoridade e por isso, acho que teve mais influência do que as bandas a que pertencemos no passado. Nesta fase estamos mais abertos ao mundo, e talvez por isso, tenhamos enveredado na composição de músicas em português. Porque era aquilo a que estávamos mais expostos e quando nos conhecemos começamos a tocar música à volta da mesa, em bares, habituámo-nos a tocar músicas portuguesas, que eram do conhecimento e do gosto de todos…
MS: Portanto, começaram a tocar músicas que chegam facilmente a toda a gente e, no fundo, isso representa o vosso estilo musical atualmente…
QM: Sim, mas na altura não pensamos em tocar para um público. Tocávamos entre nós, músicas que conhecíamos e foram as músicas que levámos ao nosso primeiro concerto, no qual só tocámos covers, seis ou sete músicas que eram as que tocávamos antes à volta de uma mesa com meia dúzia de finos em cima e, era de tal forma esta a rotina, que combinávamos os concertos assim: “Amanhã às 18h naquele sítio, só não temos os finos no palco, mas… de resto é igual” (risos).
MS: Relativamente ao processo criativo, como é feita a composição das músicas? Todos participam? É fácil chegarem a um consenso entre todos?
QM: De uma forma geral, a parte lírica começa inevitavelmente pelo Tiago Nogueira. A parte musical começa por melodias que são lançadas por todos… Às vezes surge uma letra e uma música, às vezes surge só uma melodia que pede um tema específico.
Lembram-se do Pra Frente é Que é Lisboa? (fala para o grupo). Sim sim, eu tinha uma melodia que me soava bem, depois mostrei-vos uma segunda melodia e tu disseste (nome da pessoa) que ficava bem juntar as duas, depois mostrámos ao Tiago e ele ainda acrescentou uma terceira parte e uma letra à música. No fundo é democrático, tem sempre o contributo de todos. Às vezes musculado, uns entram numa fase mais inicial e outros numa fase mais atrasada do processo de criação, mas tem sempre a mão de todos e essencialmente a cabeça de todos. Acho que podemos dizer que é um trabalho repartido por seis.
MS: Em plena pandemia lançam um álbum e esgotam um concerto em 72h… A pandemia acelerou ou atrasou a conclusão do álbum?
QM: Suspendeu! (risos) O álbum já estava fechado antes da pandemia, era para ter saído no início de abril.
Desde janeiro que o álbum está fechado, mas depois houve o confinamento e o álbum tinha dez temas, e o período de confinamento aguçou o processo criativo, e nasceram cinco ou seis músicas novas… Uma delas tem muito a ver com este período, chama-se Coisas Tão Bonitas e fala de coisas que guardamos no peito para dizer um dia e achámos que tinha muito a ver com este período de silêncio e decidimos incluí-la neste álbum, e depois do álbum já estar a caminho da fábrica, figuradamente, falámos com o nosso produtor, o João Só, e dissemos-lhe que tínhamos mais um tema que queríamos incluir e como o disco só ia estar disponível em setembro… Queríamos parar agora a produção do disco e voltar ao estúdio para gravar. Ele disse um palavrão, insultou-nos de várias formas, elegantemente, mas insultando (risos), e acabámos por combinar que em julho revíamos a situação, até porque naquela fase não podíamos voltar ao estúdio, era proibido, e gravámos e juntámos esta canção que nos fez sentido incluir. As restantes que criámos virão no próximo trabalho.
MS: Recentemente retomaram o contacto com o público, voltaram aos concertos, sentiram que o público já sentia falta de eventos musicais, que precisava de música?
QM: Nós tivemos um primeiro concerto em Coimbra em julho, mas já foi adaptado ao nosso novo conceito. Faro foi o segundo concerto, não tivemos muito mais… Mas, sim, sentiu-se que já existia saudades deste tipo de eventos, mas não acho que isso só se veja nestes concertos. O público no geral tem falta de voltar a divertir-se, na música, no desporto, ou outras áreas do entretenimento. As pessoas estão com uma ânsia grande em voltar a presenciar a arte, a cultura, e estes dois concertos só vieram provar, que é possível voltar à atividade nestes novos moldes, apesar de não ser o que desejávamos, nem para nós nem para ninguém, mas atendendo às circunstâncias, é muito bom poder-nos voltar a juntar e dar concertos e as pessoas poderem estar à vontade, sem medo de correr riscos desnecessários. E, até agora, das propostas que recebemos para dar este tipo de concertos, estava tudo muito bem pensado, bem organizado e, nós enquanto pessoas conscientes não aceitaríamos fazê-los, até percebermos os moldes em que seriam dinamizados. E, até agora, foram todos bem feitos e há condições para fazer muitos mais, se as pessoas tiverem esse interesse.
MS: A música que fazem distingue-se do género de canções mais ouvidas geralmente pelo público, existe algum segredo para cativar o público?
QM: Sim, dinheiro por baixo da mesa (risos). É óbvio que ninguém faz música apenas a pensar no seu gosto pessoal, pensa-se sempre naquilo que os outros vão gostar. Mas, o facto de não sermos exclusivamente músicos, tem nos dado dado liberdade para não fazermos exclusivamente opções condicionadas pela ânsia de sucesso e temos procurado manter-nos fieis às nossas preferências musicais. Por outro lado, o facto de sermos de fora do mundo da música, aproxima-nos mais do ouvinte do que das pessoas que estudaram música. Muitas vezes o que acontece é que as pessoas ouvem uma canção honesta, simples, sem serem precisos exercícios de complexidade e, talvez por isso, se identifiquem. Mas, realmente para nós continua a ser uma surpresa, como é que uma música com um acordeão e, um violino chega a uma das principais rádios do país ou, chega a tanta gente quando lançamos um CD. Continua a ser um mistério, mas, atualmente, existe da parte do público, um interesse acrescido em ouvir sonoridades mais tradicionais. Acho que houve uma altura em que se esteve mais desligado das raízes musicais portuguesas e, nos últimos tempos, há vários projetos que começaram a surgir nesse sentido. Lembro-me dos Deolinda, Diabo na Cruz, ou fadistas como a Marisa, Ana Moura, Raquel Tavares… que ao fazerem um meio caminho entre o que é o tradicional e a música pop, conseguem cativar muita gente. E acho que é neste meio caminho, entre a música tradicional e a música pop que nós nos encontramos. Estamos na terra de ninguém!
MS: A minha próxima questão vai ao encontro deste ponto. Sentem essa mudança de paradigma nas preferências do público, nomeadamente no público mais jovem?
QM: Sentimos essa mudança, mas nós próprios também nos sentimos um pouco deslocados das preferências, porque há coisas que nos passam ao lado, talvez por falta de tempo para avaliar. Mas, a verdade é que agora, em idades cada vez mais jovens, começa-se a procurar estilos musicais porque o acesso é muito facilitado. Antigamente era preciso ir comprar um CD, hoje a música entra- -nos pela casa adentro. E, por isso, é mais fácil hoje um artista chegar a mais gente. Contudo, por outro lado, existe muito mais concorrência, há muito mais oferta… As coisas mudaram muito relativamente à nossa infância, e por isso os jovens hoje ouvem muitas músicas diferentes porque têm acesso a muitas músicas diferentes. Na nossa infância tínhamos acesso ao que estava nas lojas, e lá havia discos portugueses e, depois havia uma secção com música estrangeira, maioritariamente pop. Não havia o acesso facilitado que há agora, lembro-me de parar para assistir ao Top + (programa da RTP) que dava ao sábado, para conhecer novas músicas. Hoje se eu quiser ouvir música do Sri Lanka, basta-me pesquisá-la. Atualmente, a oferta é de tal ordem que, os jovens podem perceber mais cedo de que tipo de música gostam. O próprio mercado está diferente, antigamente toda a gente lançava um álbum, hoje há muitos artistas que nem lançam álbuns! Lançam singles de forma individual, portanto o conceito de disco está a perder-se.
MS: Recentemente gravaram uma música com o Carlão. Como descrevem a experiência?
QM: Foi genial! Para nós foi bom, para o Carlão nem tanto… Tou a brincar! (risos) Nós já tínhamos a música feita há dois ou três anos, e logo naquela altura pensámos: “Isto ficava tão fixe na voz do Carlão!” Mas, nós não tínhamos qualquer ligação com ele. E também achámos que ele não quereria gravar nada connosco. Quando começámos a gravar esta música, O Bom Rapaz, fizemos aquele comentário e o João Só estava no estúdio e disse: “Por acaso era fixe, querem que fale com ele?” E nós: “Como assim?! Claro que queremos!!”. Ele falou com o Carlão, que na altura não pôde atender, e por isso eles falaram mais tarde, depois o João Só contou-nos que ele nos conhecia e gostava das nossas músicas, por isso aceitou ouvir a música, e experimentar, se o resultado nos agradasse, gravávamos. E quando ele mandou, achámos genial! A voz dele mudou a música da noite para o dia e, depois dele gravar, acabámos por refazer a música em torno disso, porque não fazia sentido mantê-la no registo original. O Carlão tem uma presença e um carisma insuperáveis, não há nenhuma voz no país que se compare à dele. Assim que ouvimos a versão com a voz dele, percebemos que tínhamos algo muito interessante em mãos e, refizemos a música toda e ainda bem que o fizemos.
MS: A propósito de duetos acham que vivemos tempos em que começam a surgir alguns duetos à partida improváveis? Temos o exemplo do Agir com a Ana Moura… registos totalmente diferentes.
QM: É verdade! Há uns anos essa mistura não acontecia, era mais comum na música brasileira. Eu acho que é um reconhecimento entre os pares, perceber que, se se gosta da música que outro artista faz, porque não gravar uma música em conjunto? E ainda bem que isto começou a acontecer! Começou com uma manobra de marketing de uma empresa de comunicação, mas depois percebeu-se que o público gostava e que estas combinações, por serem inesperadas funcionam estranhamente bem. Lembro-me de outros duetos à partida inesperados na música portuguesa e que resultaram muito bem, nomeadamente os HMB com a Carminho… Estas combinações creio que enriquecem a música, que deveria ser um lugar de partilha, não tem de ser um lugar de competição, há lugar para todos, cada um com o seu público e, é comum alguém gostar de um músico e depois não gostar de outro, faz parte. Acho que as pessoas também já perceberam que estas experiências enriquecem a música e, por isso são combinações para manter.
MS: No futuro com que músicos portugueses gostariam de compor ou gravar?
QM: Uma boa pergunta! Mas, é um bocado ingrato sermos só três a falar nisto, porque de certeza que os outros três elementos teriam a sua opinião a dar. Contudo, acho que é consensual que há três ou quatro referências incontornáveis, tal como Rui Veloso, uma músico transversal e que crescemos a ouvi-lo, Miguel Araújo mais recente, ou António Zambujo, com quem já tivemos o prazer de tocar, mas ainda não tivemos a oportunidade de gravar, só partilhámos palco. No âmbito das mulheres, há pouco tempo lançámos um repto à Carminho, que acabou por não se concretizar por impossibilidade de datas, mas eventualmente poderá vir a acontecer.
A Bárbara Tinoco é nossa amiga e merece esta menção, mas há muitos outros… E não excluímos ninguém! Reconhecemos que todos têm o seu lugar e poderão haver nomes que ninguém veria associados a nós, mas que nós não excluímos. Nós estamos recetivos, às vezes, depende do tipo de música que estamos a gravar e que pede uma voz especifica, imaginamos aquela pessoa a gravar aquela música, como aconteceu com o Carlão. Se nós não temos nada contra ninguém, também não devemos excluir ninguém desta equação. Mas para concluir, apesar de não ser português, gostávamos de trabalhar com o Tiago Iorc, não é muito distante de nós, mas achamos que seria um combinação interessante, era um artista muito bem vindo!
MS: Como estudantes que foram, quais os conselhos que gostariam de deixar aos estudantes de medicina ou de engenharia que são as vossas áreas de formação?
QM: Estudem! (risos) Agora a sério, a mensagem que gostaríamos de deixar é que aproveitem! Não só para aprender o necessário para desempenhar a profissão, mas que aproveitem aqueles que serão provavelmente os melhores anos da vida de alguém. A vida académica não se esgota nas aulas nem no estudo, mas o sentido de responsabilidade de estar no Ensino Superior deve ser sentido, sabendo que se estamos na faculdade é para formar profissionais, contudo, o que se aprende nesta fase não é o suficiente para nos sentirmos os melhores profissionais do mundo, ao fim de um ou dois anos de carreira, não vai acontecer. O mundo está um bocado apático, está a precisar de nova energia e acho que essa energia se consegue à custa destes gostos extra laborais, extra estudo… Das melhores coisas que pode haver é explorar todos estes gostos paralelos, ninguém tem de ter só uma profissão e nós somos exemplo disso e, quanto mais nos enriquecermos, mais enriquecemos o mundo à nossa volta. Nós tínhamos colegas de curso que eram atletas olímpicos e tinham uma carga horária e uma exigência inacreditável, que provam que a gestão de tempo é algo muito importante e que não há impossíveis. Precisamos apenas de mudar o chip, quando estamos em âmbitos diferentes para que o foco seja 100% e tentar que uma coisa não influencie a outra… Com muito boa vontade consegue-se tudo e o apoio entre colegas é muito importante! Nós temos tido a sorte de ter colegas e patrões que têm percebido a importância disto para nós e, que nos ajudam a minimizar os danos de parte a parte e depois temos o prazer de ter alguns deles nos nossos concertos! Ah! E em relação a um conselho prático, quando estiverem a estudar desliguem as notificações do Whatsapp, ponham em silêncio, não façam scroll no Instagram, (risos) a sério, agendem determinado tempo para cada coisa e assim os dias parece que ganham horas…
MS: Aos jovens que querem colocar os Pontos nos I´s nos seus sonhos e seguir o mundo da música, que conselhos dariam?
QM: Não sei se somos as melhores pessoas para dar conselhos nessa área (risos). A sério, porque nós caímos aqui completamente por acaso… Mas, em todas as áreas do mundo, para cada pessoa bem sucedida, há 100 a trabalhar totalmente empenhadas que não conseguem alcançar o sucesso. Se falarem com o Bolt e perguntarem qual é o segredo dele para ser bem sucedido, ele dirá “trabalhar, trabalhar, trabalhar”, e eu digo “certo, e quantos trabalham, trabalham, trabalham e não conseguem ser bem sucedidos?”. Não é só uma questão de trabalho ou talento, é também uma questão de sorte e, às vezes, ter ao lado as pessoas certas, no momento certo. Agora claro, quem desistir nunca vai lá chegar! É preciso persistência, força de vontade e o sucesso não é, de forma alguma, referência para aquilo que a pessoa vale. É sempre preciso acreditar no que se vale. Acreditar que estamos a fazer algo que irá chegar às pessoas, que terá impacto na sua vida e, por isso, fizemos sempre questão de querer mais, mas claro que como nós há mais bandas e pessoas mais talentosas. Mas, a maior dica é não desistir, acreditar que um dia vamos ter aquela pontinha de sorte. E quando estamos a começar não precisamos de uma grande organização, grandes budget, comecem por baixo, passo a passo, perceber que as coisas levam tempo e que é preciso tempo. Não é por começarem com as melhores chuteiras que vão jogar melhor, normalmente quem tem as melhores chuteiras é quem joga pior… O mundo está cheio de histórias assim! Primeiro é preciso o conteúdo e, depois a forma.